quarta-feira, 3 de julho de 2013
segunda-feira, 1 de abril de 2013
Um lindo dia
Hoje Yuri Tripodi, um presente em forma de aluno esse semestre em Estudos das Subjetividades, fez uma performance em sala de aula inspirada na história de Gisberta como parte de um trabalho sobre Foucault e Deleuze. Foi lindo, me emocionei, chorei.
No atual momento em que vivemos, tudo isso tem um significado muito grande para um professor de um componente como esse, dentro de um projeto como do IHAC, entre tantas coisas. É claro que lembrei e comentei de Bethânia em http://www.youtube.com/watch?v=_oDWUlFuiCI
Obrigado querido, você produziu um dia muito especial.
domingo, 31 de março de 2013
aviso final
Pessoas
na aula desta segunda-feira, dia 1º de abril, todas deverão entregar os trabalhos finais. faremos um bate papo sobre os trabalhos e na turma da noite teremos a performance de um aluno. é a forma como ele apresentará o seu trabalho, além de ter produzido um texto.
abrs
sexta-feira, 15 de março de 2013
AVISO URGENTE - turma da tarde
Oi pessoas
Raquel não poderá estar em sala de aula na próxima segunda-feira de tarde, dia 18, para orientar os trabalhos e eu estarei, como disse, eu uma reunião em Brasília. Por isso, a turma da tarde mande suas dúvidas para o mail da Raquel ou vá na aula da noite, na sala 203, para solucionar dúvidas com ela. Na próxima semana, dia 25, eu estarei nas turmas para a última semana de orientações.
O mail da Raquel é raquelflorence@gmail.com
beijos, leandro
Raquel não poderá estar em sala de aula na próxima segunda-feira de tarde, dia 18, para orientar os trabalhos e eu estarei, como disse, eu uma reunião em Brasília. Por isso, a turma da tarde mande suas dúvidas para o mail da Raquel ou vá na aula da noite, na sala 203, para solucionar dúvidas com ela. Na próxima semana, dia 25, eu estarei nas turmas para a última semana de orientações.
O mail da Raquel é raquelflorence@gmail.com
beijos, leandro
segunda-feira, 11 de março de 2013
E assim fechamos o nosso semestre
E assim fechei hoje as aulas do semestre de estudos das subjetividades ao falar um pouquinho de minha vida e lembrar: “Nunca perca sua graça, isto é, os poderes de uma canção” (Deleuze, em carta para Suely Rolnik).
http://www.youtube.com/watch?v=9--MWT-hEFA
Endereço do meu blog
Pessoas, para quem ainda não conhece, o meu blog pode ser acessado em http://www.ibahia.com/a/blogs/sexualidade/
Lá vcs podem conferir como me aproprio de alguns conceitos de Freud, Foucault, Deleuze, Butler e outros autores/as
abrs
Lá vcs podem conferir como me aproprio de alguns conceitos de Freud, Foucault, Deleuze, Butler e outros autores/as
abrs
Texto lido em sala hoje
Análise de conto de Machado de Assis através de reflexões de Deleuze e Cia.
http://www.scielo.br/pdf/pe/v5n1/v5n1a03.pdf
http://www.scielo.br/pdf/pe/v5n1/v5n1a03.pdf
quinta-feira, 7 de março de 2013
Nosso último texto
Oi pessoas
o nosso último texto, a ser discutido na próxima segunda, dia 11 de março, está em http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/deleuze-esquizoanalista/
o nosso último texto, a ser discutido na próxima segunda, dia 11 de março, está em http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/deleuze-esquizoanalista/
terça-feira, 5 de março de 2013
mais um trabalho mb
Rafael Rodrigues
Introdução
O presente trabalho
busca analisar o impacto das discussões em sala, textos lidos e filmes
visualizados sobre a minha subjetividade, a partir do componente Estudo das
Subjetividades. O trabalho está dividido em etapas, sendo que cada uma analisa
esse impacto a partir de cada aula e sua respectiva leitura. Em alguns momentos
trarei, para melhor contextualizar, tanto momentos da minha vida, como o que
foi discutido em sala.
Estudo das Subjetividades – 03/12
O complexo de Édipo criado por Freud realmente surpreende e rompe
barreiras e tabus. Pensar a relação com os pais como uma relação onde existe
desejo sexual seria inimaginável pra qualquer um. “O complexo de Édipo não é
uma história de amor e ódio entre pais e filhos, é uma história de sexo, isto
é, uma história de corpos que sentem prazer em se acariciar, se beijar, se
morder”. Pra mim, a teoria do Édipo parece se encaixar em algumas coisas.
Sempre me perguntei de onde surgia tanta repressão dos desejos sexuais do ser
humano. Para Freud, começa na infância, quando reprimimos nosso desejo pelos
nossos pais. Claro, que na nossa mente atual, parece impossível pensar nesse
tipo de desejo quando crianças, principalmente se tratando de nossos pais. Mas
por que não? Talvez essa repressão de quando criança tenha sido tão forte, que
tenhamos até dificuldade de pensar nisso hoje. O autor do texto da aula de
hoje diz que o Édipo é um conflito entre
a exaltação de desejar e o medo de se consumir nas chamas do desejo. E pensando
bem, somos assim até hoje, como adultos. Vivemos constantemente numa gangorra
entre reprimir nossos desejos e se entregar a eles, mesmo que de forma
escondida e sentindo culpa. A base da nossa sociedade é o refreamento de nossos
impulsos. A teoria diz que é no Édipo que desenvolvemos o pudor, a culpa e o
senso moral. E é exatamente a sexualidade que mais nos traz esses sentimentos.
Temos medo dela, de mostra-la, e o Édipo, pelo menos pra mim, parece uma explicação
que fez sentido. Não que eu vá ser grande defensor dela, mas só acho que faz
sentido mesmo.
Por exemplo, ele diz que o menino
no Édipo rivaliza com o pai. Me pergunto se a minha relação com meu pai, que de
certa é de rivalidade, se deve por conta do Édipo. Nunca consegui explicar
direito a mim mesmo tal problema, mas nessa teoria, consigo dar sentido a ele.
Mesmo assim, realmente não consigo imaginar o menino tendo medo de ser
castrado. Mas parando pra pensar no exemplo do futebol (jogadores na barreira),
porque será que é o penis a parte que mais protegemos no corpo?
Sempre observei também como os
homens sempre são mais próximos da mãe, e as mulheres do pai. Esses dias estava
observando a relação de minha namorada com os pais. É interessante ver como com
o pai ela abraça e beija muito mais do que o faz com a mãe. Será que é por
conta de algum desejo sexual da infância, que nem temos a menor ideia da
existência? E o mesmo vale pra mim, que sou mais próximo de minha mãe.
Ainda me pergunto como será que
se desenvolvem os problemas de relacionamentos posteriores ao Édipo, como
homens que tem dificuldade de relacionamento, por exemplo. Que tipo de relação
com esse desejo com os pais gera esses problemas depois. O texto diz que é a
partir do Édipo que se forma a identidade sexual do homem. E sobre mim, me
pergunto se a minha timidez tem alguma coisa a ver com isso também. Penso que
pode ser por alguma dificuldade na relação com minha mãe. Porque, pensando bem,
sou mais próximo dela do que de meu pai, mas nem sou tão próximo assim de minha
mãe. Na verdade, sou meio distante dos dois. Talvez por isso seja distante das
pessoas, em geral. Mas nem sei se isso tem a ver com o Édipo.
Estudos das Subjetividades – 10/12
Hoje assistimos ao filme Cisne Negro. O propósito era analisar, a partir
da história da protagonista do filme, o Complexo de Édipo na menina. Essa
protagonista, Nina, tinha claramente dificuldade de viver sua sexualidade, que
foi completamente reprimida, graças a sua mãe. A mãe, frustrada com sua própria
carreira como bailarina, sonha que a filha viva a vida que ela não conseguiu,
como bailarina de grande sucesso. Tem êxito até certo ponto, pois a menina
realmente sonha com tal carreira de sucesso, e em parte já a tinha mesmo antes
de conseguir o papel da Cisne Rainha. Porém, pra conseguir esse papel, ela vai
precisar começar a viver a sexualidade que foi tão reprimida. Talvez a menina
não tenha a sexualidade aflorada também pela ausência de um pai, já que para
Freud, o pai é símbolo de desejo da menina em sua infância. Além dessa
ausência, a mãe impede que esses desejos surjam, para assim, poder ter um maior
controle sobre os sonhos da menina. Em todo o filme, a mãe aparece como aquela
que impede a menina de sexualizar. Com a ajuda de Lily, e principalmente do
diretor do balé, que irá simbolizar o papel do pai, daquele que desperta a
sexualidade nela, ela passará a sentir mais o desejo de corpo. Porém, ela não
aguenta tal mudança, e enlouquece, passando a ter varias alucinações.
Sem ter contato com essa teoria,
é difícil imaginar algum tipo de relação de sexualidade com nossos pais. Pra
mim a teoria parece fazer certo sentido quando por exemplo, presto atenção em
minha namorada. Realmente vejo que ela tem uma proximidade muito maior com o
pai. Eles se tocam, se abraçam e beijam com muito mais frequência do que ela
faz com a mãe. Freud diz que a menina rivaliza com a mãe, e realmente, se
prestar atenção, acho que ela de alguma forma rivaliza realmente com a mãe,
assim como consigo me enxergar rivalizando com meu pai. E ao mesmo tempo,
enxergo a todo tempo como as crianças parecem gostar mais do pai de sexo
oposto. Minha mãe essa semana me contou de um casal amigo dele que estava
brigando, quando a filha de 4 anos interrompeu e disse para a mãe, “Para de
brigar com ele, se não eu vou embora com meu pai”. Ela não falou de uma forma
como se realmente fosse embora com ele, mas fico pensando porque ela prefere ir
com o pai do que a mão. E aí o Édipo parece fazer sentido mesmo.
Me parece que pensar uma
sexualidade relacionada aos pais, para muita gente, tira um pouco da beleza que
temos em mente do que deveria ser a relação perfeita com nossos pais, por isso
muitas pessoas parecem resistir as ideias dessa teoria.
O que mais me fez refletir nessa
aula de hoje foi a observação feita pela Raquel no final. Por mais louca que
possa parecer, a teoria de Freud parece fazer sentido quando tentamos aplica-la
na vida real. Mas outras teorias parecem também fazer sentido quando aplicadas.
A grande questão é que tais teorias buscam explicar algo que provavelmente
nunca saberemos realmente se é verdadeiro ou não. O que se pode fazer é aplicar
uma teoria, que pode funcionar ou não. E mesmo que funcione, não significa que
ela dá a explicação final para tal problema.
Estudo das Subjetividades – 17/12
De inicio, debatemos sobre como poder trazer as ideias do texto para a
realidade. Mais especificamente, sobre o caso da matança na escola americana
noticiada nessa semana. Nos perguntamos, “o que será que leva um individuo a
cometer um ato como esse?”. A resposta é realmente muito difícil. Uma pessoa
trouxe uma ideia muito interessante sobre a influencia da cultura do próprio
país sobre o individuo. Os EUA sempre tiveram uma cultura armamentista muito
forte, e é comum para eles verem soldados matando uma série de pessoas em
guerras e serem tidos como heróis. Isso em si já influencia a pessoa a cometer
tal ato de violência. Mas ainda assim, é necessário ir muito mais longe para
chegar a algo mais conclusivo. No próprio país atos como esse já aconteceram
diversas vezes. Em geral, o criminoso acaba tornando-se quase uma celebridade,
e tem sua história contada e recontada diversas vezes pela mídia. Por isso, acredito
ser esse um ato desesperado de alguem que quer chamar a atenção, e mostrar a
todos que está sofrendo muito. O que se tem dito é que o autor do crime era uma
pessoa comum, mas que era quieto e isolado. O isolamento em si é uma das formas
citadas por Freud para evitar o sofrimento, pois para alguns, relacionar-se com
pessoas é de um sofrimento muito grande. Porém, mesmo assim, o sofrimento irá
continuar existindo, pois a pessoa irá sentir-se invisível na sociedade. Por
isso, acredito eu ter sido esse um ato para chamar atenção ao seu sofrimento, o
qual a pessoa não conseguia mais suportar.
Para mim, esse foi o texto de
Freud que mais me chamou a atenção até o momento. Consigo observar em mim mesmo
todas as formas de escapar do sofrimento citadas por ele, em algum momento da
minha vida. Pela minha dificuldade de relacionamento, me vejo muitas vezes
buscando isolamento como forma de evitar tal sofrimento. Consigo enxergar
também a saciação e o deslocamento dos instintos como forma de obter prazer em
diversos momentos de minha vida. Mesmo o sentimento amoroso e o uso de
químicas, já utilizei como meio de fugir do sofrimento em outros momentos.
Freud diz que a vida é seguida sempre pelo principio de buscar o prazer e
evitar o sofrimento, e nesse ponto concordo completamente com ele.
Trazer as ideias de Freud para o
nosso momento atual é extremamente interessante. As formas de buscar prazer e
evitar sofrimento podem ter mudado um pouco, mas a ideia principal do texto
pode ser facilmente visualizada em nossa sociedade. Com a saída da religião
como centro da sociedade, mudamos do medo do gozo para a um estimulo ao gozo
incessante. Segundo Freud, para alguns a busca do prazer torna-se mais forte do
que evitar o prazer, enquanto para outros, o contrário é verdadeiro. E é essa a
mudança que vemos na sociedade atual. Enquanto tínhamos antigamente a religião,
que nos propunha mais evitar o sofrimento do que buscar o prazer, hoje a busca
por esse prazer é mais intensa, e mais aceita socialmente, apesar de ainda
haverem varias restrições, que vão diminuindo cada vez mais.
Estudo das
Subjetividades – 07/01
Seria o amor então um caminho para a felicidade? Acho que o amor sexual,
entre duas pessoas, traz alguma satisfação, não só pela possibilidade de
sexualizar, como traz Freud, mas dá também porque nos faz sentir mais
protegidos da solidão. Acho que temos essa tendência a nos unir em pares porque
achamos que assim não nos sentiremos sozinhos, e ninguém nos verá como alguém
solitário. Por isso mantemos nossas relações mesmo quando não há paixão. Pelo
medo de ser e parecer sozinho. Mas, como Freud mesmo coloca, o amor nos traz
satisfação, mas também nos deixa expostos ao sofrimento, Já que podemos perder
esse parceiro ou nos descobrirmos infelizes nessa relação. E além do mais,
ainda temos que encarar uma série de limitações a esse amor feitas pela
sociedade. Limitações essas que nós mesmos aceitamos e fazemos parte. Por
exemplo, esses dias assisti um seriado de TV onde havia um casal que parecia
bastante feliz, até que num momento o homem diz para sua mulher que não quer
casar-se com ela (veja bem, ele não diz que não quer ter uma relação longa com
ela, mas apenas que não quer consumar a relação numa cerimônia pública chamada
casamento). Daí então, ela resolve terminar a relação. Vejo isso como um ótimo
exemplo de como as relações amorosas são construídas de forma que parecem já
estar estabelecidas antes mesmo do casal unir-se. E parece existir a cobrança até mesmo do
próprio casal, que quer se encaixar nisso. Fugir de tais padrões provavelmente
faria o casal não só ser reprimidos de alguma forma, mas eles próprios se
sentiriam estranhos.
Bom, mas e a outra concepção de
amor que Freud traz a do amor por todos os indivíduos? Mas esse parece ser algo
tão difícil para nós. Dada a minha tendência a não acreditar na felicidade na
primeira forma citada, acho que acredito mais nessa última.
E quanto a nossa tendência a
agressividade? Ao se perguntar como a cultura inibe tal agressividade, Freud
chega a conclusões muito interessantes. Pra mim é bem claro que isso acontece
através da ameaça de punição, que pode ser desde as punições legais, da justiça
ou a ameaça da “perda de amor”, ou seja, o medo de sermos rejeitados pela
sociedade ou por parte dela. Um político corrupto, por exemplo, vai ter medo de
ser descoberto, mesmo sabendo que provavelmente nem será punido pela justiça,
mas por temer a rejeição da sociedade. Temos necessidade não só de vivermos em
sociedade, mas de nos sentirmos aceitos por ela. Por isso muitas vezes nos encaixamos
em padrões que podem parecer irracionais. Ainda mais interessante é pensar na
formação do Super-eu. Seria uma parte de nossa consciência que monitora nossos
pensamentos. Ou seja, podemos nos sentir culpados não só por nossas ações, mas
também por nossos pensamentos. O próprio conceito cristão do pecado, em geral
passa pela culpa pelos nossos pensamentos. Admito que perceber a existência de
tal parte da consciência me faz perceber o quanto de culpa sinto por tantos
pensamentos. Desde a atração sexual até os sentimentos de raiva. E esse
Super-eu pode ir mais além, dependendo do que acreditamos ser o ideal para
minha vida. Por exemplo, se acredito que não devo sentir raiva de outras
pessoas, porque isso não me faz bem, provavelmente passarei a me sentir culpado
toda vez que sentir. Mas o que isso faz é apenas aumentar esse sentimento.
Nosso problema é que não sabemos nenhuma outra forma de lidar com esses
sentimentos, então apenas os reprimimos. E quanta infelicidade isso nos gera.
Talvez seja por isso que criamos nossas mascaras e modos de agir não
verdadeiros, para esconder e não deixar que os outros percebam esses
pensamentos que consideramos errados. Daí gostarmos também de fingir que somos
felizes a todo o tempo.
Estudo das
Subjetividades – 07/01
"’Não deveria ter trabalhado tanto’, diz um dos pacientes.
‘Desejaria ter ficado em contato com meus amigos’, ‘Desejaria ter-me permitido
ser mais feliz’. Há cem anos, ou 50,
quem sabe, sem dúvida seriam outros os arrependimentos terminais. ‘Gostaria de
ter sido mais útil à minha pátria’, diria alguém. ‘Gostaria de ter deixado um
patrimônio maior para meus descendentes’, poderia suspirar o pai de família.
‘Deveria ter sido mais obediente a Deus’, confessaria um terceiro.” Esse é um
pedaço que retirei do artigo que Marcelo Coelho, “Arrependimentos terminais”,
que para mim resume bem a mudança de pensamento da sociedade do século XXI.
“Menos do que morrer com a sensação do nome limpo e do dever cumprido, morre-se
com a sensação de um ego insatisfeito.”. Vivemos agora numa sociedade onde o
mais importante para se atingir a felicidade é aproveitar os “prazeres da
vida”. E todos nós somos influenciados por isso. Me vejo naquele exemplo de
Zizek, em que o pai se orgulha por seu filho se ele se relaciona com várias mulheres,
ou se decepciona se ele parece não conseguir tal “feito”. Me lembro, por
exemplo, de uma época da minha adolescência em que eu passei a gostar muito de
ficar em casa nos fim de semana e ficar lendo. Meu pai constantemente viria me
dizer, “você tem que sair mais, curtir mais”. E aí, apesar de gostar daquilo
que fazia, me sentia, de alguma forma, culpado por não estar “curtindo” mais a
vida. Também lembro de um amigo meu, quando contei pra ele que tinha virado
vegetariano e que não ia mais beber(bebidas alcoólicas, claro). Ele dizia pra
mim, “você é louco, eu jamais faria algo como isso. Se eu to nessa vida é pra
aproveitar os prazeres que ela me dá”. Ou seja, realmente somos pressionados a
gozarmos o máximo possível desses prazeres. Como Bauman diz, não conseguimos
mais pensar em projetos de vida, em sacrificar um prazer aqui para ter algo
melhor mais à frente. Isso parece ser ideia de alguém que não aproveita a vida
que lhe foi dada.
Talvez isso se dê porque hoje nós
abominamos os conceitos antigos da igreja, que diziam que devemos sacrificar
nossos prazeres por uma vida melhor após a morte. Hoje percebemos que o que
mais importa é ser feliz em vida, e por isso queremos aproveita-la, e ser feliz
agora. Ou também pode ser uma forma de fugir daquele modo de vida que Freud
trouxe em “o mal-estar na civilização”, onde reprimíamos nossos desejos o tempo
todo. Agora vivemos o oposto disso, parece que ainda não encontramos um
equilíbrio no nosso modo de viver.
Daí então, nos forçamos a parecer
felizes o tempo todo para os outros. O grande exemplo para isso é o Facebook.
Queremos o tempo todo postar mensagens bonitas, mostrando para os outros nosso
modo de ser feliz, que eles deveriam aprender, ou colocar fotos em lugares
legais, onde estamos sorrindo. E mesmo apesar de reconhecer isso, às vezes
inconscientemente me vejo caindo nesse padrão. Nesses dias apareceu uma foto
minha com alguns amigos onde todos apareciam sorrindo, menos eu, que por algum
motivo apareci com uma expressão séria. Minha primeira reação, quase que
instintiva, foi querer retirar aquela foto da minha página, mesmo sem nem
racionalizar o motivo para aquilo. Parando para pensar, percebi então, que, na
verdade, estava me sentindo mal porque não estava parecendo estar feliz para os
outros. Bom, resolvi deixa-la, claro. Não quero me importar com o pensamento
dos outros tanto assim.
E então penso, seria o nosso
consumo excessivo um reflexo ou um produtor de tal pensamento? Porque somos
impulsionados o tempo todo, principalmente através das propagandas, a consumir
o máximo possível produtos que nos darão prazer ou nos pouparam esforços para
algum trabalho. A resposta eu não sei. Provavelmente, ambos. Será que será o
próximo passo da sociedade encontrar esse equilíbrio entre o prazer e o
sacrifício? Pessoalmente, acredito que sim, mas é apenas um palpite misturado
com esperança.
mais dois vídeos suely
no final desse vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=oucHPnTdxaE) e início desse vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=a37DLzOG82g) Suely explica um pouco o que entende por "corpo vibrátil"
Dica Suely
Pessoas
mais um texto onde Suely defende a relação entre o movimento antropofágico e o pensamento de deleuze e cia.
http://www.pucsp.br/ nucleodesubjetividade/Textos/ SUELY/Antropesquizoan.pdf
mais um texto onde Suely defende a relação entre o movimento antropofágico e o pensamento de deleuze e cia.
http://www.pucsp.br/
segunda-feira, 4 de março de 2013
Alguns conceitos para entender melhor o texto de Suely Rolnik
Alguns conceitos para entender melhor o texto de Suely
Rolnik
Retirado de ROLNIK, Suely. Cartografia sentimental –
transformações contemporâneas do desejo. Porto Alegre: Sulina/Editora UFRGS,
2011.
Desejo: “consiste no movimento de afetos e de simulação
desses afetos em certas máscaras, movimento gerado no encontro dos corpos (...)
consiste também num movimento contínuo de desencantamento, no qual, ao surgirem
novos afetos, efeito de novos encontros, certas máscaras tornam-se obsoletas;
movimentos de quebra de feitiço; afetos que não existem e máscaras que já
perderam o sentido” (p. 36)
Existem 3 movimentos do desejo.
Primeiro movimento/linha: “o dos afetos, estes não surgiam de
nenhuma espécie de individualidade dos corpos. A própria palavra afetar designa
o efeito da ação de um corpo sobre o outro, em seu encontro. Os afetos,
portanto, não só surgiram entre os corpos – vibráteis, é claro – como,
exatamente por isso, eram fluxos que arrastavam cada um desses corpos para
outros lugares, inéditos: um devir, ou seja, o que as linhas de fuga faziam na
vida das nossas personagens era, exatamente, desindividualizá-las” (p. 57)
Segundo movimento/linha: “o da simulação, era mobilizado
pela perda de sentimento de uma certa figura de mulher, bem como de suas
relações amorosas com o homem. Tratava-se de um movimento de semiotização dos
afetos desterritorializados: um impulso de atualização de uma nova figura de
mulher e suas relações amorosas. As máscaras resultantes desse movimento,
operadores que era dos afetos atuais, constituíam – e constituem -,
literalmente, as máscaras do tempo. Elas são transubjetivas” (p. 58)
Terceiro movimento/linha: é quando formava-se um aglomerado
de máscaras, constituindo novos territórios. E território, no caso, não tinha
nada a ver com nem com terra – circunscrição geográfica – nem com grupo –
circunscrição de pertencimento. Território, ali, designava máscaras, rituais,
balizas de cartografia (...), configurações mais ou menos estáveis que
atravessam terras e grupos os mais variados: são transversais, transculturais”
(p. 58).
“Às vezes pode-se dizer que as linhas são apenas duas (...):
uma linha molecular, inconsciente, invisível, ilimitada, desestabilizadora,
nômade, traçada pelas partículas soltas de afeto (...) e uma linha molar,
consciente, visível, limitada, feita de estabilidade relativa da segmentação
flexível que a simulação vai riscando em sua migração e da segmentação dura dos
territórios em seu sedentarismo” (p. 53).
Micro-política e Macro-política: “não tem nada a ver com o “grande”
(a sociedade, o Estado...o todo) e “pequeno” (o individual, o intraindividual,
o grupal...a parte, a unidade). Não se trata de uma diferença de grau, mas de
natureza. Não se trata de uma diferença de tamanho, escala ou dimensão, mas de
duas espécies radicalmente diferente de lógica. “Macro” é a política do plano
concluído pela terceira linha, do plano dos territórios: mapa. (...) Mapa só
cobre o visível. Aliás, de todo o processo de produção de desejo, só nesse
plano há visibilidade: é o único captável a olho nu. Também só nesse plano é
que individuação forma unidades e a multiplicidade, totalizações. Como havíamos
dito, a segmentação operada por essa linha vai recortando sujeitos, definidos
por oposições binárias do tipo homem/mulher, buguês/proletário, jovem/velho,
branco/negro etc” (p. 59 e 60)
“”Micro” é a política do plano gerado na primeira linha:
cartografia. O princípio da individuação, neste caso, é inteiramente outro: não
há unidades. Há apenas intensidades, com sua longitude e sua latitude; lista de
afetos não subjetivados, determinados pelos agenciamentos que o corpo faz, e,
portanto, inseparáveis de suas relações com o mundo” (p. 60)
Cartografia: “A prática de um cartógrafo diz respeito,
fundamentalmente, às estratégias das formações do desejo no campo social” (p.
65). “O que ele quer é mergulhar na geografia dos afetos e, ao mesmo tempo,
inventar pontes para fazer a sua travessia: pontes de linguagem” (p. 66)
Corpo vibrátil: é a capacidade subcortical de nosso corpo.
Nosso corpo tem duas capacidades. A cortical, “que corresponde a percepção que
nos permite apreender o mundo em suas formas para, em seguida, projetar as
representações de que dispomos, de modo a lhes atribuir sentido”. A
subcortical, “que por conta da repressão nos é mais desconhecida, nos permite
apreender a alteridade em sua condição de campo de forças vivas que nos afetam
e se fazem presentes em nosso corpo sob a forma de sensações. (...) Com ela, o
outro é uma presença que se integra à nossa textura sensível, tornando-se,
assim, parte de nós mesmos” (p. 12)
Um texto disponível na net onde o conceito de corpo vibrátil
está explicado pode ser lido em http://www.pucsp.br/nucleodesubjetividade/Textos/SUELY/Geopolitica.pdf
Esse texto acima é quase o mesmo do prefácio publicado na nova edição
de Cartografia sentimental.
domingo, 3 de março de 2013
vídeos suely
Companhias de nossas aulas de subjetividades amanhã:
https://www.youtube.com/ watch?v=vil8cWpGsIc
https://www.youtube.com/ watch?v=A7foT00UHYI
https://www.youtube.com/ watch?v=0UBJ9KWisaQ
https://www.youtube.com/ watch?v=apTtn-XV4-c
https://www.youtube.com/
https://www.youtube.com/
https://www.youtube.com/
https://www.youtube.com/
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Mais um trabalho que recebeu MB
Naiara
João
é um rapaz de 23 anos, solteiro e mora com seus pais. É um rapaz inteligente,
aparentemente normal e busca perfeição em tudo que faz.
Quando criança, era muito apegado a sua mãe,
adorava imitar seu pai. Apesar de imitá-lo, sentia ciúmes quando o via beijando
sua mãe e como consequência, fazia muitas birras. Sua mãe achava engraçado, e
começava a beijá-lo e a fazer mimos. João sentia como se estivesse flutuando. O
menino fazia de tudo para chamar a atenção da sua adorável mãe.
Muito curioso, ao ver o órgão genital de sua
mãe pela primeira vez, João não entendeu porque era tão diferente do seu, e ao
mesmo tempo aquela diferença o atraía de forma estranha e prazerosa. Aquilo
mexia muito com a sua cabecinha. E quanto mais mimos e carinho sua mãe lhe dava,
ele queria beijá-la e abraçá-la como forma de retribuição pelo carinho que
recebia.
João era um menino muito sapeca, adorava
ficar nu e se exibir para a mãe. Sempre que estava nu, tocava seu pequeno
órgão, e quando ereto, fazia questão de mostrá-lo. Sua mãe não entendia o
porquê desse narcisismo em relação seu pênis.
Essas atitudes do João podem ser explicadas
através do complexo de Édipo. O fato de ele estar com ciúmes, quer dizer que o
mesmo está apaixonado pela mãe e quer afastar seu pai.
Segundo o complexo de Édipo, o pênis atrai a
mão (isso explica, porque João adorava ficar nu e se tocando). Por volta de
três, quatro anos todos os meninos focalizam seu prazer sobre o pênis. Nessa
idade, o órgão peniano torna-se a parte do corpo mais rica em sensações e
impõe-se como a zona erógena dominante, uma vez que o prazer por ele
proporcionado à criança torna-se a referência principal de todos os outros
prazeres corporais. A pregnância imaginária do pênis é tamanha que o menino faz
dele seu objeto narcísico mais precioso, a coisa pela qual tem mais apego e
orgulho de possuir (João, adorava se exibir para a mãe). Assim, tal culto do
pênis eleva o primeiro órgão, ao nível de símbolo do poder absoluto e da força
viril.
Lúcia, a mãe de João, ficaria assustada com essas
explicações. “- Como assim, meu filho apaixonado por mim?” Calma dona Lúcia,
calma. Toda criança (menino/menina) passa pelo mesmo processo, seu filho não é
o único. O complexo de Édipo se faz necessário, pois é através dele que a
criança progressivamente descobre o pudor, descobre o sentimento de culpa, o
senso moral e estabelece sua identidade sexual de homem ou mulher. Lúcia continuou confusa.
Bem,
me deixa explicar melhor. Com quatro anos de idade filho já sente excitação
peniana. Por ter o falo, ele se
julga poderoso e onipotente. Ao mesmo tempo, ele tem vontade de possuí-la e
eliminar o seu marido. João sente prazer em fantasiar seus desejos incestuosos,
mas ele acredita que seu pai o punirá, castrando-o. Ao vê-la nua, ele percebe a
ausência de um pênis, isso faz com que sinta mais medo de ser punido.
Angustiado, prefere renunciar a desejá-la e salvar se pênis. Chega um tempo que
João esquecerá tudo: desejos, fantasias e angústias; nessa fase ele irá
separar-se sexualmente e passa a adotar a moral de vocês. Compreenderá que seu
pai é um homem e você uma mulher e aos poucos, saberá que pertence à linha dos
machos. Lúcia continua assustada: “- Santo Deus! Quanta coisa passando pela
cabeça do meu filhote, que complicação!”.
Por ser uma mãe super dedicada, Lúcia chegava
a exagerar nos cuidados com o seu filho. Tratava-o feito um bebê, mesmo quando
o garoto estava em uma das fases mais complicadas de sua vida: a ADOLESCÊNCIA.
Essa atitude de sua mãe fez com que João se tornasse um garoto um pouco rebelde
e mal humorado. Ele era apaixonado por uma garota da mesma idade e vivia
fantasiando um namoro com ela. Annie, segundo João, era a garota mais linda do
mundo e qualquer pessoa que a namorasse, tiraria a sorte grande. Ele sempre ia
ao clube que ficava próximo à sua casa. Certo dia a encontrou lá, e pela
primeira vez a viu de biquíni. Nossa!Que maravilha, como era linda, João ficou
tão extasiado que nem havia percebido a ereção do seu pênis. Sem reação, foi
pra casa, e não parava de pensar na sua pequena. “Nossa, que sensação! O que
era aquilo?” Ao chegar em casa, foi diretamente pro banheiro, e novamente
lembrou da cena...sentiu a mesma sensação mas agora com uma vontade
incontrolável de se tocar, e quanto mais pensava, mais dava vontade de se
tocar. E foi bom, muito bom. A partir daquele dia, João passou a se masturbar
com frequência e sempre descobria algo novo com a prática da masturbação. Até que um dia foi surpreendido por sua mãe
que ficou horrorizada. Sem saber o que fazer, tentou explicar-se, mas de nada
adiantara. Depois desse flagra, João tentou não se masturbar, mas não
conseguia. Ao mesmo tempo em que sentia prazer durante a masturbação, depois do
gozo, sentia-se culpado, ao lembrar-se da reprovação de sua mãe.
- Lúcia, você era menos conservadora! Você
está punindo seu filho como se ele estivesse cometido um crime. Muito cuidado,
pois se descobriu que o homem se torna neurótico porque não pode suportar a
medida de privação que a sociedade lhe impõe, em prol dos seus ideais
culturais, e concluiu-se então que, se estas exigências fossem bem atenuadas,
isso significaria um retorno a possibilidades de felicidade. Portanto minha
cara, não reprove seu filho, e nem o prive de desfrutar tal prazer. A
masturbação é normal em garotos da idade dele.
Veja bem, seu filho está numa fase de transição, na qual ele deixa de
ser criança e passa a ser um adolescente. Quando criança, ele tem de escolher
proteger você ou o pênis. Lógico que ele escolherá seu pênis e irá abandoná-la.
Ao te renunciar, ele dessexualiza você e o seu marido e recalca desejos,
fantasias e angústias. Aliviado, pode
agora abrir-se a outros objetos desejáveis, mas dessa vez legítimos e adaptados
às suas possibilidades reais (o desejo de possuir Annie). Curiosa para saber o
que se passa na cabeça do seu filho, ela ainda pergunta confusa: “– Isso ainda
é o tal do Édipo”? Exatamente minha cara! O complexo de Édipo terá duas
consequências decisivas na estruturação da personalidade do seu filho: por um
lado o nascimento de uma nova instância psíquica, o supereu, por outro a
confirmação de uma identidade sexual nascida por volta dos dois anos de idade e
afirmada mais solidamente após a puberdade. Nessa fase da puberdade ele
abandona vocês sexualmente e os mantém como objetos de identificação. Ficou mais
claro agora? Espero que sim.
Mesmo maior de idade João nutria o amor que
sentia por Annie. Agora seu namoro não era uma fantasia, era real. Sim, eles
estavam namorando. Ela foi a melhor coisa que acontecera em sua vida. Antes de
começar a namorá-la, João vivia mal humorado e agressivo, principalmente por
sua mãe tratá-lo feito uma criança. Ele não era feliz. Lúcia não entendia o porquê. Seu filho tinha
tudo que qualquer rapaz em sua idade desejara ter: carro do ano, bons amigos,
estudava na melhor escola da cidade, era o melhor aluno da sua turma e poderia
ter a qualquer garota. Mas aí estava o problema, João não queria qualquer
garota, ele queria a garota, Annie, a sua amada. Sempre buscava perfeição em
tudo o que fazia só para chamar a sua atenção. E ela não o notava, não do jeito
que ele queria. Então por mais que tivesse tudo, algo lhe faltava. E ele sofria muito por não ter o amor daquela
pequena. Foi então que tentou suprimir essa falta por caminhos diferentes.
Todos eles foram recomendados pelas escolas da vida e foram trilhados pelos
homens. A satisfação irrestrita de todas as necessidades se apresenta como a
maneira mais tentadora de conduzir a vida, mas significa pôr gozo à frente da
cautela, trazendo logo o seu próprio castigo. Os métodos mais interessantes
para prevenir o sofrimento é apenas sensação, existe somente na medida em que
os sentimos, e nós sentimos em virtude em virtudes de certos arranjos de nosso
organismo. Para libertar-se desse sofrimento, dessa falta que sentia, João
escolheu o método mais cru, mas também mais eficaz: o químico, a intoxicação.
Ninguém penetra inteiramente no seu mecanismo, mas há substâncias de fora do
corpo que, uma vez presentes no sangue e nos tecidos, produzem sensações
imediatas de prazer e também mudam de tal forma as condições de nossa
sensibilidade, que nos tornamos incapazes de acolher impulsos desprazerosos. Os
dois efeitos não só acontecem ao mesmo tempo, como parecem intimamente ligados.
O serviço dos narcóticos na luta pela felicidade e no afastamento da miséria é
tão valorizado como benefício, que tanto indivíduos como povos lhes reservam um
sólido lugar em sua economia libidinal (isso explica porque João começa a usar
drogas, elas compensarão o prazer que ele sentiria ao ter Annie em seus braços).
Sabe-se que com a ajuda desse “afasta-tristeza” podemos nos subtrair à pressão
da realidade a qualquer momento e encontrar refúgio num mundo próprio que tenha
melhores condições se sensibilidade (João sentia-se sufocado por sua mãe
tratá-lo feito criança). É notório que justamente essa característica dos
entorpecentes determina também o seu perigo e nocividade.
Mais do que nunca João precisava de ajuda.
Precisava libertar-se desse vício, ele não lhe causava mais prazer, somente
sofrimento. Estaria disposto a deixar de usar drogas se Annie estivesse ao seu
lado. Sozinho não teria forças, ele sabia disso. Mesmo com sua mãe apoiando-o,
era dele que precisava. Ficou dias sem ir à escola, seus amigos sentiram sua
falta, mas foram incapazes de visitá-lo. Annie também sentira falta do seu
geniozinho. Sim, ela gostava dele, porém não sabia que se seria retribuída já
que o via com diversas garotas ao mesmo tempo. Annie foi a única pessoa a
visitar João, e nem sabia o quanto a sua presença seria importante para a sua recuperação. Ao vê-la em sua casa ficou radiante, acabou
criando coragem para dizer-lhe o quanto
era importante para a sua vida e tudo o que fazia era apenas para chamar a sua atenção; e ela parecia
despercebida e nem o notava. Ela rindo, disse-lhe que tudo o que ele fazia era
somente afastá-la, já que muitas garotas o cortejava e cada dia ele saia com
uma. Esse incidente com o João serviu como ponte para ligá-los. Antes do
acontecido os dois malmente trocavam saudações. Annie passou a visitá-lo com frequência
e ele foi melhorando dia após dia, sentia-se outra pessoa. Ela agora estava do
seu lado, seu porto seguro. Aquele vazio fora preenchido pelo amor que há muito
tempo nutria e só agora fora correspondido. Agora sim descobriu a arte de
viver, estava feliz de verdade, plenamente realizado. Annie surgiu como uma luz
no fim do túnel , melhor dizendo, era a peça chave que faltava para João
alcançar a felicidade, estava satisfeito. Amava e era retribuído. O amor sexual
o proporcionou a mais forte sensação de prazer avassalador. Eles se completavam
em todos os sentidos. Mas João temia que esse sonho bom acabasse, sentia-se
inseguro.
A
descoberta do amor sexual proporcionou a João as mais fortes vivências de
satisfação, deu-lhe realmente o protótipo de felicidade e isso fez com que ele
continuasse a busca de satisfação vital no terreno das relações sexuais,
colocando o erotismo genital no centro da vida (Annie era o seu mundo). O rapaz
se tornou dependente de maneira preocupante, de uma parte do mundo exterior, ou
seja, do objeto amoroso escolhido e fica exposto ao sofrimento máximo quando é
por esta desprezado ou a perde graças a morte ou a infidelidade (essas
possibilidades tiravam a paz de João). O amor sexual é uma relação entre duas
pessoas, na qual uma terceira é talvez supérflua ou importuna, ao passo que a
civilização repousa sobre vínculos entre muitas pessoas. No auge de uma relação
amorosa não há interesse algum pelo resto do mundo: o poder amoroso basta a si
mesmo, não precisa sequer de um filho para se feliz.
O poder que João sentia só de pensar em
perder a sua amada era tanto que ele começou a sentir um vazio enorme. Sentia
falta de algo e não sabia de quê. O amor que sentia por Annie não era
suficiente para preencher esse vazio, embora precisasse dele para seguir em
frente.
Nós nos comportamos da mesma forma que o
João. Aquilo que chamamos de “felicidade” no sentido mais estrito, vem da
satisfação repentina de necessidades altamente represadas, e por sua natureza é
possível apenas como fenômeno episódico. Quando uma situação desejada pelo
principio do prazer tem prosseguimento, isto resulta apenas em um morno
bem-estar; somos feitos de modo a poder fruir intensamente só o contraste,
muito pouco o estado. Logo, nossas possibilidades de felicidade são restringidas
por nossa constituição. É bem menos difícil experimentar a infelicidade (João
sofria só de pensar em perder a sua amada). O sofrer nos ameaça a partir de
três lados: do próprio corpo que, fadado ao declínio e a dissolução, não pode
sequer dispensar a dor e o medo como sinais de advertência; do mundo externo,
que pode se abater sobre nós com forças poderosíssimas, inexoráveis,
destruidoras; e por fim, das relações com os outros seres humanos. O sofrimento
que se origina desta última fonte, experimentamos talvez mais dolorosamente que
qualquer outro; tendemos a considerá-lo um acréscimo um tanto supérfluo, ainda
que fosse tão fatidicamente inevitável quanto ao sofrimento de outra origem.
Resumindo, nós nunca estamos satisfeitos.
Sempre que conseguirmos alcançar o que desejamos, nossas satisfações serão
momentâneas e logo depois buscaremos outra fonte de prazer, por que já nos
saciamos daquela outra. Parece fora de dúvida que não nos sentimos bem em nossa
atual civilização, mas é difícil julgar se, e em que medida, os homens de
épocas anteriores sentiram-se mais felizes, e que papel desempenharam nisto
suas condições culturais.
Mais um trabalho MB
subjeto judith < -
> de súbdita, sublevou!
criação – yuri tripodi
criação – yuri tripodi
Neste conto, emerge o desejo de
uma escrita performativa, de uma poesia visual, de uma poética concreta [ou
seja lá de que forma possa ser descrita a vontade de que cada mínima escolha
signifique]. O desejo é de que o espaçopapel se torne corpo e enuncie! através
de seus espaçamentos irregulares, de
suas palavras em parágrafo único e de toda a diagramação criada. Enviesado na
afirmação: compor a partir de reflexões/situações em si já é conceito: GRITA
este conto que contêm nossos encontros, Freud e inventividade a partir da
problemática sobre gênero e identidade sexual.
Obrigado por possibilitar uma
criação, de certo modo, livre dentro do âmbito acadêmico.
a partir disso aqui: Ao final do primeiro bloco de estudos
(freudianos) vocês deverão entregar um texto, em formato e tamanho livre, que
trata sobre o impacto das nossas discussões realizadas até então sobre a compreensão
de vocês sobre as subjetividades, seja a subjetividade de vocês em particular
ou a de uma outra personagem (dita fictícia ou real). Ou seja, vocês irão
selecionar algumas das nossas reflexões realizadas a partir de Freud para
analisar a subjetividade de alguém, de como a subjetividade desse alguém é
impactada e analisada através das reflexões realizadas em sala de aula.
criei.
criei.
[...]
subjeto judith < -
> de súbdita, sublevou!
agora a criança recém
completou 30
achando que não passaria dos 27
joelson publiciza judith aos 21 ,mas
coabitam judithjoelson desde os
13 .e muit@s outr@s
achando que não passaria dos 27
joelson publiciza judith aos 21 ,mas
coabitam judithjoelson desde os
13 .e muit@s outr@s
pouca idade e três tentativas de
suicídio. foi duro lidar com a realidade. quase impossível. para (sobre)viver,
corriqueiramente, criava mundos de fantasia¹ onde o cabelo batia no joelho e a
mãe passava longe de primeiro objeto sexual²; sonhava era com o pau do pai.
complexo de édipo não combina com transgênero, pelo menos no caso de judithjoelson,
não. esclarecimento: a partir daqui,
vamos chamá-la apenas de judith, ela acha soft e eu, emancipador. se não
existiu atração libidinosa pelo sexo (supostamente) oposto na relação familiar;
existiu, em judith, uma fase fálica de atração imensa por falos. por falos e
por falar de falos. e por castrar seu falo. e por falar de falos sem ser
castrada. mas era. e muito. em todos os cantos era só paulada. desejava
ardentemente que paulada desdobrasse seu significado para um monte de pau junto
e misturado, mas era só porrada mesmo. violência de todos os tipos. e ardia. na
escola, seu jeito de corpo³ era massacrado pelos colegas homenzinhos. as
meninas ignoravam judith. andava sozinha pelo pátio do católico colégio.
católico e evangelizador. a professora de religião um dia afirmara em aula
aberta: “nota-se que esse indivíduo (aponta) não possui vestígio de amor no
coração”. judith não retrucava, não reagia. tudo era implosão era inscrição era
grito de sufoco inaudível. o corpo somatiza agressões. os pais desejavam
um filhO segundo regras heteronormachistas. agiam com perversidade4 quando judith aparecia com saias roubadas
de suas primas. não por serem roubadas: a diversidade do desejo incomoda quem o
vive no padrão. o pai batia com cabo de vassoura, cabo de aço, queria dar cabo
daquela aberração. o tipo de violência da mãe era mais sutil: ataque à surdina
ao subconsciente. na tentativa de salvá-la do mau, realizava exercícios diários
para engrossar-lhe a voz, comprava carrinhos, roupas largas e misturava judith
com os meninos da rua de baixo. tudo em parceria com uma psicóloga que
interpretava freud e judith da seguinte maneira: “devemos domesticar seu
instinto para viver em cultura, se adequar à sociedade, portanto,
normatizaremos e normalizaremos às atitudes de seu filho”. segundo elas, judith
era anormal. por incrível que pareça, a porrada da mãe doía mais. imaginem o
aparelho psíquico deste corpo que quase tudo era desprazer; se este aparelho é
realmente comandado pela falta: faltava em judith qualquer prazer em vida.
aliás minto, o desejo por falos & falas resistia. o id de judith era
povoado (os sonhos elucidavam) por ambiências onde poderia reconhecer-se, fuder
com paus carinhosos e (com)partilhar, mas o supergo só inibia, punia, reprimia,
ditava, tentava normatizar e padronizar nossa anti-heroína. e depois da
primeira pulsão para retornar ao feto, ao nada; depois da primeira tentativa de
suicídio [aos 13 anos] é na heroína que busca escapar do sofrimento. judith que
poderia ser butler, aos 13, drogada e prostituída. pois pois, foge de casa
depois de suspeitar que a mãe dera por falta dos 7 tarjas preta que tinha
tomado num gole único para parar de sofrer. mas não foi desta vez: o corpo
repulsou, num movimento espiral kundalini, todos os remédios em vômito. ela,
mesmo fraca e meio dopada, fugiu. foi com os backstreet boys anteriormente
citados, invocados e evocados por sua mãe, que ela conheceu o submundo. depois
de insistir um bocado, se alojou na casa do boy mais velho. mas o boy sem magia
só manteria judith em sua house por very money. e ela começou a conhecer os
paus a partir daí. e ela começou a esconder o pau a partir daí. se tornou puta
pra pagar a casa, manter o vício e chupar os paus. ressurgiu transex para
rebater as (o)pressões, afirmar a vontade e (r)existir no mundo. mas tudo era
meio escondido, travestido pra noite ainda. todavia, fazia da chupação de paus
e do contexto libertador pulsão de vida. e de fato, quanta vida pulsa(va)
naquele ambiente prostitutivo. começou a se relacionar com o que havia de comum
naquelas subjetividades: confidências, reclamações sobre o sebo no pau de um
velho rodado, batons vermelho, rosa e laranja e púrpura, troca de agulhadas
& canivetes, arranhões, namoro com usuário e traficante [...] seguiu
vivendo assim até os 20 com poucas queixas, alguma cautela e hematomas das
agulhas e das brigas com clientes, amigas e afetos. aos 21 já meio magra demais
e depois de ter passado por 9 casas [entre moradas e clubs] resolve roubar um
amante pra bombar os seios e retirar o pinto. bombadêra FUDEU! --------------
> ele descobre a ladra, persegue, recupera parte da grana e faz um X no
coração de judith. ela, que havia marcado a cirurgia de REDESIGNAÇÃO no
estrangeiro, mas o peito arriscou na agulhada baiana, sofre uma hemorragia pela
profundidade do rasgo em seu tórax | a house caiu, judith |ainda neste ano,
depois do coma e da suposta recuperação, cai numa depressão abissal. numa
pulsão de morte, injeta uma quantidade de heroína para acabar com a tristeza,
mas também não foi desta vez. passa mais dias totalmente inconsciente e, muito
debilitada, segue a vida sem muito esforço físico e diminui o ritmo dos picos
pra não doer tanto os músculos. sobrevive através de uma ajuda do estado, que
conseguiu através de um sufoco outro, para manter-se. judith vive, a partir da
saída do hospital, como JUDITH 24 horas. isso lhe dá uma
expectativa-perspectiva de vida, pelo gosto que tinha de ser outra coisa, muito
diferente daquilo que era imposto e induzido para representar. vive numa casa
humilde e úmida e fantasia um amor romântico. consequência da carência de
carinho, eu acho. nunca se relacionou com um pau carinhoso na vida, seu id de
vez em sonho reclamava. numa das idas à padaria, aos 27, apaixona-se por um
cara que lembra muitíssimo seu pai. ele trabalhava como atendente que verifica
a mercadoria, não me recordo o nome exato dessa profissão. o pau dele ficava
marcado na calça. judith, que não comia massas, passa a comprar pão todo santo
dia [se é que neste conto os dias sejam santos]. sensualizava, com sua pequena
bunda empinada, para o cafusú estonteante. todos os céticos dias. um a um.
dobrava-se toda quando passava pela sessão de achocolatados. ele reparou nela
um dia. talvez pela curiosidade da manobra de corpo rotineira, talvez por achar
bonito seu cabelo. talvez. judith esperou acabar o horário do expediente e
levou o bofe pra casa. fuderam delícia. tesão sem tensão. dormiram juntos,
abraçados na conchinha clichê. o carinho-amasso durou seis meses. seis meses de
obsessão da anti-heroína que largou a droga e se viciou no macho. seis meses de
diversão para o bofe, que não agrediu judith, não a ofendeu, mas enjoou de seu
grude depois dos repetidos seis meses. ele foi viver a vida sem pressa, presa
ou pressão. ela retomou a (de)pressão de outras épocas: a exclusão + as
pauladas + o abandono + a falta de carinho + a opressão social de toda uma vida
fizeram judith estagnar. inscrições traumáticas, para judith, foram
irreversíveis & insuperáveis. ela suportou três anos mais de choro diário
e, recém completados os 30, conseguiu finalmente dar cabo com a dor sem odor:
se jogou da janela do 13º andar e antes de cair no chão
MORREU
de ataque cardíaco.
¹ neurose de homem(?) esquizo: Freud tenta explicar.
² segundo Freud: “(...) os primeiros objetos sexuais de uma criança são as pessoas que se preocupam com sua alimentação, cuidados e proteção: isto é, no primeiro caso, sua mãe ou quem quer que a substitua.” (FREUD, 1914/1996, p.94).
³ não utilizarei, propositalmente, adjetivações que reforcem a dicotomia feminino e masculino, nem tampouco feminilizado ou masculinizado para caracterizar o jeito de corpo de judith.
4 pessoas em atitudes perversas não abdicam do seu prazer para que o outro sinta-se bem.
² segundo Freud: “(...) os primeiros objetos sexuais de uma criança são as pessoas que se preocupam com sua alimentação, cuidados e proteção: isto é, no primeiro caso, sua mãe ou quem quer que a substitua.” (FREUD, 1914/1996, p.94).
³ não utilizarei, propositalmente, adjetivações que reforcem a dicotomia feminino e masculino, nem tampouco feminilizado ou masculinizado para caracterizar o jeito de corpo de judith.
4 pessoas em atitudes perversas não abdicam do seu prazer para que o outro sinta-se bem.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
Vídeos bloco Deleuze/Guattari
https://www.youtube.com/watch?v=jXi8eNHlSM4
https://www.youtube.com/watch?v=hUj-UmEvITE
http://www.youtube.com/watch?v=Bkvqrta5mnw
Outro trabalho MB
ROBERTA DE ARAÚJO LANTYER DUARTE
A SUBJETIVIDADE E A FORMAÇÃO DA LOUCURA DE LAURA NO CONTO “A IMITAÇÃO DA ROSA”, DE CLARICE LISPECTOR.
O
CONTO E LAURA
No
conto “A imitação da rosa”, publicado
em 1960, no livro “Laços de Família”,
Clarice Lispector mostra o processo de formação da “loucura” de Laura. Laura é
uma dona de casa que acabara de passar por um tratamento a base de choques
insulínicos (que era comumente utilizado em pacientes esquizofrênicos).
O
texto mostra a rotina de uma mulher submissa ao marido, Armando, e ao
autoritarismo de Carlota, sua amiga. Uma
mulher que estava mentalmente doente, mas que “agora estava de novo ‘bem’” e voltaria a sua rotina modesta e “à sua insignificância reconhecida”, de
completa desatenção. Seu rosto era modesto, suave, tudo nela era castanho, sua
pele, seu cabelo, seus olhos, afinal:
“Ter cabelos pretos ou louros eram um excesso que, na sua vontade de acertar,
ela nunca ambicionara.”.
Laura
era uma mulher que vivia sem excessos. Buscava a perfeição, tinha um gosto pelo
método, pela limpeza e pelo detalhe e “horror
a confusão”. Laura era também um pouco lenta e cuidadosa. Ela “nunca ambicionara senão ser a mulher de um
homem” e nesta ideia se inclui passar-lhe as roupas e atendê-lo no que
fosse necessário e, além de tudo, dar-lhe um filho – objetivo que ela não conseguira
alcançar e que lhe deixara com uma sensação de fracasso, ofensa.
Laura,
recém “curada” de sua doença, seguia o tratamento que seu médico que receitara:
tomava um copo de leite após todas as refeições para evitar a ansiedade. Esta
ação, segundo o médico, devia ser feita sem a preocupação, pois ela deveria
fazer tudo natural e suavemente, sem ansiedade, para que se “curasse”
definitivamente. Em meio a ansiedade de tomar obrigatoriamente seus copos de
leite naturalmente, Laura se apaixona pela beleza das rosas que havia comprado
na feira. A partir de agora Laura luta para não entrar novamente em estado de
“loucura”, o que será impossível.
A
MENINA LAURA
O
que faz com que uma mulher desenvolva um comportamento como o de Laura? Como se
forma a subjetividade de uma mulher como Laura? Vamos pensar nestas questões a
partir de algumas ideias de Freud.
Em
primeiro lugar é preciso pensar como esta mulher desenvolveu sua subjetividade
enquanto criança, menina. Pensando na formação do Édipo a partir do livro de
Nasio, “Édipo – O complexo do qual
nenhuma criança escapa” e, mais especificamente, do capítulo dois – “O Édipo da Menina”, podemos dizer que
processo do Complexo de Édipo da menina é diferente e mais lento que o do
menino, visto que, na menina existe o período “pré-edipiano”, quando ela é como o menino e tem a mesma sensação
de poder fálico e sexualiza a mãe; depois ela passa pelo “tempo de solidão”, quando ela percebe o seu corpo como diferente
do corpo do menino, percebe o pênis do menino; neste momento a menina tem a
sensação de que não detém o poder que outrora acreditava possuir; “... ela nota que saiu perdendo, e sente
esse fato com desvantagem e razão para inferioridade” (FREUD, 1924, p.
211/212), quem detém o falo na
verdade é o menino, então, ela se sente enganada pela mãe por ter lhe feito
acreditar que possuía o falo, tendo o que Nasio chama de ‘dor da humilhação’ - quando a menina “se recente de uma privação”, ao contrário do menino, que “vivia a angústia de ter a perder”.
Após esta fase a menina passa pelo “tempo
do Édipo”, o qual, enfim, sexualiza o sexo oposto, seu pai. Neste momento a
menina, ressentida com a mãe, quer que o pai lhe dê o seu falo; tendo seu
desejo negado, parte para a tentativa de ser o falo do pai e, paralelamente,
admira o poder de sedução da mãe, sofrendo mais uma recusa por parte do pai, a
menina resolve o Édipo com o desejo de ser o pai, segundo Nasio: “Eis por que digo que a dessexualização do
pai é, no fundo um luto: a menina chora o pai sexualizado e o faz reviver
dessexualizado nela” (NASIO, 2007, p. 57)
Todo
este processo se refere à formação de uma neurótica “normal”. Para Laura,
provavelmente, o complexo não tomou estes mesmos caminhos. Analisando sob este
prisma podemos sugerir que, talvez, o complexo de Édipo de Laura fora
interrompido antes que se pudesse fechar o círculo. Laura provavelmente não
resolveu o Édipo, ela não conseguiu superar a “dor da humilhação”, se sentindo
inferiorizada diante do Falo masculino, criando uma submissão não só ao pênis,
mas ao que este Falo representa, e que explica a sua submissão a Carlota,
autoritária, como se Carlota também possuísse o Falo o qual ela foi privada. É
possível pensar que, após entrar no Édipo e sexualizar o pai e, após as
renúncias, provavelmente muito severas deste pai, esta menina, ao invés de
seguir com o complexo e finalizar o Édipo, tenha voltado à fase anterior, de
dor pela humilhação de ter sido enganada.
Mas
eu me pergunto: para onde foi esta dor, esta agressividade? Bem, uma
possibilidade seria que esta menina se rebelasse contra a mãe “mentirosa” e se
tornasse uma pessoa agressiva. Mas isto não aconteceu com Laura, ao contrário,
ela não demonstra nenhum tipo de agressividade e até “também tomava cuidado para não cacetear a empregada que às vezes
continha a impaciência e ficava um pouco malcriada, a culpa era mesmo sua
porque nem sempre ela se fazia respeitar.”. Desta forma, suponho que a
relação de Laura com sua mãe fosse de amor excessivo, esta mãe, provavelmente,
não lhe deu espaço para a revolta, pois como mostra Freud em “O mal-estar na civilização”, pensando em
“Psicanálise e personalidade total”
de Franz Alexander, que retoma os estudos de Aichhorn:
O
pai ‘brando e indulgente além da conta’ favorece na criança a formação de um
Super-eu demasiado rigoroso, porque, sob a impressão do amor que recebe, esse
filho não terá outra alternativa para sua agressividade que não voltá-la para
dentro. (FREUD, 1929)
Esta
agressividade de Laura, voltada para dentro, pode explicar o seu sentimento de
culpa excessivo, visto que o seu Super-eu é, por demais, rigoroso. Por isso
Laura tem esta obstinação pela perfeição, pelo detalhe, pela limpeza. Ela se
acha inferior, humilhada pela falta do falo, então, procurava esta perfeição,
imposta pelo Super-eu, em outros objetos. Como nas gavetas que “chegava a desarrumá-las para poder
arrumá-las de novo” e, mais tarde, na beleza perfeita da rosa, que lhe
devolverá ao estado de loucura.
LAURA
E A CIVILIZAÇÃO
Sabendo
da formação interrompida do Édipo de Laura, é possível pensar como se dá o que
Freud chama de “Princípio de Prazer” e “Princípio de Realidade” na
subjetividade de Laura.
Para
Freud o “princípio do prazer” é o que rege a vida humana. O “princípio de
realidade” vem para represar algumas pulsões do homem; é o que permite a vida
em sociedade.
Em
uma mulher como Laura, com um Super-eu tão severo, o “princípio da realidade”
sufoca o “princípio do prazer”, deixando as sua pulsões, todas, represadas.
Este Super-eu faz com que Laura mantenha seu transtorno por limpeza:
Beleza,
limpeza e ordem ocupam claramente um lugar especial entre as exigências
culturais. Ninguém dirá que elas são importantes para a vida como o domínio das
forças naturais e outros fatores que ainda veremos, mas ninguém as porá em
segundo plano, como coisas acessórias. (FREUD, 1929, p.38)
Partindo
desta citação de Freud, podemos pensar em um aspecto que, a meu ver, é um dos
mais importantes no que se refere ao processo que permite que Laura chegue à
loucura. Trata-se da beleza.
A
beleza está, durante todo o conto, num lugar de incômodo para Laura. Laura se sente
inferior, por isso não almeja (ou declara não almejar) a beleza: “‘Não tem importância que eu engorde’, pensou,
o principal nunca fora a beleza.”. Por outro lado a beleza da rosa a incomoda:
“Mas, sem saber por quê, estava um pouco
constrangida, um pouco perturbada. Oh, nada demais, apenas acontecia que a
beleza extrema incomodava.”.
Perturbada
com a beleza das rosas que “pareciam
artificiais”, Laura entra em profunda confusão. Há, na realidade, uma luta
entre o seu Id, que quer as rosas,
que quer o prazer de admirá-las e o seu Super-eu, severo, que não lhe permite um
pouco de prazer:
“Mas
a atenção não podia se manter muito tempo como simples atenção, transformava-se
logo em suave prazer, e ela não conseguia mais analisar as rosas, era obrigada
a interromper-se com a mesma exclamação de curiosidade submissa: como são
lindas.”
Laura
se vê, então, em um embate entre ficar com as rosas e se permitir este prazer
ou entregar as rosas a Carlota. No meio deste embate Laura se utiliza de
argumentos para ficar com as rosas sem se sentir culpada:
O
fato de não durarem
muito parecia tirar-lhe a culpa de ficar com elas, numa obscura lógica de
mulher que peca. Pois via-se que iam durar pouco (ia ser rápido, sem perigo).E
mesmo — argumentou numa última e vitoriosa rejeição de culpa — não fora de modo
algum ela quem quisera comprar, o vendedor insistira muito e ela se
tornava sempre tão tímida quando a constrangiam, não fora ela quem quisera
comprar, ela não tinha culpa nenhuma.
Porém
o seu Super-eu, que tudo vê, não lhe permite ficar com as rosas, visto que,
“sabe” que ela não é digna de tanta beleza, ela não possui o Falo e nem
conseguiu um filho para substituir o Falo inexistente. Sobre este sentimento de culpa Freud explica:
O
sentimento de culpa, a dureza da Super-eu, é então o mesmo que a severidade da
consciência, é a percepção que tem o eu Eu de ser vigiado assim, a apreciação
da tensão entre os seus esforços e as exigências do Super-eu, e o medo ante
essa instância critica (subjacente à relação inteira), a necessidade de castigo
é um expressão instintual do Eu, que por influência do Super-eu sádico
tornou-se masoquista, ou seja, emprega uma parte do instinto para destruição
interna nele presente para formar uma ligação erótica com o Super-eu.(FREUD,
1929, p.83)
Com
o excessivo sentimento de culpa que rodeia Laura, ela não consegue atingir a
felicidade. A civilização é, para ela - que não possui o Falo, que não possui
um filho, e que se sente inferior, por isso, submissa – muito pesada. Laura, na
verdade, almeja ser a rosa, possuir sua beleza. Laura identifica, na rosa, o
seu Falo a tanto almejado. No entanto, ela o perde novamente, perde o que nunca
possuíra, “não eram mais suas, como uma
carta que já se pôs no correio!”.
Laura não poderia suportar mais esta
interdição, “E as rosas faziam-lhe falta.
Haviam deixado um lugar claro dentro dela.” Laura, que não resolveu seu
Édipo como deveria, se “tornando” o pai, tenta resolver agora, tardiamente e
patologicamente, se tornando a rosa, imitando-a. Laura, que não pode ter prazer
na civilização, se refugia, se afasta da civilização afinal: “...o afastamento dos demais é a salvaguarda
mais disponível contra o sofrimento que pode resultar das relações humana”(FREUD,
1929, p. 21). Ela vai ao extremo, se refugia na loucura, não pertence mais à
civilização, o Super-eu não dita mais as regras. Retornara ao estado de “um barco tranquilo que se empluma nas
águas”, à “terrível independência”, à
“falta de alerta de fadiga”. Laura
deixou de ser uma ‘senhora distinta’ e
voltou para a “extravagância”. Laura
se tornou novamente “luminosa e
inalcançável” e agora permanecia “sentada
no sofá sem apoiar as costas, de novo alerta e tranqüila como num trem. Que já
partira.”.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
· LISPECTOR,
Clarice. A Imitação da Rosa. In Laços de família. Disponível em: http://claricelispector.blogspot.com.br/2008/07/imitao-da-rosa.html
· NASIO,
J.D. Édipo – o complexo do qual
nenhuma criança escapa. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
· FREUD,
Sigmund. A dissolução do complexo de
Édipo (1924). In Jornal de
Psicanálise, Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, V. 33, N60/61,
PP. 483-9, dezembro de 2000.
· FREUD,
Sigmund. O mal-estar na civilização. Tradução
Paulo César de Souza, - 1° ed. – São Paulo: Penguin Classics Companhia da
Letras, 2011.
Mais um trabalho MB
Neste texto, tentarei
expor da forma mais objetiva possível, a subjetividade de um personagem
caricato das ruas de Salvador, que “causou” muitas confusões em sua breve
jornada pelas ruas soteropolitanas. Trata-se do Superoutro, personagem que
Edgar Navarro imaginou como um revolucionário lunático que seguia seus
instintos e por isso foi condenado pela civilização a qual iremos discutir
sobre sua sanidade e subjetividade nas próximas linhas nesta primeira parte do
trabalho.
Capital baiana, final
da década de 80, cenário político conturbado e um pleno cenário para a
“aparição” de um personagem fictício, mas que é tão real quanto nós. A sua
subjetividade exposta em forma de atitudes diante de uma sociedade que para a
sua plena existência necessita reprimir o real teor instintivo, chega a ser
agressiva em determinados momentos do filme.
Trabalhar a
subjetividade de um personagem tão peculiar como o “super-outro”, requer uma
tarefa de contextualização histórica a partir de uma visão de sociedade que
passa por um momento crítico no que diz respeito a exclusão e desigualdade
social. Por vários momentos o personagem
se depara com dificuldades cotidianas comuns a quem viveu naquela época e ao
analisarmos a subjetividade deste notório personagem, notamos que há uma linha
tênue entre o objetivo e o subjetivo, que se confundem numa série de atitudes
que põe em dúvidas a sua lucidez. Lucidez(ou falta dela), que quando comparada
numa analise minuciosa as normas cultas da sociedade onde ele está inserido,
faz-se refletir sobre não só sua sanidade mental, mas também a sanidade mental
da própria sociedade. Como se de repente ele despertasse de um sono profundo,
ou se desvinculasse de uma alienação imposta por uma metrópole rodeada por
outdoors e modelos de vida a serem seguidos, Superoutro começa sua jornada
antes de se descobrir como o super herói revolucionário que há dentro de cada
um de nós. Incomodando e tentando de todas as formas chamar atenção, ele é
mandando a um manicômio e considerado um esquizofrênico devido aos seus “delírios”.
Obviamente ele não se identifica com tal diagnóstico e facilmente escapa do seu
exílio e sai pelas ruas de Salvador colocando pra fora todos os seus instintos
e vontades em prol de satisfazê-los a qualquer custo. Não seria diferente se
cada um de nós resolvesse encarnar um personagem (ou abandonar este personagem
civilizado o qual carregamos para viver em sociedade) e nos deixássemos levar
pelos instintos mais reprimidos, a custo disso teríamos que nos acostumar a
viver em tempos de barbárie e nos restaria passar a viver isolados, bem como
nosso personagem em análise. Em seu livro “O Mal-estar na civilização”, Freud
caracteriza a civilização como “a soma integral das realizações e regulamentos
que distinguem nossas vidas das de nossos antepassados animais, e que servem a
dois intuitos, a saber: o de proteger os homens contra a natureza e o de
ajustar seus relacionamentos mútuos”. Natureza esta que ele menciona, se trata
não só da natureza como a conhecemos, mas
o próprios instintos naturais do homem, que por conta das privações do
superego permanecem “adormecidos” no inconsciente. Esses instintos levam o homem a ser primitivo, e a perceber um
enorme incomodo em viver em comunidades e se relacionando com outros homens.
Assim, podemos concluir que em comunidade por incrível que pareça, o homem se
sente menos poderoso, pois a sua autonomia é estritamente dependente da
autonomia de um determinado grupo ou comunidade. No caso de nosso personagem,
ele já nasceu numa comunidade e inserido nas suas regras e convivendo
mutuamente com pessoas que lhe são de seu agrado, ou não. Em momentos no filme,
podemos notar a presença de um agente importante nesse contexto, que talvez sem
ele nos tempos atuais fosse impossível a convivência em sociedade. A força
representada em forma de pessoas, a polícia, que tem como tarefa manter a
“ordem” e a segurança das pessoas, pois sem esta força repressora de um
instinto coletivo, nos deixaríamos levar pelos nossos instintos individuais e
sem limites nosso instinto de destruição seria letal a todos. Voltando ao contexto
em que nosso personagem está inserido, podemos perceber o quão reprimido ele
foi desde o começo do filme, e não podemos deixar de notar o quão livre ele foi
a ponto de expor sua subjetividade de forma, às vezes, até engraçada em
determinados momentos.
O
sono de uma sociedade que finge dormir bem.
Em sua frustrada
tentativa de tirar a sociedade do seu sono de conforto, o super herói encontra
seu primeiro obstáculo diante da imposição da ordem de proteção ao próprio
sono, quando ele entra num prédio aos berros e quebra uma vidraça jogando uma
grande lata de lixo. Mas que sono seria este que ele queria atrapalhar? Não foi
meramente coincidência que ele estava agindo daquela forma na madrugada. O sono
qual ele se referia, era um sono da sociedade, que dormia diante dos fatos que
aconteciam, dormiam para uma realidade a qual ele enxergava e se incomodava.
Durante todo o filme, nosso personagem vai de encontro às “normas” cultas de um
convívio em sociedade e sofre suas consequências punitivas. Ele vai de encontro
a essas normas em vários momentos do filme, seja dançando livremente no meio da
rua, defecando na praia e posteriormente fazendo uso de sua “obra” e
presenteando o condutor de um carro que passeava pelas ruas da barra na
ocasião. O filme possui uma narrativa que mostra o cotidiano de uma pessoa que
na maioria das vezes passa despercebido aos olhos de quem esta situado numa
civilização como a nossa, um “doido de rua”, como costumamos falar, mas que
vive sua realidade assim como as pessoas ditas “normais” na sociedade, sendo
que vivem a margem de tudo isso por não estarem inseridos num padrão de vida
imposto pela própria sociedade onde vivem. Talvez o filme tenha essa mensagem subjetiva quando
a primeira fala se reporta ao sono em que a sociedade vive, e a sua luta para
permanecer “dormindo bem” nele. Essa luta pode ser a causadora de um mal estar
que nos acompanha desde que optamos por viver em comunidades, reprimindo os
instintos e sobrevivendo em conjunto com outros humanos. De fato, ele consegue
“acordar” em partes uma parcela de pessoas que se atentaram a ele, mas ele se
viu diante de uma realidade a qual a civilização está fadada a aceitar,
realidades melhor dizendo, quando se trata de influências sociais como religião
e política, as quais serão melhores abordadas na segunda parte deste trabalho.
O
“Supereu coletivo” contra o “Superoutro
individual’.
Coletivamente, existe um “supereu” ou superego,
que nos motiva não só a permanecer na conduta certa, mas também a nos ater de
vigiar quem foge a essa conduta. Freud diz em seu livro que “A substituição do
poder do indivíduo pelo poder de uma comunidade constitui o passo decisivo da
civilização”, assim, nosso personagem se via dono de seu próprio poder de ser
livre, tomava suas decisões baseado-se nas suas imediatas necessidades, e não
se encaixava numa sociedade civilizada. E esse impulso de liberdade para Freud
“é dirigido contra formas e exigências específicas da civilização ou contra a
civilização em geral”. O sentimento coletivo de vigiar quem está fora desta
conduta civilizatória será melhor discutido na segunda parte do trabalho,
quando entram os conceitos de Foucault.
Mas esta luta do Supereu coletivo conta um superoutro individual não se resume
somente ao personagem de Navarro, pode-se percebê-la em cada desentendimento
entre membros de uma comunidade, ou mesmo de um indivíduo para com a sociedade.
O “superoutro” pode muito bem ser representando como o nosso ID (nosso lado
instintivo aos olhos de Freud) e a sociedade como o nosso Superego, e
paradoxalmente enxergamos no “outro” coletivo algo que temos de individual em
nós mesmos, que internalizamos desde o berço.Autor do texto: Luis Fernando Fróes de Matos
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