terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Mais um trabalho MB


subjeto judith < - > de súbdita, sublevou!
criação – yuri tripodi

Neste conto, emerge o desejo de uma escrita performativa, de uma poesia visual, de uma poética concreta [ou seja lá de que forma possa ser descrita a vontade de que cada mínima escolha signifique]. O desejo é de que o espaçopapel se torne corpo e enuncie! através de seus  espaçamentos irregulares, de suas palavras em parágrafo único e de toda a diagramação criada. Enviesado na afirmação: compor a partir de reflexões/situações em si já é conceito: GRITA este conto que contêm nossos encontros, Freud e inventividade a partir da problemática sobre gênero e identidade sexual.
Obrigado por possibilitar uma criação, de certo modo, livre dentro do âmbito acadêmico.
a partir disso aqui: Ao final do primeiro bloco de estudos (freudianos) vocês deverão entregar um texto, em formato e tamanho livre, que trata sobre o impacto das nossas discussões realizadas até então sobre a compreensão de vocês sobre as subjetividades, seja a subjetividade de vocês em particular ou a de uma outra personagem (dita fictícia ou real). Ou seja, vocês irão selecionar algumas das nossas reflexões realizadas a partir de Freud para analisar a subjetividade de alguém, de como a subjetividade desse alguém é impactada e analisada através das reflexões realizadas em sala de aula.







 
criei.









[...]

subjeto judith < - > de súbdita, sublevou!
 agora a criança recém completou   30
      achando que não passaria dos         27
            joelson publiciza judith aos               21                                                         ,mas
                   coabitam judithjoelson                                                                              desde os
                                                                                    13                                                 .e muit@s outr@s

pouca idade e três tentativas de suicídio. foi duro lidar com a realidade. quase impossível. para (sobre)viver, corriqueiramente, criava mundos de fantasia¹ onde o cabelo batia no joelho e a mãe passava longe de primeiro objeto sexual²; sonhava era com o pau do pai. complexo de édipo não combina com transgênero, pelo menos no caso de judithjoelson, não. esclarecimento: a partir daqui, vamos chamá-la apenas de judith, ela acha soft e eu, emancipador. se não existiu atração libidinosa pelo sexo (supostamente) oposto na relação familiar; existiu, em judith, uma fase fálica de atração imensa por falos. por falos e por falar de falos. e por castrar seu falo. e por falar de falos sem ser castrada. mas era. e muito. em todos os cantos era só paulada. desejava ardentemente que paulada desdobrasse seu significado para um monte de pau junto e misturado, mas era só porrada mesmo. violência de todos os tipos. e ardia. na escola, seu jeito de corpo³ era massacrado pelos colegas homenzinhos. as meninas ignoravam judith. andava sozinha pelo pátio do católico colégio. católico e evangelizador. a professora de religião um dia afirmara em aula aberta: “nota-se que esse indivíduo (aponta) não possui vestígio de amor no coração”. judith não retrucava, não reagia. tudo era implosão era inscrição era grito de sufoco inaudível.  o corpo somatiza agressões. os pais desejavam um filhO segundo regras heteronormachistas. agiam com perversidade4 quando judith aparecia com saias roubadas de suas primas. não por serem roubadas: a diversidade do desejo incomoda quem o vive no padrão. o pai batia com cabo de vassoura, cabo de aço, queria dar cabo daquela aberração. o tipo de violência da mãe era mais sutil: ataque à surdina ao subconsciente. na tentativa de salvá-la do mau, realizava exercícios diários para engrossar-lhe a voz, comprava carrinhos, roupas largas e misturava judith com os meninos da rua de baixo. tudo em parceria com uma psicóloga que interpretava freud e judith da seguinte maneira: “devemos domesticar seu instinto para viver em cultura, se adequar à sociedade, portanto, normatizaremos e normalizaremos às atitudes de seu filho”. segundo elas, judith era anormal. por incrível que pareça, a porrada da mãe doía mais. imaginem o aparelho psíquico deste corpo que quase tudo era desprazer; se este aparelho é realmente comandado pela falta: faltava em judith qualquer prazer em vida. aliás minto, o desejo por falos & falas resistia. o id de judith era povoado (os sonhos elucidavam) por ambiências onde poderia reconhecer-se, fuder com paus carinhosos e (com)partilhar, mas o supergo só inibia, punia, reprimia, ditava, tentava normatizar e padronizar nossa anti-heroína. e depois da primeira pulsão para retornar ao feto, ao nada; depois da primeira tentativa de suicídio [aos 13 anos] é na heroína que busca escapar do sofrimento. judith que poderia ser butler, aos 13, drogada e prostituída. pois pois, foge de casa depois de suspeitar que a mãe dera por falta dos 7 tarjas preta que tinha tomado num gole único para parar de sofrer. mas não foi desta vez: o corpo repulsou, num movimento espiral kundalini, todos os remédios em vômito. ela, mesmo fraca e meio dopada, fugiu. foi com os backstreet boys anteriormente citados, invocados e evocados por sua mãe, que ela conheceu o submundo. depois de insistir um bocado, se alojou na casa do boy mais velho. mas o boy sem magia só manteria judith em sua house por very money. e ela começou a conhecer os paus a partir daí. e ela começou a esconder o pau a partir daí. se tornou puta pra pagar a casa, manter o vício e chupar os paus. ressurgiu transex para rebater as (o)pressões, afirmar a vontade e (r)existir no mundo. mas tudo era meio escondido, travestido pra noite ainda. todavia, fazia da chupação de paus e do contexto libertador pulsão de vida. e de fato, quanta vida pulsa(va) naquele ambiente prostitutivo. começou a se relacionar com o que havia de comum naquelas subjetividades: confidências, reclamações sobre o sebo no pau de um velho rodado, batons vermelho, rosa e laranja e púrpura, troca de agulhadas & canivetes, arranhões, namoro com usuário e traficante [...] seguiu vivendo assim até os 20 com poucas queixas, alguma cautela e hematomas das agulhas e das brigas com clientes, amigas e afetos. aos 21 já meio magra demais e depois de ter passado por 9 casas [entre moradas e clubs] resolve roubar um amante pra bombar os seios e retirar o pinto. bombadêra FUDEU! -------------- > ele descobre a ladra, persegue, recupera parte da grana e faz um X no coração de judith. ela, que havia marcado a cirurgia de REDESIGNAÇÃO no estrangeiro, mas o peito arriscou na agulhada baiana, sofre uma hemorragia pela profundidade do rasgo em seu tórax | a house caiu, judith |ainda neste ano, depois do coma e da suposta recuperação, cai numa depressão abissal. numa pulsão de morte, injeta uma quantidade de heroína para acabar com a tristeza, mas também não foi desta vez. passa mais dias totalmente inconsciente e, muito debilitada, segue a vida sem muito esforço físico e diminui o ritmo dos picos pra não doer tanto os músculos. sobrevive através de uma ajuda do estado, que conseguiu através de um sufoco outro, para manter-se. judith vive, a partir da saída do hospital, como JUDITH 24 horas. isso lhe dá uma expectativa-perspectiva de vida, pelo gosto que tinha de ser outra coisa, muito diferente daquilo que era imposto e induzido para representar. vive numa casa humilde e úmida e fantasia um amor romântico. consequência da carência de carinho, eu acho. nunca se relacionou com um pau carinhoso na vida, seu id de vez em sonho reclamava. numa das idas à padaria, aos 27, apaixona-se por um cara que lembra muitíssimo seu pai. ele trabalhava como atendente que verifica a mercadoria, não me recordo o nome exato dessa profissão. o pau dele ficava marcado na calça. judith, que não comia massas, passa a comprar pão todo santo dia [se é que neste conto os dias sejam santos]. sensualizava, com sua pequena bunda empinada, para o cafusú estonteante. todos os céticos dias. um a um. dobrava-se toda quando passava pela sessão de achocolatados. ele reparou nela um dia. talvez pela curiosidade da manobra de corpo rotineira, talvez por achar bonito seu cabelo. talvez. judith esperou acabar o horário do expediente e levou o bofe pra casa. fuderam delícia. tesão sem tensão. dormiram juntos, abraçados na conchinha clichê. o carinho-amasso durou seis meses. seis meses de obsessão da anti-heroína que largou a droga e se viciou no macho. seis meses de diversão para o bofe, que não agrediu judith, não a ofendeu, mas enjoou de seu grude depois dos repetidos seis meses. ele foi viver a vida sem pressa, presa ou pressão. ela retomou a (de)pressão de outras épocas: a exclusão + as pauladas + o abandono + a falta de carinho + a opressão social de toda uma vida fizeram judith estagnar. inscrições traumáticas, para judith, foram irreversíveis & insuperáveis. ela suportou três anos mais de choro diário e, recém completados os 30, conseguiu finalmente dar cabo com a dor sem odor: se jogou da janela do 13º andar e antes de cair no chão
                                                                                                                                            MORREU
de ataque cardíaco.
                                         
                            
¹ neurose de homem(?) esquizo: Freud tenta explicar.
² segundo Freud: “(...) os primeiros objetos sexuais de uma criança são as pessoas que se preocupam com sua alimentação, cuidados e proteção: isto é, no primeiro caso, sua mãe ou quem quer que a substitua.” (FREUD, 1914/1996, p.94).
³ não utilizarei, propositalmente, adjetivações que reforcem a dicotomia feminino e masculino, nem tampouco feminilizado ou masculinizado para caracterizar o jeito de corpo de judith.
4 pessoas em atitudes perversas não abdicam do seu prazer para que o outro sinta-se bem.

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