segunda-feira, 1 de abril de 2013

Um lindo dia


Hoje Yuri Tripodi, um presente em forma de aluno esse semestre em Estudos das Subjetividades, fez uma performance em sala de aula inspirada na história de Gisberta como parte de um trabalho sobre Foucault e Deleuze. Foi lindo, me emocionei, chorei. 
No atual momento em que vivemos, tudo isso tem um significado muito grande para um professor de um componente como esse, dentro de um projeto como do IHAC, entre tantas coisas. É claro que lembrei e comentei de Bethânia em http://www.youtube.com/watch?v=_oDWUlFuiCI

Obrigado querido, você produziu um dia muito especial.

domingo, 31 de março de 2013

aviso final


Pessoas
na aula desta segunda-feira, dia 1º de abril, todas deverão entregar os trabalhos finais. faremos um bate papo sobre os trabalhos e na turma da noite teremos a performance de um aluno. é a forma como ele apresentará o seu trabalho, além de ter produzido um texto.
abrs

sexta-feira, 15 de março de 2013

AVISO URGENTE - turma da tarde

Oi pessoas

Raquel não poderá estar em sala de aula na próxima segunda-feira de tarde, dia 18, para orientar os trabalhos e eu estarei, como disse, eu uma reunião em Brasília. Por isso, a turma da tarde mande suas dúvidas para o mail da Raquel ou vá na aula da noite, na sala 203, para solucionar dúvidas com ela. Na próxima semana, dia 25, eu estarei nas turmas para a última semana de orientações.

O mail da Raquel é raquelflorence@gmail.com

beijos, leandro

segunda-feira, 11 de março de 2013

E assim fechamos o nosso semestre


E assim fechei hoje as aulas do semestre de estudos das subjetividades ao falar um pouquinho de minha vida e lembrar: “Nunca perca sua graça, isto é, os poderes de uma canção” (Deleuze, em carta para Suely Rolnik).

http://www.youtube.com/watch?v=9--MWT-hEFA

Endereço do meu blog

Pessoas, para quem ainda não conhece, o meu blog pode ser acessado em http://www.ibahia.com/a/blogs/sexualidade/

Lá vcs podem conferir como me aproprio de alguns conceitos de Freud, Foucault, Deleuze, Butler e outros autores/as

abrs

Texto lido em sala hoje

Análise de conto de Machado de Assis através de reflexões de Deleuze e Cia.

http://www.scielo.br/pdf/pe/v5n1/v5n1a03.pdf

quinta-feira, 7 de março de 2013

Nosso último texto

Oi pessoas

o nosso último texto, a ser discutido na próxima segunda, dia 11 de março, está em http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/deleuze-esquizoanalista/

terça-feira, 5 de março de 2013

mais um trabalho mb

Rafael Rodrigues


Introdução

O presente trabalho busca analisar o impacto das discussões em sala, textos lidos e filmes visualizados sobre a minha subjetividade, a partir do componente Estudo das Subjetividades. O trabalho está dividido em etapas, sendo que cada uma analisa esse impacto a partir de cada aula e sua respectiva leitura. Em alguns momentos trarei, para melhor contextualizar, tanto momentos da minha vida, como o que foi discutido em sala.

Estudo das Subjetividades – 03/12

  O complexo de Édipo criado por Freud realmente surpreende e rompe barreiras e tabus. Pensar a relação com os pais como uma relação onde existe desejo sexual seria inimaginável pra qualquer um. “O complexo de Édipo não é uma história de amor e ódio entre pais e filhos, é uma história de sexo, isto é, uma história de corpos que sentem prazer em se acariciar, se beijar, se morder”. Pra mim, a teoria do Édipo parece se encaixar em algumas coisas. Sempre me perguntei de onde surgia tanta repressão dos desejos sexuais do ser humano. Para Freud, começa na infância, quando reprimimos nosso desejo pelos nossos pais. Claro, que na nossa mente atual, parece impossível pensar nesse tipo de desejo quando crianças, principalmente se tratando de nossos pais. Mas por que não? Talvez essa repressão de quando criança tenha sido tão forte, que tenhamos até dificuldade de pensar nisso hoje. O autor do texto da aula de hoje  diz que o Édipo é um conflito entre a exaltação de desejar e o medo de se consumir nas chamas do desejo. E pensando bem, somos assim até hoje, como adultos. Vivemos constantemente numa gangorra entre reprimir nossos desejos e se entregar a eles, mesmo que de forma escondida e sentindo culpa. A base da nossa sociedade é o refreamento de nossos impulsos. A teoria diz que é no Édipo que desenvolvemos o pudor, a culpa e o senso moral. E é exatamente a sexualidade que mais nos traz esses sentimentos. Temos medo dela, de mostra-la, e o Édipo, pelo menos pra mim, parece uma explicação que fez sentido. Não que eu vá ser grande defensor dela, mas só acho que faz sentido mesmo.
Por exemplo, ele diz que o menino no Édipo rivaliza com o pai. Me pergunto se a minha relação com meu pai, que de certa é de rivalidade, se deve por conta do Édipo. Nunca consegui explicar direito a mim mesmo tal problema, mas nessa teoria, consigo dar sentido a ele. Mesmo assim, realmente não consigo imaginar o menino tendo medo de ser castrado. Mas parando pra pensar no exemplo do futebol (jogadores na barreira), porque será que é o penis a parte que mais protegemos no corpo?
Sempre observei também como os homens sempre são mais próximos da mãe, e as mulheres do pai. Esses dias estava observando a relação de minha namorada com os pais. É interessante ver como com o pai ela abraça e beija muito mais do que o faz com a mãe. Será que é por conta de algum desejo sexual da infância, que nem temos a menor ideia da existência? E o mesmo vale pra mim, que sou mais próximo de minha mãe.
Ainda me pergunto como será que se desenvolvem os problemas de relacionamentos posteriores ao Édipo, como homens que tem dificuldade de relacionamento, por exemplo. Que tipo de relação com esse desejo com os pais gera esses problemas depois. O texto diz que é a partir do Édipo que se forma a identidade sexual do homem. E sobre mim, me pergunto se a minha timidez tem alguma coisa a ver com isso também. Penso que pode ser por alguma dificuldade na relação com minha mãe. Porque, pensando bem, sou mais próximo dela do que de meu pai, mas nem sou tão próximo assim de minha mãe. Na verdade, sou meio distante dos dois. Talvez por isso seja distante das pessoas, em geral. Mas nem sei se isso tem a ver com o Édipo.
Estudos das Subjetividades – 10/12

  Hoje assistimos ao filme Cisne Negro. O propósito era analisar, a partir da história da protagonista do filme, o Complexo de Édipo na menina. Essa protagonista, Nina, tinha claramente dificuldade de viver sua sexualidade, que foi completamente reprimida, graças a sua mãe. A mãe, frustrada com sua própria carreira como bailarina, sonha que a filha viva a vida que ela não conseguiu, como bailarina de grande sucesso. Tem êxito até certo ponto, pois a menina realmente sonha com tal carreira de sucesso, e em parte já a tinha mesmo antes de conseguir o papel da Cisne Rainha. Porém, pra conseguir esse papel, ela vai precisar começar a viver a sexualidade que foi tão reprimida. Talvez a menina não tenha a sexualidade aflorada também pela ausência de um pai, já que para Freud, o pai é símbolo de desejo da menina em sua infância. Além dessa ausência, a mãe impede que esses desejos surjam, para assim, poder ter um maior controle sobre os sonhos da menina. Em todo o filme, a mãe aparece como aquela que impede a menina de sexualizar. Com a ajuda de Lily, e principalmente do diretor do balé, que irá simbolizar o papel do pai, daquele que desperta a sexualidade nela, ela passará a sentir mais o desejo de corpo. Porém, ela não aguenta tal mudança, e enlouquece, passando a ter varias alucinações.
Sem ter contato com essa teoria, é difícil imaginar algum tipo de relação de sexualidade com nossos pais. Pra mim a teoria parece fazer certo sentido quando por exemplo, presto atenção em minha namorada. Realmente vejo que ela tem uma proximidade muito maior com o pai. Eles se tocam, se abraçam e beijam com muito mais frequência do que ela faz com a mãe. Freud diz que a menina rivaliza com a mãe, e realmente, se prestar atenção, acho que ela de alguma forma rivaliza realmente com a mãe, assim como consigo me enxergar rivalizando com meu pai. E ao mesmo tempo, enxergo a todo tempo como as crianças parecem gostar mais do pai de sexo oposto. Minha mãe essa semana me contou de um casal amigo dele que estava brigando, quando a filha de 4 anos interrompeu e disse para a mãe, “Para de brigar com ele, se não eu vou embora com meu pai”. Ela não falou de uma forma como se realmente fosse embora com ele, mas fico pensando porque ela prefere ir com o pai do que a mão. E aí o Édipo parece fazer sentido mesmo.
Me parece que pensar uma sexualidade relacionada aos pais, para muita gente, tira um pouco da beleza que temos em mente do que deveria ser a relação perfeita com nossos pais, por isso muitas pessoas parecem resistir as ideias dessa teoria.
O que mais me fez refletir nessa aula de hoje foi a observação feita pela Raquel no final. Por mais louca que possa parecer, a teoria de Freud parece fazer sentido quando tentamos aplica-la na vida real. Mas outras teorias parecem também fazer sentido quando aplicadas. A grande questão é que tais teorias buscam explicar algo que provavelmente nunca saberemos realmente se é verdadeiro ou não. O que se pode fazer é aplicar uma teoria, que pode funcionar ou não. E mesmo que funcione, não significa que ela dá a explicação final para tal problema.

Estudo das Subjetividades – 17/12

  De inicio, debatemos sobre como poder trazer as ideias do texto para a realidade. Mais especificamente, sobre o caso da matança na escola americana noticiada nessa semana. Nos perguntamos, “o que será que leva um individuo a cometer um ato como esse?”. A resposta é realmente muito difícil. Uma pessoa trouxe uma ideia muito interessante sobre a influencia da cultura do próprio país sobre o individuo. Os EUA sempre tiveram uma cultura armamentista muito forte, e é comum para eles verem soldados matando uma série de pessoas em guerras e serem tidos como heróis. Isso em si já influencia a pessoa a cometer tal ato de violência. Mas ainda assim, é necessário ir muito mais longe para chegar a algo mais conclusivo. No próprio país atos como esse já aconteceram diversas vezes. Em geral, o criminoso acaba tornando-se quase uma celebridade, e tem sua história contada e recontada diversas vezes pela mídia. Por isso, acredito ser esse um ato desesperado de alguem que quer chamar a atenção, e mostrar a todos que está sofrendo muito. O que se tem dito é que o autor do crime era uma pessoa comum, mas que era quieto e isolado. O isolamento em si é uma das formas citadas por Freud para evitar o sofrimento, pois para alguns, relacionar-se com pessoas é de um sofrimento muito grande. Porém, mesmo assim, o sofrimento irá continuar existindo, pois a pessoa irá sentir-se invisível na sociedade. Por isso, acredito eu ter sido esse um ato para chamar atenção ao seu sofrimento, o qual a pessoa não conseguia mais suportar.
Para mim, esse foi o texto de Freud que mais me chamou a atenção até o momento. Consigo observar em mim mesmo todas as formas de escapar do sofrimento citadas por ele, em algum momento da minha vida. Pela minha dificuldade de relacionamento, me vejo muitas vezes buscando isolamento como forma de evitar tal sofrimento. Consigo enxergar também a saciação e o deslocamento dos instintos como forma de obter prazer em diversos momentos de minha vida. Mesmo o sentimento amoroso e o uso de químicas, já utilizei como meio de fugir do sofrimento em outros momentos. Freud diz que a vida é seguida sempre pelo principio de buscar o prazer e evitar o sofrimento, e nesse ponto concordo completamente com ele.
Trazer as ideias de Freud para o nosso momento atual é extremamente interessante. As formas de buscar prazer e evitar sofrimento podem ter mudado um pouco, mas a ideia principal do texto pode ser facilmente visualizada em nossa sociedade. Com a saída da religião como centro da sociedade, mudamos do medo do gozo para a um estimulo ao gozo incessante. Segundo Freud, para alguns a busca do prazer torna-se mais forte do que evitar o prazer, enquanto para outros, o contrário é verdadeiro. E é essa a mudança que vemos na sociedade atual. Enquanto tínhamos antigamente a religião, que nos propunha mais evitar o sofrimento do que buscar o prazer, hoje a busca por esse prazer é mais intensa, e mais aceita socialmente, apesar de ainda haverem varias restrições, que vão diminuindo cada vez mais.

Estudo das Subjetividades – 07/01

  Seria o amor então um caminho para a felicidade? Acho que o amor sexual, entre duas pessoas, traz alguma satisfação, não só pela possibilidade de sexualizar, como traz Freud, mas dá também porque nos faz sentir mais protegidos da solidão. Acho que temos essa tendência a nos unir em pares porque achamos que assim não nos sentiremos sozinhos, e ninguém nos verá como alguém solitário. Por isso mantemos nossas relações mesmo quando não há paixão. Pelo medo de ser e parecer sozinho. Mas, como Freud mesmo coloca, o amor nos traz satisfação, mas também nos deixa expostos ao sofrimento, Já que podemos perder esse parceiro ou nos descobrirmos infelizes nessa relação. E além do mais, ainda temos que encarar uma série de limitações a esse amor feitas pela sociedade. Limitações essas que nós mesmos aceitamos e fazemos parte. Por exemplo, esses dias assisti um seriado de TV onde havia um casal que parecia bastante feliz, até que num momento o homem diz para sua mulher que não quer casar-se com ela (veja bem, ele não diz que não quer ter uma relação longa com ela, mas apenas que não quer consumar a relação numa cerimônia pública chamada casamento). Daí então, ela resolve terminar a relação. Vejo isso como um ótimo exemplo de como as relações amorosas são construídas de forma que parecem já estar estabelecidas antes mesmo do casal unir-se.  E parece existir a cobrança até mesmo do próprio casal, que quer se encaixar nisso. Fugir de tais padrões provavelmente faria o casal não só ser reprimidos de alguma forma, mas eles próprios se sentiriam estranhos.
Bom, mas e a outra concepção de amor que Freud traz a do amor por todos os indivíduos? Mas esse parece ser algo tão difícil para nós. Dada a minha tendência a não acreditar na felicidade na primeira forma citada, acho que acredito mais nessa última.
E quanto a nossa tendência a agressividade? Ao se perguntar como a cultura inibe tal agressividade, Freud chega a conclusões muito interessantes. Pra mim é bem claro que isso acontece através da ameaça de punição, que pode ser desde as punições legais, da justiça ou a ameaça da “perda de amor”, ou seja, o medo de sermos rejeitados pela sociedade ou por parte dela. Um político corrupto, por exemplo, vai ter medo de ser descoberto, mesmo sabendo que provavelmente nem será punido pela justiça, mas por temer a rejeição da sociedade. Temos necessidade não só de vivermos em sociedade, mas de nos sentirmos aceitos por ela. Por isso muitas vezes nos encaixamos em padrões que podem parecer irracionais. Ainda mais interessante é pensar na formação do Super-eu. Seria uma parte de nossa consciência que monitora nossos pensamentos. Ou seja, podemos nos sentir culpados não só por nossas ações, mas também por nossos pensamentos. O próprio conceito cristão do pecado, em geral passa pela culpa pelos nossos pensamentos. Admito que perceber a existência de tal parte da consciência me faz perceber o quanto de culpa sinto por tantos pensamentos. Desde a atração sexual até os sentimentos de raiva. E esse Super-eu pode ir mais além, dependendo do que acreditamos ser o ideal para minha vida. Por exemplo, se acredito que não devo sentir raiva de outras pessoas, porque isso não me faz bem, provavelmente passarei a me sentir culpado toda vez que sentir. Mas o que isso faz é apenas aumentar esse sentimento. Nosso problema é que não sabemos nenhuma outra forma de lidar com esses sentimentos, então apenas os reprimimos. E quanta infelicidade isso nos gera. Talvez seja por isso que criamos nossas mascaras e modos de agir não verdadeiros, para esconder e não deixar que os outros percebam esses pensamentos que consideramos errados. Daí gostarmos também de fingir que somos felizes a todo o tempo.

Estudo das Subjetividades – 07/01

  "’Não deveria ter trabalhado tanto’, diz um dos pacientes. ‘Desejaria ter ficado em contato com meus amigos’, ‘Desejaria ter-me permitido ser mais feliz’.  Há cem anos, ou 50, quem sabe, sem dúvida seriam outros os arrependimentos terminais. ‘Gostaria de ter sido mais útil à minha pátria’, diria alguém. ‘Gostaria de ter deixado um patrimônio maior para meus descendentes’, poderia suspirar o pai de família. ‘Deveria ter sido mais obediente a Deus’, confessaria um terceiro.” Esse é um pedaço que retirei do artigo que Marcelo Coelho, “Arrependimentos terminais”, que para mim resume bem a mudança de pensamento da sociedade do século XXI. “Menos do que morrer com a sensação do nome limpo e do dever cumprido, morre-se com a sensação de um ego insatisfeito.”. Vivemos agora numa sociedade onde o mais importante para se atingir a felicidade é aproveitar os “prazeres da vida”. E todos nós somos influenciados por isso. Me vejo naquele exemplo de Zizek, em que o pai se orgulha por seu filho se ele se relaciona com várias mulheres, ou se decepciona se ele parece não conseguir tal “feito”. Me lembro, por exemplo, de uma época da minha adolescência em que eu passei a gostar muito de ficar em casa nos fim de semana e ficar lendo. Meu pai constantemente viria me dizer, “você tem que sair mais, curtir mais”. E aí, apesar de gostar daquilo que fazia, me sentia, de alguma forma, culpado por não estar “curtindo” mais a vida. Também lembro de um amigo meu, quando contei pra ele que tinha virado vegetariano e que não ia mais beber(bebidas alcoólicas, claro). Ele dizia pra mim, “você é louco, eu jamais faria algo como isso. Se eu to nessa vida é pra aproveitar os prazeres que ela me dá”. Ou seja, realmente somos pressionados a gozarmos o máximo possível desses prazeres. Como Bauman diz, não conseguimos mais pensar em projetos de vida, em sacrificar um prazer aqui para ter algo melhor mais à frente. Isso parece ser ideia de alguém que não aproveita a vida que lhe foi dada.
Talvez isso se dê porque hoje nós abominamos os conceitos antigos da igreja, que diziam que devemos sacrificar nossos prazeres por uma vida melhor após a morte. Hoje percebemos que o que mais importa é ser feliz em vida, e por isso queremos aproveita-la, e ser feliz agora. Ou também pode ser uma forma de fugir daquele modo de vida que Freud trouxe em “o mal-estar na civilização”, onde reprimíamos nossos desejos o tempo todo. Agora vivemos o oposto disso, parece que ainda não encontramos um equilíbrio no nosso modo de viver.
Daí então, nos forçamos a parecer felizes o tempo todo para os outros. O grande exemplo para isso é o Facebook. Queremos o tempo todo postar mensagens bonitas, mostrando para os outros nosso modo de ser feliz, que eles deveriam aprender, ou colocar fotos em lugares legais, onde estamos sorrindo. E mesmo apesar de reconhecer isso, às vezes inconscientemente me vejo caindo nesse padrão. Nesses dias apareceu uma foto minha com alguns amigos onde todos apareciam sorrindo, menos eu, que por algum motivo apareci com uma expressão séria. Minha primeira reação, quase que instintiva, foi querer retirar aquela foto da minha página, mesmo sem nem racionalizar o motivo para aquilo. Parando para pensar, percebi então, que, na verdade, estava me sentindo mal porque não estava parecendo estar feliz para os outros. Bom, resolvi deixa-la, claro. Não quero me importar com o pensamento dos outros tanto assim.
E então penso, seria o nosso consumo excessivo um reflexo ou um produtor de tal pensamento? Porque somos impulsionados o tempo todo, principalmente através das propagandas, a consumir o máximo possível produtos que nos darão prazer ou nos pouparam esforços para algum trabalho. A resposta eu não sei. Provavelmente, ambos. Será que será o próximo passo da sociedade encontrar esse equilíbrio entre o prazer e o sacrifício? Pessoalmente, acredito que sim, mas é apenas um palpite misturado com esperança.




mais dois vídeos suely

no final desse vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=oucHPnTdxaE) e início desse vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=a37DLzOG82g) Suely explica um pouco o que entende por "corpo vibrátil"

Dica Suely

Pessoas
mais um texto onde Suely defende a relação entre o movimento antropofágico e o pensamento de deleuze e cia.

http://www.pucsp.br/nucleodesubjetividade/Textos/SUELY/Antropesquizoan.pdf

segunda-feira, 4 de março de 2013

Alguns conceitos para entender melhor o texto de Suely Rolnik


Alguns conceitos para entender melhor o texto de Suely Rolnik

Retirado de ROLNIK, Suely. Cartografia sentimental – transformações contemporâneas do desejo. Porto Alegre: Sulina/Editora UFRGS, 2011.

Desejo: “consiste no movimento de afetos e de simulação desses afetos em certas máscaras, movimento gerado no encontro dos corpos (...) consiste também num movimento contínuo de desencantamento, no qual, ao surgirem novos afetos, efeito de novos encontros, certas máscaras tornam-se obsoletas; movimentos de quebra de feitiço; afetos que não existem e máscaras que já perderam o sentido” (p. 36)

Existem 3 movimentos do desejo.

Primeiro movimento/linha: “o dos afetos, estes não surgiam de nenhuma espécie de individualidade dos corpos. A própria palavra afetar designa o efeito da ação de um corpo sobre o outro, em seu encontro. Os afetos, portanto, não só surgiram entre os corpos – vibráteis, é claro – como, exatamente por isso, eram fluxos que arrastavam cada um desses corpos para outros lugares, inéditos: um devir, ou seja, o que as linhas de fuga faziam na vida das nossas personagens era, exatamente, desindividualizá-las” (p. 57)

Segundo movimento/linha: “o da simulação, era mobilizado pela perda de sentimento de uma certa figura de mulher, bem como de suas relações amorosas com o homem. Tratava-se de um movimento de semiotização dos afetos desterritorializados: um impulso de atualização de uma nova figura de mulher e suas relações amorosas. As máscaras resultantes desse movimento, operadores que era dos afetos atuais, constituíam – e constituem -, literalmente, as máscaras do tempo. Elas são transubjetivas” (p. 58)

Terceiro movimento/linha: é quando formava-se um aglomerado de máscaras, constituindo novos territórios. E território, no caso, não tinha nada a ver com nem com terra – circunscrição geográfica – nem com grupo – circunscrição de pertencimento. Território, ali, designava máscaras, rituais, balizas de cartografia (...), configurações mais ou menos estáveis que atravessam terras e grupos os mais variados: são transversais, transculturais” (p. 58).

“Às vezes pode-se dizer que as linhas são apenas duas (...): uma linha molecular, inconsciente, invisível, ilimitada, desestabilizadora, nômade, traçada pelas partículas soltas de afeto (...) e uma linha molar, consciente, visível, limitada, feita de estabilidade relativa da segmentação flexível que a simulação vai riscando em sua migração e da segmentação dura dos territórios em seu sedentarismo” (p. 53).

Micro-política e Macro-política: “não tem nada a ver com o “grande” (a sociedade, o Estado...o todo) e “pequeno” (o individual, o intraindividual, o grupal...a parte, a unidade). Não se trata de uma diferença de grau, mas de natureza. Não se trata de uma diferença de tamanho, escala ou dimensão, mas de duas espécies radicalmente diferente de lógica. “Macro” é a política do plano concluído pela terceira linha, do plano dos territórios: mapa. (...) Mapa só cobre o visível. Aliás, de todo o processo de produção de desejo, só nesse plano há visibilidade: é o único captável a olho nu. Também só nesse plano é que individuação forma unidades e a multiplicidade, totalizações. Como havíamos dito, a segmentação operada por essa linha vai recortando sujeitos, definidos por oposições binárias do tipo homem/mulher, buguês/proletário, jovem/velho, branco/negro etc” (p. 59 e 60)

“”Micro” é a política do plano gerado na primeira linha: cartografia. O princípio da individuação, neste caso, é inteiramente outro: não há unidades. Há apenas intensidades, com sua longitude e sua latitude; lista de afetos não subjetivados, determinados pelos agenciamentos que o corpo faz, e, portanto, inseparáveis de suas relações com o mundo” (p. 60)

Cartografia: “A prática de um cartógrafo diz respeito, fundamentalmente, às estratégias das formações do desejo no campo social” (p. 65). “O que ele quer é mergulhar na geografia dos afetos e, ao mesmo tempo, inventar pontes para fazer a sua travessia: pontes de linguagem” (p. 66)

Corpo vibrátil: é a capacidade subcortical de nosso corpo. Nosso corpo tem duas capacidades. A cortical, “que corresponde a percepção que nos permite apreender o mundo em suas formas para, em seguida, projetar as representações de que dispomos, de modo a lhes atribuir sentido”. A subcortical, “que por conta da repressão nos é mais desconhecida, nos permite apreender a alteridade em sua condição de campo de forças vivas que nos afetam e se fazem presentes em nosso corpo sob a forma de sensações. (...) Com ela, o outro é uma presença que se integra à nossa textura sensível, tornando-se, assim, parte de nós mesmos” (p. 12)

Um texto disponível na net onde o conceito de corpo vibrátil está explicado pode ser lido em http://www.pucsp.br/nucleodesubjetividade/Textos/SUELY/Geopolitica.pdf

Esse texto acima é quase o mesmo do prefácio publicado na nova edição de Cartografia sentimental.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Mais um trabalho que recebeu MB

Naiara


João é um rapaz de 23 anos, solteiro e mora com seus pais. É um rapaz inteligente, aparentemente normal e busca perfeição em tudo que faz.
Quando criança, era muito apegado a sua mãe, adorava imitar seu pai. Apesar de imitá-lo, sentia ciúmes quando o via beijando sua mãe e como consequência, fazia muitas birras. Sua mãe achava engraçado, e começava a beijá-lo e a fazer mimos. João sentia como se estivesse flutuando. O menino fazia de tudo para chamar a atenção da sua adorável mãe.
Muito curioso, ao ver o órgão genital de sua mãe pela primeira vez, João não entendeu porque era tão diferente do seu, e ao mesmo tempo aquela diferença o atraía de forma estranha e prazerosa. Aquilo mexia muito com a sua cabecinha. E quanto mais mimos e carinho sua mãe lhe dava, ele queria beijá-la e abraçá-la como forma de retribuição pelo carinho que recebia.
João era um menino muito sapeca, adorava ficar nu e se exibir para a mãe. Sempre que estava nu, tocava seu pequeno órgão, e quando ereto, fazia questão de mostrá-lo. Sua mãe não entendia o porquê desse narcisismo em relação seu pênis.
Essas atitudes do João podem ser explicadas através do complexo de Édipo. O fato de ele estar com ciúmes, quer dizer que o mesmo está apaixonado pela mãe e quer afastar seu pai. 
Segundo o complexo de Édipo, o pênis atrai a mão (isso explica, porque João adorava ficar nu e se tocando). Por volta de três, quatro anos todos os meninos focalizam seu prazer sobre o pênis. Nessa idade, o órgão peniano torna-se a parte do corpo mais rica em sensações e impõe-se como a zona erógena dominante, uma vez que o prazer por ele proporcionado à criança torna-se a referência principal de todos os outros prazeres corporais. A pregnância imaginária do pênis é tamanha que o menino faz dele seu objeto narcísico mais precioso, a coisa pela qual tem mais apego e orgulho de possuir (João, adorava se exibir para a mãe). Assim, tal culto do pênis eleva o primeiro órgão, ao nível de símbolo do poder absoluto e da força viril.
Lúcia, a mãe de João, ficaria assustada com essas explicações. “- Como assim, meu filho apaixonado por mim?” Calma dona Lúcia, calma. Toda criança (menino/menina) passa pelo mesmo processo, seu filho não é o único. O complexo de Édipo se faz necessário, pois é através dele que a criança progressivamente descobre o pudor, descobre o sentimento de culpa, o senso moral e estabelece sua identidade sexual de homem ou mulher.  Lúcia continuou confusa.
 Bem, me deixa explicar melhor. Com quatro anos de idade filho já sente excitação peniana. Por ter o falo, ele se julga poderoso e onipotente. Ao mesmo tempo, ele tem vontade de possuí-la e eliminar o seu marido. João sente prazer em fantasiar seus desejos incestuosos, mas ele acredita que seu pai o punirá, castrando-o. Ao vê-la nua, ele percebe a ausência de um pênis, isso faz com que sinta mais medo de ser punido. Angustiado, prefere renunciar a desejá-la e salvar se pênis. Chega um tempo que João esquecerá tudo: desejos, fantasias e angústias; nessa fase ele irá separar-se sexualmente e passa a adotar a moral de vocês. Compreenderá que seu pai é um homem e você uma mulher e aos poucos, saberá que pertence à linha dos machos. Lúcia continua assustada: “- Santo Deus! Quanta coisa passando pela cabeça do meu filhote, que complicação!”.
Por ser uma mãe super dedicada, Lúcia chegava a exagerar nos cuidados com o seu filho. Tratava-o feito um bebê, mesmo quando o garoto estava em uma das fases mais complicadas de sua vida: a ADOLESCÊNCIA. Essa atitude de sua mãe fez com que João se tornasse um garoto um pouco rebelde e mal humorado. Ele era apaixonado por uma garota da mesma idade e vivia fantasiando um namoro com ela. Annie, segundo João, era a garota mais linda do mundo e qualquer pessoa que a namorasse, tiraria a sorte grande. Ele sempre ia ao clube que ficava próximo à sua casa. Certo dia a encontrou lá, e pela primeira vez a viu de biquíni. Nossa!Que maravilha, como era linda, João ficou tão extasiado que nem havia percebido a ereção do seu pênis. Sem reação, foi pra casa, e não parava de pensar na sua pequena. “Nossa, que sensação! O que era aquilo?” Ao chegar em casa, foi diretamente pro banheiro, e novamente lembrou da cena...sentiu a mesma sensação mas agora com uma vontade incontrolável de se tocar, e quanto mais pensava, mais dava vontade de se tocar. E foi bom, muito bom. A partir daquele dia, João passou a se masturbar com frequência e sempre descobria algo novo com a prática da masturbação.  Até que um dia foi surpreendido por sua mãe que ficou horrorizada. Sem saber o que fazer, tentou explicar-se, mas de nada adiantara. Depois desse flagra, João tentou não se masturbar, mas não conseguia. Ao mesmo tempo em que sentia prazer durante a masturbação, depois do gozo, sentia-se culpado, ao lembrar-se da reprovação de sua mãe.
- Lúcia, você era menos conservadora! Você está punindo seu filho como se ele estivesse cometido um crime. Muito cuidado, pois se descobriu que o homem se torna neurótico porque não pode suportar a medida de privação que a sociedade lhe impõe, em prol dos seus ideais culturais, e concluiu-se então que, se estas exigências fossem bem atenuadas, isso significaria um retorno a possibilidades de felicidade. Portanto minha cara, não reprove seu filho, e nem o prive de desfrutar tal prazer. A masturbação é normal em garotos da idade dele.  Veja bem, seu filho está numa fase de transição, na qual ele deixa de ser criança e passa a ser um adolescente. Quando criança, ele tem de escolher proteger você ou o pênis. Lógico que ele escolherá seu pênis e irá abandoná-la. Ao te renunciar, ele dessexualiza você e o seu marido e recalca desejos, fantasias e angústias.  Aliviado, pode agora abrir-se a outros objetos desejáveis, mas dessa vez legítimos e adaptados às suas possibilidades reais (o desejo de possuir Annie). Curiosa para saber o que se passa na cabeça do seu filho, ela ainda pergunta confusa: “– Isso ainda é o tal do Édipo”? Exatamente minha cara! O complexo de Édipo terá duas consequências decisivas na estruturação da personalidade do seu filho: por um lado o nascimento de uma nova instância psíquica, o supereu, por outro a confirmação de uma identidade sexual nascida por volta dos dois anos de idade e afirmada mais solidamente após a puberdade. Nessa fase da puberdade ele abandona vocês sexualmente e os mantém como objetos de identificação. Ficou mais claro agora? Espero que sim.
Mesmo maior de idade João nutria o amor que sentia por Annie. Agora seu namoro não era uma fantasia, era real. Sim, eles estavam namorando. Ela foi a melhor coisa que acontecera em sua vida. Antes de começar a namorá-la, João vivia mal humorado e agressivo, principalmente por sua mãe tratá-lo feito uma criança. Ele não era feliz.  Lúcia não entendia o porquê. Seu filho tinha tudo que qualquer rapaz em sua idade desejara ter: carro do ano, bons amigos, estudava na melhor escola da cidade, era o melhor aluno da sua turma e poderia ter a qualquer garota. Mas aí estava o problema, João não queria qualquer garota, ele queria a garota, Annie, a sua amada. Sempre buscava perfeição em tudo o que fazia só para chamar a sua atenção. E ela não o notava, não do jeito que ele queria. Então por mais que tivesse tudo, algo lhe faltava.  E ele sofria muito por não ter o amor daquela pequena. Foi então que tentou suprimir essa falta por caminhos diferentes. Todos eles foram recomendados pelas escolas da vida e foram trilhados pelos homens. A satisfação irrestrita de todas as necessidades se apresenta como a maneira mais tentadora de conduzir a vida, mas significa pôr gozo à frente da cautela, trazendo logo o seu próprio castigo. Os métodos mais interessantes para prevenir o sofrimento é apenas sensação, existe somente na medida em que os sentimos, e nós sentimos em virtude em virtudes de certos arranjos de nosso organismo. Para libertar-se desse sofrimento, dessa falta que sentia, João escolheu o método mais cru, mas também mais eficaz: o químico, a intoxicação. Ninguém penetra inteiramente no seu mecanismo, mas há substâncias de fora do corpo que, uma vez presentes no sangue e nos tecidos, produzem sensações imediatas de prazer e também mudam de tal forma as condições de nossa sensibilidade, que nos tornamos incapazes de acolher impulsos desprazerosos. Os dois efeitos não só acontecem ao mesmo tempo, como parecem intimamente ligados. O serviço dos narcóticos na luta pela felicidade e no afastamento da miséria é tão valorizado como benefício, que tanto indivíduos como povos lhes reservam um sólido lugar em sua economia libidinal (isso explica porque João começa a usar drogas, elas compensarão o prazer que ele sentiria ao ter Annie em seus braços). Sabe-se que com a ajuda desse “afasta-tristeza” podemos nos subtrair à pressão da realidade a qualquer momento e encontrar refúgio num mundo próprio que tenha melhores condições se sensibilidade (João sentia-se sufocado por sua mãe tratá-lo feito criança). É notório que justamente essa característica dos entorpecentes determina também o seu perigo e nocividade.
Mais do que nunca João precisava de ajuda. Precisava libertar-se desse vício, ele não lhe causava mais prazer, somente sofrimento. Estaria disposto a deixar de usar drogas se Annie estivesse ao seu lado. Sozinho não teria forças, ele sabia disso. Mesmo com sua mãe apoiando-o, era dele que precisava. Ficou dias sem ir à escola, seus amigos sentiram sua falta, mas foram incapazes de visitá-lo. Annie também sentira falta do seu geniozinho. Sim, ela gostava dele, porém não sabia que se seria retribuída já que o via com diversas garotas ao mesmo tempo. Annie foi a única pessoa a visitar João, e nem sabia o quanto a sua presença seria importante para a sua recuperação.  Ao vê-la em sua casa ficou radiante, acabou criando coragem para  dizer-lhe o quanto era importante para a sua vida e tudo o que fazia era apenas  para chamar a sua atenção; e ela parecia despercebida e nem o notava. Ela rindo, disse-lhe que tudo o que ele fazia era somente afastá-la, já que muitas garotas o cortejava e cada dia ele saia com uma. Esse incidente com o João serviu como ponte para ligá-los. Antes do acontecido os dois malmente trocavam saudações. Annie passou a visitá-lo com frequência e ele foi melhorando dia após dia, sentia-se outra pessoa. Ela agora estava do seu lado, seu porto seguro. Aquele vazio fora preenchido pelo amor que há muito tempo nutria e só agora fora correspondido. Agora sim descobriu a arte de viver, estava feliz de verdade, plenamente realizado. Annie surgiu como uma luz no fim do túnel , melhor dizendo, era a peça chave que faltava para João alcançar a felicidade, estava satisfeito. Amava e era retribuído. O amor sexual o proporcionou a mais forte sensação de prazer avassalador. Eles se completavam em todos os sentidos. Mas João temia que esse sonho bom acabasse, sentia-se inseguro.
 A descoberta do amor sexual proporcionou a João as mais fortes vivências de satisfação, deu-lhe realmente o protótipo de felicidade e isso fez com que ele continuasse a busca de satisfação vital no terreno das relações sexuais, colocando o erotismo genital no centro da vida (Annie era o seu mundo). O rapaz se tornou dependente de maneira preocupante, de uma parte do mundo exterior, ou seja, do objeto amoroso escolhido e fica exposto ao sofrimento máximo quando é por esta desprezado ou a perde graças a morte ou a infidelidade (essas possibilidades tiravam a paz de João). O amor sexual é uma relação entre duas pessoas, na qual uma terceira é talvez supérflua ou importuna, ao passo que a civilização repousa sobre vínculos entre muitas pessoas. No auge de uma relação amorosa não há interesse algum pelo resto do mundo: o poder amoroso basta a si mesmo, não precisa sequer de um filho para se feliz.
O poder que João sentia só de pensar em perder a sua amada era tanto que ele começou a sentir um vazio enorme. Sentia falta de algo e não sabia de quê. O amor que sentia por Annie não era suficiente para preencher esse vazio, embora precisasse dele para seguir em frente.
Nós nos comportamos da mesma forma que o João. Aquilo que chamamos de “felicidade” no sentido mais estrito, vem da satisfação repentina de necessidades altamente represadas, e por sua natureza é possível apenas como fenômeno episódico. Quando uma situação desejada pelo principio do prazer tem prosseguimento, isto resulta apenas em um morno bem-estar; somos feitos de modo a poder fruir intensamente só o contraste, muito pouco o estado. Logo, nossas possibilidades de felicidade são restringidas por nossa constituição. É bem menos difícil experimentar a infelicidade (João sofria só de pensar em perder a sua amada). O sofrer nos ameaça a partir de três lados: do próprio corpo que, fadado ao declínio e a dissolução, não pode sequer dispensar a dor e o medo como sinais de advertência; do mundo externo, que pode se abater sobre nós com forças poderosíssimas, inexoráveis, destruidoras; e por fim, das relações com os outros seres humanos. O sofrimento que se origina desta última fonte, experimentamos talvez mais dolorosamente que qualquer outro; tendemos a considerá-lo um acréscimo um tanto supérfluo, ainda que fosse tão fatidicamente inevitável quanto ao sofrimento de outra origem.
Resumindo, nós nunca estamos satisfeitos. Sempre que conseguirmos alcançar o que desejamos, nossas satisfações serão momentâneas e logo depois buscaremos outra fonte de prazer, por que já nos saciamos daquela outra. Parece fora de dúvida que não nos sentimos bem em nossa atual civilização, mas é difícil julgar se, e em que medida, os homens de épocas anteriores sentiram-se mais felizes, e que papel desempenharam nisto suas condições culturais.

Mais um trabalho MB


subjeto judith < - > de súbdita, sublevou!
criação – yuri tripodi

Neste conto, emerge o desejo de uma escrita performativa, de uma poesia visual, de uma poética concreta [ou seja lá de que forma possa ser descrita a vontade de que cada mínima escolha signifique]. O desejo é de que o espaçopapel se torne corpo e enuncie! através de seus  espaçamentos irregulares, de suas palavras em parágrafo único e de toda a diagramação criada. Enviesado na afirmação: compor a partir de reflexões/situações em si já é conceito: GRITA este conto que contêm nossos encontros, Freud e inventividade a partir da problemática sobre gênero e identidade sexual.
Obrigado por possibilitar uma criação, de certo modo, livre dentro do âmbito acadêmico.
a partir disso aqui: Ao final do primeiro bloco de estudos (freudianos) vocês deverão entregar um texto, em formato e tamanho livre, que trata sobre o impacto das nossas discussões realizadas até então sobre a compreensão de vocês sobre as subjetividades, seja a subjetividade de vocês em particular ou a de uma outra personagem (dita fictícia ou real). Ou seja, vocês irão selecionar algumas das nossas reflexões realizadas a partir de Freud para analisar a subjetividade de alguém, de como a subjetividade desse alguém é impactada e analisada através das reflexões realizadas em sala de aula.







 
criei.









[...]

subjeto judith < - > de súbdita, sublevou!
 agora a criança recém completou   30
      achando que não passaria dos         27
            joelson publiciza judith aos               21                                                         ,mas
                   coabitam judithjoelson                                                                              desde os
                                                                                    13                                                 .e muit@s outr@s

pouca idade e três tentativas de suicídio. foi duro lidar com a realidade. quase impossível. para (sobre)viver, corriqueiramente, criava mundos de fantasia¹ onde o cabelo batia no joelho e a mãe passava longe de primeiro objeto sexual²; sonhava era com o pau do pai. complexo de édipo não combina com transgênero, pelo menos no caso de judithjoelson, não. esclarecimento: a partir daqui, vamos chamá-la apenas de judith, ela acha soft e eu, emancipador. se não existiu atração libidinosa pelo sexo (supostamente) oposto na relação familiar; existiu, em judith, uma fase fálica de atração imensa por falos. por falos e por falar de falos. e por castrar seu falo. e por falar de falos sem ser castrada. mas era. e muito. em todos os cantos era só paulada. desejava ardentemente que paulada desdobrasse seu significado para um monte de pau junto e misturado, mas era só porrada mesmo. violência de todos os tipos. e ardia. na escola, seu jeito de corpo³ era massacrado pelos colegas homenzinhos. as meninas ignoravam judith. andava sozinha pelo pátio do católico colégio. católico e evangelizador. a professora de religião um dia afirmara em aula aberta: “nota-se que esse indivíduo (aponta) não possui vestígio de amor no coração”. judith não retrucava, não reagia. tudo era implosão era inscrição era grito de sufoco inaudível.  o corpo somatiza agressões. os pais desejavam um filhO segundo regras heteronormachistas. agiam com perversidade4 quando judith aparecia com saias roubadas de suas primas. não por serem roubadas: a diversidade do desejo incomoda quem o vive no padrão. o pai batia com cabo de vassoura, cabo de aço, queria dar cabo daquela aberração. o tipo de violência da mãe era mais sutil: ataque à surdina ao subconsciente. na tentativa de salvá-la do mau, realizava exercícios diários para engrossar-lhe a voz, comprava carrinhos, roupas largas e misturava judith com os meninos da rua de baixo. tudo em parceria com uma psicóloga que interpretava freud e judith da seguinte maneira: “devemos domesticar seu instinto para viver em cultura, se adequar à sociedade, portanto, normatizaremos e normalizaremos às atitudes de seu filho”. segundo elas, judith era anormal. por incrível que pareça, a porrada da mãe doía mais. imaginem o aparelho psíquico deste corpo que quase tudo era desprazer; se este aparelho é realmente comandado pela falta: faltava em judith qualquer prazer em vida. aliás minto, o desejo por falos & falas resistia. o id de judith era povoado (os sonhos elucidavam) por ambiências onde poderia reconhecer-se, fuder com paus carinhosos e (com)partilhar, mas o supergo só inibia, punia, reprimia, ditava, tentava normatizar e padronizar nossa anti-heroína. e depois da primeira pulsão para retornar ao feto, ao nada; depois da primeira tentativa de suicídio [aos 13 anos] é na heroína que busca escapar do sofrimento. judith que poderia ser butler, aos 13, drogada e prostituída. pois pois, foge de casa depois de suspeitar que a mãe dera por falta dos 7 tarjas preta que tinha tomado num gole único para parar de sofrer. mas não foi desta vez: o corpo repulsou, num movimento espiral kundalini, todos os remédios em vômito. ela, mesmo fraca e meio dopada, fugiu. foi com os backstreet boys anteriormente citados, invocados e evocados por sua mãe, que ela conheceu o submundo. depois de insistir um bocado, se alojou na casa do boy mais velho. mas o boy sem magia só manteria judith em sua house por very money. e ela começou a conhecer os paus a partir daí. e ela começou a esconder o pau a partir daí. se tornou puta pra pagar a casa, manter o vício e chupar os paus. ressurgiu transex para rebater as (o)pressões, afirmar a vontade e (r)existir no mundo. mas tudo era meio escondido, travestido pra noite ainda. todavia, fazia da chupação de paus e do contexto libertador pulsão de vida. e de fato, quanta vida pulsa(va) naquele ambiente prostitutivo. começou a se relacionar com o que havia de comum naquelas subjetividades: confidências, reclamações sobre o sebo no pau de um velho rodado, batons vermelho, rosa e laranja e púrpura, troca de agulhadas & canivetes, arranhões, namoro com usuário e traficante [...] seguiu vivendo assim até os 20 com poucas queixas, alguma cautela e hematomas das agulhas e das brigas com clientes, amigas e afetos. aos 21 já meio magra demais e depois de ter passado por 9 casas [entre moradas e clubs] resolve roubar um amante pra bombar os seios e retirar o pinto. bombadêra FUDEU! -------------- > ele descobre a ladra, persegue, recupera parte da grana e faz um X no coração de judith. ela, que havia marcado a cirurgia de REDESIGNAÇÃO no estrangeiro, mas o peito arriscou na agulhada baiana, sofre uma hemorragia pela profundidade do rasgo em seu tórax | a house caiu, judith |ainda neste ano, depois do coma e da suposta recuperação, cai numa depressão abissal. numa pulsão de morte, injeta uma quantidade de heroína para acabar com a tristeza, mas também não foi desta vez. passa mais dias totalmente inconsciente e, muito debilitada, segue a vida sem muito esforço físico e diminui o ritmo dos picos pra não doer tanto os músculos. sobrevive através de uma ajuda do estado, que conseguiu através de um sufoco outro, para manter-se. judith vive, a partir da saída do hospital, como JUDITH 24 horas. isso lhe dá uma expectativa-perspectiva de vida, pelo gosto que tinha de ser outra coisa, muito diferente daquilo que era imposto e induzido para representar. vive numa casa humilde e úmida e fantasia um amor romântico. consequência da carência de carinho, eu acho. nunca se relacionou com um pau carinhoso na vida, seu id de vez em sonho reclamava. numa das idas à padaria, aos 27, apaixona-se por um cara que lembra muitíssimo seu pai. ele trabalhava como atendente que verifica a mercadoria, não me recordo o nome exato dessa profissão. o pau dele ficava marcado na calça. judith, que não comia massas, passa a comprar pão todo santo dia [se é que neste conto os dias sejam santos]. sensualizava, com sua pequena bunda empinada, para o cafusú estonteante. todos os céticos dias. um a um. dobrava-se toda quando passava pela sessão de achocolatados. ele reparou nela um dia. talvez pela curiosidade da manobra de corpo rotineira, talvez por achar bonito seu cabelo. talvez. judith esperou acabar o horário do expediente e levou o bofe pra casa. fuderam delícia. tesão sem tensão. dormiram juntos, abraçados na conchinha clichê. o carinho-amasso durou seis meses. seis meses de obsessão da anti-heroína que largou a droga e se viciou no macho. seis meses de diversão para o bofe, que não agrediu judith, não a ofendeu, mas enjoou de seu grude depois dos repetidos seis meses. ele foi viver a vida sem pressa, presa ou pressão. ela retomou a (de)pressão de outras épocas: a exclusão + as pauladas + o abandono + a falta de carinho + a opressão social de toda uma vida fizeram judith estagnar. inscrições traumáticas, para judith, foram irreversíveis & insuperáveis. ela suportou três anos mais de choro diário e, recém completados os 30, conseguiu finalmente dar cabo com a dor sem odor: se jogou da janela do 13º andar e antes de cair no chão
                                                                                                                                            MORREU
de ataque cardíaco.
                                         
                            
¹ neurose de homem(?) esquizo: Freud tenta explicar.
² segundo Freud: “(...) os primeiros objetos sexuais de uma criança são as pessoas que se preocupam com sua alimentação, cuidados e proteção: isto é, no primeiro caso, sua mãe ou quem quer que a substitua.” (FREUD, 1914/1996, p.94).
³ não utilizarei, propositalmente, adjetivações que reforcem a dicotomia feminino e masculino, nem tampouco feminilizado ou masculinizado para caracterizar o jeito de corpo de judith.
4 pessoas em atitudes perversas não abdicam do seu prazer para que o outro sinta-se bem.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Vídeos bloco Deleuze/Guattari


https://www.youtube.com/watch?v=jXi8eNHlSM4
https://www.youtube.com/watch?v=hUj-UmEvITE
http://www.youtube.com/watch?v=Bkvqrta5mnw

Outro trabalho MB


ROBERTA DE ARAÚJO LANTYER DUARTE

A SUBJETIVIDADE E A FORMAÇÃO DA LOUCURA DE LAURA NO CONTO “A IMITAÇÃO DA ROSA”, DE CLARICE LISPECTOR.


O CONTO E LAURA
No conto “A imitação da rosa”, publicado em 1960, no livro “Laços de Família”, Clarice Lispector mostra o processo de formação da “loucura” de Laura. Laura é uma dona de casa que acabara de passar por um tratamento a base de choques insulínicos (que era comumente utilizado em pacientes esquizofrênicos).
O texto mostra a rotina de uma mulher submissa ao marido, Armando, e ao autoritarismo de Carlota, sua amiga.  Uma mulher que estava mentalmente doente, mas que “agora estava de novo ‘bem’” e voltaria a sua rotina modesta e “à sua insignificância reconhecida”, de completa desatenção. Seu rosto era modesto, suave, tudo nela era castanho, sua pele, seu cabelo, seus olhos, afinal: “Ter cabelos pretos ou louros eram um ex­cesso que, na sua vontade de acertar, ela nunca ambicionara.”.
Laura era uma mulher que vivia sem excessos. Buscava a perfeição, tinha um gosto pelo método, pela limpeza e pelo detalhe e “horror a confusão”. Laura era também um pouco lenta e cuidadosa. Ela “nunca ambicionara senão ser a mulher de um ho­mem” e nesta ideia se inclui passar-lhe as roupas e atendê-lo no que fosse necessário e, além de tudo, dar-lhe um filho – objetivo que ela não conseguira alcançar e que lhe deixara com uma sensação de fracasso, ofensa.
Laura, recém “curada” de sua doença, seguia o tratamento que seu médico que receitara: tomava um copo de leite após todas as refeições para evitar a ansiedade. Esta ação, segundo o médico, devia ser feita sem a preocupação, pois ela deveria fazer tudo natural e suavemente, sem ansiedade, para que se  “curasse” definitivamente. Em meio a ansiedade de tomar obrigatoriamente seus copos de leite naturalmente, Laura se apaixona pela beleza das rosas que havia comprado na feira. A partir de agora Laura luta para não entrar novamente em estado de “loucura”, o que será impossível.

A MENINA LAURA
O que faz com que uma mulher desenvolva um comportamento como o de Laura? Como se forma a subjetividade de uma mulher como Laura? Vamos pensar nestas questões a partir de algumas ideias de Freud.
Em primeiro lugar é preciso pensar como esta mulher desenvolveu sua subjetividade enquanto criança, menina. Pensando na formação do Édipo a partir do livro de Nasio, “Édipo – O complexo do qual nenhuma criança escapa” e, mais especificamente, do capítulo dois – “O Édipo da Menina”, podemos dizer que processo do Complexo de Édipo da menina é diferente e mais lento que o do menino, visto que, na menina existe o período “pré-edipiano”, quando ela é como o menino e tem a mesma sensação de poder fálico e sexualiza a mãe; depois ela passa pelo “tempo de solidão”, quando ela percebe o seu corpo como diferente do corpo do menino, percebe o pênis do menino; neste momento a menina tem a sensação de que não detém o poder que outrora acreditava possuir; “... ela nota que saiu perdendo, e sente esse fato com desvantagem e razão para inferioridade” (FREUD, 1924, p. 211/212), quem detém o falo na verdade é o menino, então, ela se sente enganada pela mãe por ter lhe feito acreditar que possuía o falo, tendo o que Nasio chama de ‘dor da humilhação’ - quando a menina “se recente de uma privação”, ao contrário do menino, que “vivia a angústia de ter a perder”. Após esta fase a menina passa pelo “tempo do Édipo”, o qual, enfim, sexualiza o sexo oposto, seu pai. Neste momento a menina, ressentida com a mãe, quer que o pai lhe dê o seu falo; tendo seu desejo negado, parte para a tentativa de ser o falo do pai e, paralelamente, admira o poder de sedução da mãe, sofrendo mais uma recusa por parte do pai, a menina resolve o Édipo com o desejo de ser o pai, segundo Nasio: “Eis por que digo que a dessexualização do pai é, no fundo um luto: a menina chora o pai sexualizado e o faz reviver dessexualizado nela” (NASIO, 2007, p. 57)
Todo este processo se refere à formação de uma neurótica “normal”. Para Laura, provavelmente, o complexo não tomou estes mesmos caminhos. Analisando sob este prisma podemos sugerir que, talvez, o complexo de Édipo de Laura fora interrompido antes que se pudesse fechar o círculo. Laura provavelmente não resolveu o Édipo, ela não conseguiu superar a “dor da humilhação”, se sentindo inferiorizada diante do Falo masculino, criando uma submissão não só ao pênis, mas ao que este Falo representa, e que explica a sua submissão a Carlota, autoritária, como se Carlota também possuísse o Falo o qual ela foi privada. É possível pensar que, após entrar no Édipo e sexualizar o pai e, após as renúncias, provavelmente muito severas deste pai, esta menina, ao invés de seguir com o complexo e finalizar o Édipo, tenha voltado à fase anterior, de dor pela humilhação de ter sido enganada.
Mas eu me pergunto: para onde foi esta dor, esta agressividade? Bem, uma possibilidade seria que esta menina se rebelasse contra a mãe “mentirosa” e se tornasse uma pessoa agressiva. Mas isto não aconteceu com Laura, ao contrário, ela não demonstra nenhum tipo de agressividade e até “também tomava cuidado para não cacetear a empregada que às vezes continha a impaciência e ficava um pouco malcriada, a culpa era mesmo sua porque nem sempre ela se fazia respeitar.”. Desta forma, suponho que a relação de Laura com sua mãe fosse de amor excessivo, esta mãe, provavelmente, não lhe deu espaço para a revolta, pois como mostra Freud em “O mal-estar na civilização”, pensando em “Psicanálise e personalidade total” de Franz Alexander, que retoma os estudos de Aichhorn:
O pai ‘brando e indulgente além da conta’ favorece na criança a formação de um Super-eu demasiado rigoroso, porque, sob a impressão do amor que recebe, esse filho não terá outra alternativa para sua agressividade que não voltá-la para dentro. (FREUD, 1929)
Esta agressividade de Laura, voltada para dentro, pode explicar o seu sentimento de culpa excessivo, visto que o seu Super-eu é, por demais, rigoroso. Por isso Laura tem esta obstinação pela perfeição, pelo detalhe, pela limpeza. Ela se acha inferior, humilhada pela falta do falo, então, procurava esta perfeição, imposta pelo Super-eu, em outros objetos. Como nas gavetas que “chegava a desarrumá-las para poder arrumá-las de novo” e, mais tarde, na beleza perfeita da rosa, que lhe devolverá ao estado de loucura.

LAURA E A CIVILIZAÇÃO
Sabendo da formação interrompida do Édipo de Laura, é possível pensar como se dá o que Freud chama de “Princípio de Prazer” e “Princípio de Realidade” na subjetividade de Laura.
Para Freud o “princípio do prazer” é o que rege a vida humana. O “princípio de realidade” vem para represar algumas pulsões do homem; é o que permite a vida em sociedade.  
Em uma mulher como Laura, com um Super-eu tão severo, o “princípio da realidade” sufoca o “princípio do prazer”, deixando as sua pulsões, todas, represadas. Este Super-eu faz com que Laura mantenha seu transtorno por limpeza:
Beleza, limpeza e ordem ocupam claramente um lugar especial entre as exigências culturais. Ninguém dirá que elas são importantes para a vida como o domínio das forças naturais e outros fatores que ainda veremos, mas ninguém as porá em segundo plano, como coisas acessórias. (FREUD, 1929, p.38)
Partindo desta citação de Freud, podemos pensar em um aspecto que, a meu ver, é um dos mais importantes no que se refere ao processo que permite que Laura chegue à loucura. Trata-se da beleza.
A beleza está, durante todo o conto, num lugar de incômodo para Laura. Laura se sente inferior, por isso não almeja (ou declara não almejar) a beleza: “‘Não tem importância que eu engorde’, pen­sou, o principal nunca fora a beleza.”. Por outro lado a beleza da rosa a incomoda: “Mas, sem saber por quê, estava um pouco constrangida, um pouco perturbada. Oh, nada demais, apenas acontecia que a beleza extrema incomodava.”.
Perturbada com a beleza das rosas que “pareciam artificiais”, Laura entra em profunda confusão. Há, na realidade, uma luta entre o seu Id, que quer as rosas, que quer o prazer de admirá-las e o seu Super-eu, severo, que não lhe permite um pouco de prazer:
Mas a atenção não podia se manter muito tempo como simples atenção, transformava-se logo em suave prazer, e ela não conseguia mais analisar as rosas, era obri­gada a interromper-se com a mesma exclamação de curio­sidade submissa: como são lindas.”
Laura se vê, então, em um embate entre ficar com as rosas e se permitir este prazer ou entregar as rosas a Carlota. No meio deste embate Laura se utiliza de argumentos para ficar com as rosas sem se sentir culpada:
O fato de não durarem muito parecia tirar-lhe a culpa de ficar com elas, numa obscura lógica de mulher que peca. Pois via-se que iam durar pouco (ia ser rápido, sem perigo).E mesmo — argumentou numa última e vitoriosa rejeição de culpa — não fora de modo algum ela quem quisera com­prar, o vendedor insistira muito e ela se tornava sempre tão tímida quando a constrangiam, não fora ela quem quisera comprar, ela não tinha culpa nenhuma.
Porém o seu Super-eu, que tudo vê, não lhe permite ficar com as rosas, visto que, “sabe” que ela não é digna de tanta beleza, ela não possui o Falo e nem conseguiu um filho para substituir o Falo inexistente.  Sobre este sentimento de culpa Freud explica:
O sentimento de culpa, a dureza da Super-eu, é então o mesmo que a severidade da consciência, é a percepção que tem o eu Eu de ser vigiado assim, a apreciação da tensão entre os seus esforços e as exigências do Super-eu, e o medo ante essa instância critica (subjacente à relação inteira), a necessidade de castigo é um expressão instintual do Eu, que por influência do Super-eu sádico tornou-se masoquista, ou seja, emprega uma parte do instinto para destruição interna nele presente para formar uma ligação erótica com o Super-eu.(FREUD, 1929, p.83)
Com o excessivo sentimento de culpa que rodeia Laura, ela não consegue atingir a felicidade. A civilização é, para ela - que não possui o Falo, que não possui um filho, e que se sente inferior, por isso, submissa – muito pesada. Laura, na verdade, almeja ser a rosa, possuir sua beleza. Laura identifica, na rosa, o seu Falo a tanto almejado. No entanto, ela o perde novamente, perde o que nunca possuíra, “não eram mais suas, como uma carta que já se pôs no correio!”.
 Laura não poderia suportar mais esta interdição, “E as rosas faziam-lhe falta. Haviam deixado um lugar claro dentro dela.” Laura, que não resolveu seu Édipo como deveria, se “tornando” o pai, tenta resolver agora, tardiamente e patologicamente, se tornando a rosa, imitando-a. Laura, que não pode ter prazer na civilização, se refugia, se afasta da civilização afinal: “...o afastamento dos demais é a salvaguarda mais disponível contra o sofrimento que pode resultar das relações humana”(FREUD, 1929, p. 21). Ela vai ao extremo, se refugia na loucura, não pertence mais à civilização, o Super-eu não dita mais as regras. Retornara ao estado de “um barco tranquilo que se empluma nas águas”, à “terrível independência”, à “falta de alerta de fadiga”. Laura deixou de ser uma ‘senhora distinta’ e voltou para a “extravagância”. Laura se tornou novamente “luminosa e inalcançável” e agora permanecia “sentada no sofá sem apoiar as costas, de novo alerta e tranqüila como num trem. Que já partira.”.

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

·       LISPECTOR, Clarice. A Imitação da Rosa. In Laços de família. Disponível em: http://claricelispector.blogspot.com.br/2008/07/imitao-da-rosa.html
·       NASIO, J.D. Édipo – o complexo do qual nenhuma criança escapa. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
·       FREUD, Sigmund. A dissolução do complexo de Édipo (1924). In Jornal de Psicanálise, Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, V. 33, N60/61, PP. 483-9, dezembro de 2000.
·       FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Tradução Paulo César de Souza, - 1° ed. – São Paulo: Penguin Classics Companhia da Letras, 2011.


Mais um trabalho MB


Neste texto, tentarei expor da forma mais objetiva possível, a subjetividade de um personagem caricato das ruas de Salvador, que “causou” muitas confusões em sua breve jornada pelas ruas soteropolitanas. Trata-se do Superoutro, personagem que Edgar Navarro imaginou como um revolucionário lunático que seguia seus instintos e por isso foi condenado pela civilização a qual iremos discutir sobre sua sanidade e subjetividade nas próximas linhas nesta primeira parte do trabalho.  
Capital baiana, final da década de 80, cenário político conturbado e um pleno cenário para a “aparição” de um personagem fictício, mas que é tão real quanto nós. A sua subjetividade exposta em forma de atitudes diante de uma sociedade que para a sua plena existência necessita reprimir o real teor instintivo, chega a ser agressiva em determinados momentos do filme.
Trabalhar a subjetividade de um personagem tão peculiar como o “super-outro”, requer uma tarefa de contextualização histórica a partir de uma visão de sociedade que passa por um momento crítico no que diz respeito a exclusão e desigualdade social. Por vários momentos  o personagem se depara com dificuldades cotidianas comuns a quem viveu naquela época e ao analisarmos a subjetividade deste notório personagem, notamos que há uma linha tênue entre o objetivo e o subjetivo, que se confundem numa série de atitudes que põe em dúvidas a sua lucidez. Lucidez(ou falta dela), que quando comparada numa analise minuciosa as normas cultas da sociedade onde ele está inserido, faz-se refletir sobre não só sua sanidade mental, mas também a sanidade mental da própria sociedade. Como se de repente ele despertasse de um sono profundo, ou se desvinculasse de uma alienação imposta por uma metrópole rodeada por outdoors e modelos de vida a serem seguidos, Superoutro começa sua jornada antes de se descobrir como o super herói revolucionário que há dentro de cada um de nós. Incomodando e tentando de todas as formas chamar atenção, ele é mandando a um manicômio e considerado um esquizofrênico devido aos seus “delírios”. Obviamente ele não se identifica com tal diagnóstico e facilmente escapa do seu exílio e sai pelas ruas de Salvador colocando pra fora todos os seus instintos e vontades em prol de satisfazê-los a qualquer custo. Não seria diferente se cada um de nós resolvesse encarnar um personagem (ou abandonar este personagem civilizado o qual carregamos para viver em sociedade) e nos deixássemos levar pelos instintos mais reprimidos, a custo disso teríamos que nos acostumar a viver em tempos de barbárie e nos restaria passar a viver isolados, bem como nosso personagem em análise. Em seu livro “O Mal-estar na civilização”, Freud caracteriza a civilização como “a soma integral das realizações e regulamentos que distinguem nossas vidas das de nossos antepassados animais, e que servem a dois intuitos, a saber: o de proteger os homens contra a natureza e o de ajustar seus relacionamentos mútuos”. Natureza esta que ele menciona, se trata não só da natureza como a conhecemos, mas  o próprios instintos naturais do homem, que por conta das privações do superego permanecem “adormecidos” no inconsciente. Esses instintos levam  o homem a ser primitivo, e a perceber um enorme incomodo em viver em comunidades e se relacionando com outros homens. Assim, podemos concluir que em comunidade por incrível que pareça, o homem se sente menos poderoso, pois a sua autonomia é estritamente dependente da autonomia de um determinado grupo ou comunidade. No caso de nosso personagem, ele já nasceu numa comunidade e inserido nas suas regras e convivendo mutuamente com pessoas que lhe são de seu agrado, ou não. Em momentos no filme, podemos notar a presença de um agente importante nesse contexto, que talvez sem ele nos tempos atuais fosse impossível a convivência em sociedade. A força representada em forma de pessoas, a polícia, que tem como tarefa manter a “ordem” e a segurança das pessoas, pois sem esta força repressora de um instinto coletivo, nos deixaríamos levar pelos nossos instintos individuais e sem limites nosso instinto de destruição seria letal a todos. Voltando ao contexto em que nosso personagem está inserido, podemos perceber o quão reprimido ele foi desde o começo do filme, e não podemos deixar de notar o quão livre ele foi a ponto de expor sua subjetividade de forma, às vezes, até engraçada em determinados momentos.

O sono de uma sociedade que finge dormir bem.
Em sua frustrada tentativa de tirar a sociedade do seu sono de conforto, o super herói encontra seu primeiro obstáculo diante da imposição da ordem de proteção ao próprio sono, quando ele entra num prédio aos berros e quebra uma vidraça jogando uma grande lata de lixo. Mas que sono seria este que ele queria atrapalhar? Não foi meramente coincidência que ele estava agindo daquela forma na madrugada. O sono qual ele se referia, era um sono da sociedade, que dormia diante dos fatos que aconteciam, dormiam para uma realidade a qual ele enxergava e se incomodava. Durante todo o filme, nosso personagem vai de encontro às “normas” cultas de um convívio em sociedade e sofre suas consequências punitivas. Ele vai de encontro a essas normas em vários momentos do filme, seja dançando livremente no meio da rua, defecando na praia e posteriormente fazendo uso de sua “obra” e presenteando o condutor de um carro que passeava pelas ruas da barra na ocasião. O filme possui uma narrativa que mostra o cotidiano de uma pessoa que na maioria das vezes passa despercebido aos olhos de quem esta situado numa civilização como a nossa, um “doido de rua”, como costumamos falar, mas que vive sua realidade assim como as pessoas ditas “normais” na sociedade, sendo que vivem a margem de tudo isso por não estarem inseridos num padrão de vida imposto pela própria sociedade onde vivem. Talvez  o filme tenha essa mensagem subjetiva quando a primeira fala se reporta ao sono em que a sociedade vive, e a sua luta para permanecer “dormindo bem” nele. Essa luta pode ser a causadora de um mal estar que nos acompanha desde que optamos por viver em comunidades, reprimindo os instintos e sobrevivendo em conjunto com outros humanos. De fato, ele consegue “acordar” em partes uma parcela de pessoas que se atentaram a ele, mas ele se viu diante de uma realidade a qual a civilização está fadada a aceitar, realidades melhor dizendo, quando se trata de influências sociais como religião e política, as quais serão melhores abordadas na segunda parte deste trabalho.
  
O “Supereu coletivo” contra  o “Superoutro individual’.
Coletivamente, existe um “supereu” ou superego, que nos motiva não só a permanecer na conduta certa, mas também a nos ater de vigiar quem foge a essa conduta. Freud diz em seu livro que “A substituição do poder do indivíduo pelo poder de uma comunidade constitui o passo decisivo da civilização”, assim, nosso personagem se via dono de seu próprio poder de ser livre, tomava suas decisões baseado-se nas suas imediatas necessidades, e não se encaixava numa sociedade civilizada. E esse impulso de liberdade para Freud “é dirigido contra formas e exigências específicas da civilização ou contra a civilização em geral”. O sentimento coletivo de vigiar quem está fora desta conduta civilizatória será melhor discutido na segunda parte do trabalho, quando entram os conceitos de Foucault. Mas esta luta do Supereu coletivo conta um superoutro individual não se resume somente ao personagem de Navarro, pode-se percebê-la em cada desentendimento entre membros de uma comunidade, ou mesmo de um indivíduo para com a sociedade. O “superoutro” pode muito bem ser representando como o nosso ID (nosso lado instintivo aos olhos de Freud) e a sociedade como o nosso Superego, e paradoxalmente enxergamos no “outro” coletivo algo que temos de individual em nós mesmos, que internalizamos desde o berço.

Autor do texto: Luis Fernando Fróes de Matos