terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Mais um trabalho que recebeu MB

Naiara


João é um rapaz de 23 anos, solteiro e mora com seus pais. É um rapaz inteligente, aparentemente normal e busca perfeição em tudo que faz.
Quando criança, era muito apegado a sua mãe, adorava imitar seu pai. Apesar de imitá-lo, sentia ciúmes quando o via beijando sua mãe e como consequência, fazia muitas birras. Sua mãe achava engraçado, e começava a beijá-lo e a fazer mimos. João sentia como se estivesse flutuando. O menino fazia de tudo para chamar a atenção da sua adorável mãe.
Muito curioso, ao ver o órgão genital de sua mãe pela primeira vez, João não entendeu porque era tão diferente do seu, e ao mesmo tempo aquela diferença o atraía de forma estranha e prazerosa. Aquilo mexia muito com a sua cabecinha. E quanto mais mimos e carinho sua mãe lhe dava, ele queria beijá-la e abraçá-la como forma de retribuição pelo carinho que recebia.
João era um menino muito sapeca, adorava ficar nu e se exibir para a mãe. Sempre que estava nu, tocava seu pequeno órgão, e quando ereto, fazia questão de mostrá-lo. Sua mãe não entendia o porquê desse narcisismo em relação seu pênis.
Essas atitudes do João podem ser explicadas através do complexo de Édipo. O fato de ele estar com ciúmes, quer dizer que o mesmo está apaixonado pela mãe e quer afastar seu pai. 
Segundo o complexo de Édipo, o pênis atrai a mão (isso explica, porque João adorava ficar nu e se tocando). Por volta de três, quatro anos todos os meninos focalizam seu prazer sobre o pênis. Nessa idade, o órgão peniano torna-se a parte do corpo mais rica em sensações e impõe-se como a zona erógena dominante, uma vez que o prazer por ele proporcionado à criança torna-se a referência principal de todos os outros prazeres corporais. A pregnância imaginária do pênis é tamanha que o menino faz dele seu objeto narcísico mais precioso, a coisa pela qual tem mais apego e orgulho de possuir (João, adorava se exibir para a mãe). Assim, tal culto do pênis eleva o primeiro órgão, ao nível de símbolo do poder absoluto e da força viril.
Lúcia, a mãe de João, ficaria assustada com essas explicações. “- Como assim, meu filho apaixonado por mim?” Calma dona Lúcia, calma. Toda criança (menino/menina) passa pelo mesmo processo, seu filho não é o único. O complexo de Édipo se faz necessário, pois é através dele que a criança progressivamente descobre o pudor, descobre o sentimento de culpa, o senso moral e estabelece sua identidade sexual de homem ou mulher.  Lúcia continuou confusa.
 Bem, me deixa explicar melhor. Com quatro anos de idade filho já sente excitação peniana. Por ter o falo, ele se julga poderoso e onipotente. Ao mesmo tempo, ele tem vontade de possuí-la e eliminar o seu marido. João sente prazer em fantasiar seus desejos incestuosos, mas ele acredita que seu pai o punirá, castrando-o. Ao vê-la nua, ele percebe a ausência de um pênis, isso faz com que sinta mais medo de ser punido. Angustiado, prefere renunciar a desejá-la e salvar se pênis. Chega um tempo que João esquecerá tudo: desejos, fantasias e angústias; nessa fase ele irá separar-se sexualmente e passa a adotar a moral de vocês. Compreenderá que seu pai é um homem e você uma mulher e aos poucos, saberá que pertence à linha dos machos. Lúcia continua assustada: “- Santo Deus! Quanta coisa passando pela cabeça do meu filhote, que complicação!”.
Por ser uma mãe super dedicada, Lúcia chegava a exagerar nos cuidados com o seu filho. Tratava-o feito um bebê, mesmo quando o garoto estava em uma das fases mais complicadas de sua vida: a ADOLESCÊNCIA. Essa atitude de sua mãe fez com que João se tornasse um garoto um pouco rebelde e mal humorado. Ele era apaixonado por uma garota da mesma idade e vivia fantasiando um namoro com ela. Annie, segundo João, era a garota mais linda do mundo e qualquer pessoa que a namorasse, tiraria a sorte grande. Ele sempre ia ao clube que ficava próximo à sua casa. Certo dia a encontrou lá, e pela primeira vez a viu de biquíni. Nossa!Que maravilha, como era linda, João ficou tão extasiado que nem havia percebido a ereção do seu pênis. Sem reação, foi pra casa, e não parava de pensar na sua pequena. “Nossa, que sensação! O que era aquilo?” Ao chegar em casa, foi diretamente pro banheiro, e novamente lembrou da cena...sentiu a mesma sensação mas agora com uma vontade incontrolável de se tocar, e quanto mais pensava, mais dava vontade de se tocar. E foi bom, muito bom. A partir daquele dia, João passou a se masturbar com frequência e sempre descobria algo novo com a prática da masturbação.  Até que um dia foi surpreendido por sua mãe que ficou horrorizada. Sem saber o que fazer, tentou explicar-se, mas de nada adiantara. Depois desse flagra, João tentou não se masturbar, mas não conseguia. Ao mesmo tempo em que sentia prazer durante a masturbação, depois do gozo, sentia-se culpado, ao lembrar-se da reprovação de sua mãe.
- Lúcia, você era menos conservadora! Você está punindo seu filho como se ele estivesse cometido um crime. Muito cuidado, pois se descobriu que o homem se torna neurótico porque não pode suportar a medida de privação que a sociedade lhe impõe, em prol dos seus ideais culturais, e concluiu-se então que, se estas exigências fossem bem atenuadas, isso significaria um retorno a possibilidades de felicidade. Portanto minha cara, não reprove seu filho, e nem o prive de desfrutar tal prazer. A masturbação é normal em garotos da idade dele.  Veja bem, seu filho está numa fase de transição, na qual ele deixa de ser criança e passa a ser um adolescente. Quando criança, ele tem de escolher proteger você ou o pênis. Lógico que ele escolherá seu pênis e irá abandoná-la. Ao te renunciar, ele dessexualiza você e o seu marido e recalca desejos, fantasias e angústias.  Aliviado, pode agora abrir-se a outros objetos desejáveis, mas dessa vez legítimos e adaptados às suas possibilidades reais (o desejo de possuir Annie). Curiosa para saber o que se passa na cabeça do seu filho, ela ainda pergunta confusa: “– Isso ainda é o tal do Édipo”? Exatamente minha cara! O complexo de Édipo terá duas consequências decisivas na estruturação da personalidade do seu filho: por um lado o nascimento de uma nova instância psíquica, o supereu, por outro a confirmação de uma identidade sexual nascida por volta dos dois anos de idade e afirmada mais solidamente após a puberdade. Nessa fase da puberdade ele abandona vocês sexualmente e os mantém como objetos de identificação. Ficou mais claro agora? Espero que sim.
Mesmo maior de idade João nutria o amor que sentia por Annie. Agora seu namoro não era uma fantasia, era real. Sim, eles estavam namorando. Ela foi a melhor coisa que acontecera em sua vida. Antes de começar a namorá-la, João vivia mal humorado e agressivo, principalmente por sua mãe tratá-lo feito uma criança. Ele não era feliz.  Lúcia não entendia o porquê. Seu filho tinha tudo que qualquer rapaz em sua idade desejara ter: carro do ano, bons amigos, estudava na melhor escola da cidade, era o melhor aluno da sua turma e poderia ter a qualquer garota. Mas aí estava o problema, João não queria qualquer garota, ele queria a garota, Annie, a sua amada. Sempre buscava perfeição em tudo o que fazia só para chamar a sua atenção. E ela não o notava, não do jeito que ele queria. Então por mais que tivesse tudo, algo lhe faltava.  E ele sofria muito por não ter o amor daquela pequena. Foi então que tentou suprimir essa falta por caminhos diferentes. Todos eles foram recomendados pelas escolas da vida e foram trilhados pelos homens. A satisfação irrestrita de todas as necessidades se apresenta como a maneira mais tentadora de conduzir a vida, mas significa pôr gozo à frente da cautela, trazendo logo o seu próprio castigo. Os métodos mais interessantes para prevenir o sofrimento é apenas sensação, existe somente na medida em que os sentimos, e nós sentimos em virtude em virtudes de certos arranjos de nosso organismo. Para libertar-se desse sofrimento, dessa falta que sentia, João escolheu o método mais cru, mas também mais eficaz: o químico, a intoxicação. Ninguém penetra inteiramente no seu mecanismo, mas há substâncias de fora do corpo que, uma vez presentes no sangue e nos tecidos, produzem sensações imediatas de prazer e também mudam de tal forma as condições de nossa sensibilidade, que nos tornamos incapazes de acolher impulsos desprazerosos. Os dois efeitos não só acontecem ao mesmo tempo, como parecem intimamente ligados. O serviço dos narcóticos na luta pela felicidade e no afastamento da miséria é tão valorizado como benefício, que tanto indivíduos como povos lhes reservam um sólido lugar em sua economia libidinal (isso explica porque João começa a usar drogas, elas compensarão o prazer que ele sentiria ao ter Annie em seus braços). Sabe-se que com a ajuda desse “afasta-tristeza” podemos nos subtrair à pressão da realidade a qualquer momento e encontrar refúgio num mundo próprio que tenha melhores condições se sensibilidade (João sentia-se sufocado por sua mãe tratá-lo feito criança). É notório que justamente essa característica dos entorpecentes determina também o seu perigo e nocividade.
Mais do que nunca João precisava de ajuda. Precisava libertar-se desse vício, ele não lhe causava mais prazer, somente sofrimento. Estaria disposto a deixar de usar drogas se Annie estivesse ao seu lado. Sozinho não teria forças, ele sabia disso. Mesmo com sua mãe apoiando-o, era dele que precisava. Ficou dias sem ir à escola, seus amigos sentiram sua falta, mas foram incapazes de visitá-lo. Annie também sentira falta do seu geniozinho. Sim, ela gostava dele, porém não sabia que se seria retribuída já que o via com diversas garotas ao mesmo tempo. Annie foi a única pessoa a visitar João, e nem sabia o quanto a sua presença seria importante para a sua recuperação.  Ao vê-la em sua casa ficou radiante, acabou criando coragem para  dizer-lhe o quanto era importante para a sua vida e tudo o que fazia era apenas  para chamar a sua atenção; e ela parecia despercebida e nem o notava. Ela rindo, disse-lhe que tudo o que ele fazia era somente afastá-la, já que muitas garotas o cortejava e cada dia ele saia com uma. Esse incidente com o João serviu como ponte para ligá-los. Antes do acontecido os dois malmente trocavam saudações. Annie passou a visitá-lo com frequência e ele foi melhorando dia após dia, sentia-se outra pessoa. Ela agora estava do seu lado, seu porto seguro. Aquele vazio fora preenchido pelo amor que há muito tempo nutria e só agora fora correspondido. Agora sim descobriu a arte de viver, estava feliz de verdade, plenamente realizado. Annie surgiu como uma luz no fim do túnel , melhor dizendo, era a peça chave que faltava para João alcançar a felicidade, estava satisfeito. Amava e era retribuído. O amor sexual o proporcionou a mais forte sensação de prazer avassalador. Eles se completavam em todos os sentidos. Mas João temia que esse sonho bom acabasse, sentia-se inseguro.
 A descoberta do amor sexual proporcionou a João as mais fortes vivências de satisfação, deu-lhe realmente o protótipo de felicidade e isso fez com que ele continuasse a busca de satisfação vital no terreno das relações sexuais, colocando o erotismo genital no centro da vida (Annie era o seu mundo). O rapaz se tornou dependente de maneira preocupante, de uma parte do mundo exterior, ou seja, do objeto amoroso escolhido e fica exposto ao sofrimento máximo quando é por esta desprezado ou a perde graças a morte ou a infidelidade (essas possibilidades tiravam a paz de João). O amor sexual é uma relação entre duas pessoas, na qual uma terceira é talvez supérflua ou importuna, ao passo que a civilização repousa sobre vínculos entre muitas pessoas. No auge de uma relação amorosa não há interesse algum pelo resto do mundo: o poder amoroso basta a si mesmo, não precisa sequer de um filho para se feliz.
O poder que João sentia só de pensar em perder a sua amada era tanto que ele começou a sentir um vazio enorme. Sentia falta de algo e não sabia de quê. O amor que sentia por Annie não era suficiente para preencher esse vazio, embora precisasse dele para seguir em frente.
Nós nos comportamos da mesma forma que o João. Aquilo que chamamos de “felicidade” no sentido mais estrito, vem da satisfação repentina de necessidades altamente represadas, e por sua natureza é possível apenas como fenômeno episódico. Quando uma situação desejada pelo principio do prazer tem prosseguimento, isto resulta apenas em um morno bem-estar; somos feitos de modo a poder fruir intensamente só o contraste, muito pouco o estado. Logo, nossas possibilidades de felicidade são restringidas por nossa constituição. É bem menos difícil experimentar a infelicidade (João sofria só de pensar em perder a sua amada). O sofrer nos ameaça a partir de três lados: do próprio corpo que, fadado ao declínio e a dissolução, não pode sequer dispensar a dor e o medo como sinais de advertência; do mundo externo, que pode se abater sobre nós com forças poderosíssimas, inexoráveis, destruidoras; e por fim, das relações com os outros seres humanos. O sofrimento que se origina desta última fonte, experimentamos talvez mais dolorosamente que qualquer outro; tendemos a considerá-lo um acréscimo um tanto supérfluo, ainda que fosse tão fatidicamente inevitável quanto ao sofrimento de outra origem.
Resumindo, nós nunca estamos satisfeitos. Sempre que conseguirmos alcançar o que desejamos, nossas satisfações serão momentâneas e logo depois buscaremos outra fonte de prazer, por que já nos saciamos daquela outra. Parece fora de dúvida que não nos sentimos bem em nossa atual civilização, mas é difícil julgar se, e em que medida, os homens de épocas anteriores sentiram-se mais felizes, e que papel desempenharam nisto suas condições culturais.

Mais um trabalho MB


subjeto judith < - > de súbdita, sublevou!
criação – yuri tripodi

Neste conto, emerge o desejo de uma escrita performativa, de uma poesia visual, de uma poética concreta [ou seja lá de que forma possa ser descrita a vontade de que cada mínima escolha signifique]. O desejo é de que o espaçopapel se torne corpo e enuncie! através de seus  espaçamentos irregulares, de suas palavras em parágrafo único e de toda a diagramação criada. Enviesado na afirmação: compor a partir de reflexões/situações em si já é conceito: GRITA este conto que contêm nossos encontros, Freud e inventividade a partir da problemática sobre gênero e identidade sexual.
Obrigado por possibilitar uma criação, de certo modo, livre dentro do âmbito acadêmico.
a partir disso aqui: Ao final do primeiro bloco de estudos (freudianos) vocês deverão entregar um texto, em formato e tamanho livre, que trata sobre o impacto das nossas discussões realizadas até então sobre a compreensão de vocês sobre as subjetividades, seja a subjetividade de vocês em particular ou a de uma outra personagem (dita fictícia ou real). Ou seja, vocês irão selecionar algumas das nossas reflexões realizadas a partir de Freud para analisar a subjetividade de alguém, de como a subjetividade desse alguém é impactada e analisada através das reflexões realizadas em sala de aula.







 
criei.









[...]

subjeto judith < - > de súbdita, sublevou!
 agora a criança recém completou   30
      achando que não passaria dos         27
            joelson publiciza judith aos               21                                                         ,mas
                   coabitam judithjoelson                                                                              desde os
                                                                                    13                                                 .e muit@s outr@s

pouca idade e três tentativas de suicídio. foi duro lidar com a realidade. quase impossível. para (sobre)viver, corriqueiramente, criava mundos de fantasia¹ onde o cabelo batia no joelho e a mãe passava longe de primeiro objeto sexual²; sonhava era com o pau do pai. complexo de édipo não combina com transgênero, pelo menos no caso de judithjoelson, não. esclarecimento: a partir daqui, vamos chamá-la apenas de judith, ela acha soft e eu, emancipador. se não existiu atração libidinosa pelo sexo (supostamente) oposto na relação familiar; existiu, em judith, uma fase fálica de atração imensa por falos. por falos e por falar de falos. e por castrar seu falo. e por falar de falos sem ser castrada. mas era. e muito. em todos os cantos era só paulada. desejava ardentemente que paulada desdobrasse seu significado para um monte de pau junto e misturado, mas era só porrada mesmo. violência de todos os tipos. e ardia. na escola, seu jeito de corpo³ era massacrado pelos colegas homenzinhos. as meninas ignoravam judith. andava sozinha pelo pátio do católico colégio. católico e evangelizador. a professora de religião um dia afirmara em aula aberta: “nota-se que esse indivíduo (aponta) não possui vestígio de amor no coração”. judith não retrucava, não reagia. tudo era implosão era inscrição era grito de sufoco inaudível.  o corpo somatiza agressões. os pais desejavam um filhO segundo regras heteronormachistas. agiam com perversidade4 quando judith aparecia com saias roubadas de suas primas. não por serem roubadas: a diversidade do desejo incomoda quem o vive no padrão. o pai batia com cabo de vassoura, cabo de aço, queria dar cabo daquela aberração. o tipo de violência da mãe era mais sutil: ataque à surdina ao subconsciente. na tentativa de salvá-la do mau, realizava exercícios diários para engrossar-lhe a voz, comprava carrinhos, roupas largas e misturava judith com os meninos da rua de baixo. tudo em parceria com uma psicóloga que interpretava freud e judith da seguinte maneira: “devemos domesticar seu instinto para viver em cultura, se adequar à sociedade, portanto, normatizaremos e normalizaremos às atitudes de seu filho”. segundo elas, judith era anormal. por incrível que pareça, a porrada da mãe doía mais. imaginem o aparelho psíquico deste corpo que quase tudo era desprazer; se este aparelho é realmente comandado pela falta: faltava em judith qualquer prazer em vida. aliás minto, o desejo por falos & falas resistia. o id de judith era povoado (os sonhos elucidavam) por ambiências onde poderia reconhecer-se, fuder com paus carinhosos e (com)partilhar, mas o supergo só inibia, punia, reprimia, ditava, tentava normatizar e padronizar nossa anti-heroína. e depois da primeira pulsão para retornar ao feto, ao nada; depois da primeira tentativa de suicídio [aos 13 anos] é na heroína que busca escapar do sofrimento. judith que poderia ser butler, aos 13, drogada e prostituída. pois pois, foge de casa depois de suspeitar que a mãe dera por falta dos 7 tarjas preta que tinha tomado num gole único para parar de sofrer. mas não foi desta vez: o corpo repulsou, num movimento espiral kundalini, todos os remédios em vômito. ela, mesmo fraca e meio dopada, fugiu. foi com os backstreet boys anteriormente citados, invocados e evocados por sua mãe, que ela conheceu o submundo. depois de insistir um bocado, se alojou na casa do boy mais velho. mas o boy sem magia só manteria judith em sua house por very money. e ela começou a conhecer os paus a partir daí. e ela começou a esconder o pau a partir daí. se tornou puta pra pagar a casa, manter o vício e chupar os paus. ressurgiu transex para rebater as (o)pressões, afirmar a vontade e (r)existir no mundo. mas tudo era meio escondido, travestido pra noite ainda. todavia, fazia da chupação de paus e do contexto libertador pulsão de vida. e de fato, quanta vida pulsa(va) naquele ambiente prostitutivo. começou a se relacionar com o que havia de comum naquelas subjetividades: confidências, reclamações sobre o sebo no pau de um velho rodado, batons vermelho, rosa e laranja e púrpura, troca de agulhadas & canivetes, arranhões, namoro com usuário e traficante [...] seguiu vivendo assim até os 20 com poucas queixas, alguma cautela e hematomas das agulhas e das brigas com clientes, amigas e afetos. aos 21 já meio magra demais e depois de ter passado por 9 casas [entre moradas e clubs] resolve roubar um amante pra bombar os seios e retirar o pinto. bombadêra FUDEU! -------------- > ele descobre a ladra, persegue, recupera parte da grana e faz um X no coração de judith. ela, que havia marcado a cirurgia de REDESIGNAÇÃO no estrangeiro, mas o peito arriscou na agulhada baiana, sofre uma hemorragia pela profundidade do rasgo em seu tórax | a house caiu, judith |ainda neste ano, depois do coma e da suposta recuperação, cai numa depressão abissal. numa pulsão de morte, injeta uma quantidade de heroína para acabar com a tristeza, mas também não foi desta vez. passa mais dias totalmente inconsciente e, muito debilitada, segue a vida sem muito esforço físico e diminui o ritmo dos picos pra não doer tanto os músculos. sobrevive através de uma ajuda do estado, que conseguiu através de um sufoco outro, para manter-se. judith vive, a partir da saída do hospital, como JUDITH 24 horas. isso lhe dá uma expectativa-perspectiva de vida, pelo gosto que tinha de ser outra coisa, muito diferente daquilo que era imposto e induzido para representar. vive numa casa humilde e úmida e fantasia um amor romântico. consequência da carência de carinho, eu acho. nunca se relacionou com um pau carinhoso na vida, seu id de vez em sonho reclamava. numa das idas à padaria, aos 27, apaixona-se por um cara que lembra muitíssimo seu pai. ele trabalhava como atendente que verifica a mercadoria, não me recordo o nome exato dessa profissão. o pau dele ficava marcado na calça. judith, que não comia massas, passa a comprar pão todo santo dia [se é que neste conto os dias sejam santos]. sensualizava, com sua pequena bunda empinada, para o cafusú estonteante. todos os céticos dias. um a um. dobrava-se toda quando passava pela sessão de achocolatados. ele reparou nela um dia. talvez pela curiosidade da manobra de corpo rotineira, talvez por achar bonito seu cabelo. talvez. judith esperou acabar o horário do expediente e levou o bofe pra casa. fuderam delícia. tesão sem tensão. dormiram juntos, abraçados na conchinha clichê. o carinho-amasso durou seis meses. seis meses de obsessão da anti-heroína que largou a droga e se viciou no macho. seis meses de diversão para o bofe, que não agrediu judith, não a ofendeu, mas enjoou de seu grude depois dos repetidos seis meses. ele foi viver a vida sem pressa, presa ou pressão. ela retomou a (de)pressão de outras épocas: a exclusão + as pauladas + o abandono + a falta de carinho + a opressão social de toda uma vida fizeram judith estagnar. inscrições traumáticas, para judith, foram irreversíveis & insuperáveis. ela suportou três anos mais de choro diário e, recém completados os 30, conseguiu finalmente dar cabo com a dor sem odor: se jogou da janela do 13º andar e antes de cair no chão
                                                                                                                                            MORREU
de ataque cardíaco.
                                         
                            
¹ neurose de homem(?) esquizo: Freud tenta explicar.
² segundo Freud: “(...) os primeiros objetos sexuais de uma criança são as pessoas que se preocupam com sua alimentação, cuidados e proteção: isto é, no primeiro caso, sua mãe ou quem quer que a substitua.” (FREUD, 1914/1996, p.94).
³ não utilizarei, propositalmente, adjetivações que reforcem a dicotomia feminino e masculino, nem tampouco feminilizado ou masculinizado para caracterizar o jeito de corpo de judith.
4 pessoas em atitudes perversas não abdicam do seu prazer para que o outro sinta-se bem.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Vídeos bloco Deleuze/Guattari


https://www.youtube.com/watch?v=jXi8eNHlSM4
https://www.youtube.com/watch?v=hUj-UmEvITE
http://www.youtube.com/watch?v=Bkvqrta5mnw

Outro trabalho MB


ROBERTA DE ARAÚJO LANTYER DUARTE

A SUBJETIVIDADE E A FORMAÇÃO DA LOUCURA DE LAURA NO CONTO “A IMITAÇÃO DA ROSA”, DE CLARICE LISPECTOR.


O CONTO E LAURA
No conto “A imitação da rosa”, publicado em 1960, no livro “Laços de Família”, Clarice Lispector mostra o processo de formação da “loucura” de Laura. Laura é uma dona de casa que acabara de passar por um tratamento a base de choques insulínicos (que era comumente utilizado em pacientes esquizofrênicos).
O texto mostra a rotina de uma mulher submissa ao marido, Armando, e ao autoritarismo de Carlota, sua amiga.  Uma mulher que estava mentalmente doente, mas que “agora estava de novo ‘bem’” e voltaria a sua rotina modesta e “à sua insignificância reconhecida”, de completa desatenção. Seu rosto era modesto, suave, tudo nela era castanho, sua pele, seu cabelo, seus olhos, afinal: “Ter cabelos pretos ou louros eram um ex­cesso que, na sua vontade de acertar, ela nunca ambicionara.”.
Laura era uma mulher que vivia sem excessos. Buscava a perfeição, tinha um gosto pelo método, pela limpeza e pelo detalhe e “horror a confusão”. Laura era também um pouco lenta e cuidadosa. Ela “nunca ambicionara senão ser a mulher de um ho­mem” e nesta ideia se inclui passar-lhe as roupas e atendê-lo no que fosse necessário e, além de tudo, dar-lhe um filho – objetivo que ela não conseguira alcançar e que lhe deixara com uma sensação de fracasso, ofensa.
Laura, recém “curada” de sua doença, seguia o tratamento que seu médico que receitara: tomava um copo de leite após todas as refeições para evitar a ansiedade. Esta ação, segundo o médico, devia ser feita sem a preocupação, pois ela deveria fazer tudo natural e suavemente, sem ansiedade, para que se  “curasse” definitivamente. Em meio a ansiedade de tomar obrigatoriamente seus copos de leite naturalmente, Laura se apaixona pela beleza das rosas que havia comprado na feira. A partir de agora Laura luta para não entrar novamente em estado de “loucura”, o que será impossível.

A MENINA LAURA
O que faz com que uma mulher desenvolva um comportamento como o de Laura? Como se forma a subjetividade de uma mulher como Laura? Vamos pensar nestas questões a partir de algumas ideias de Freud.
Em primeiro lugar é preciso pensar como esta mulher desenvolveu sua subjetividade enquanto criança, menina. Pensando na formação do Édipo a partir do livro de Nasio, “Édipo – O complexo do qual nenhuma criança escapa” e, mais especificamente, do capítulo dois – “O Édipo da Menina”, podemos dizer que processo do Complexo de Édipo da menina é diferente e mais lento que o do menino, visto que, na menina existe o período “pré-edipiano”, quando ela é como o menino e tem a mesma sensação de poder fálico e sexualiza a mãe; depois ela passa pelo “tempo de solidão”, quando ela percebe o seu corpo como diferente do corpo do menino, percebe o pênis do menino; neste momento a menina tem a sensação de que não detém o poder que outrora acreditava possuir; “... ela nota que saiu perdendo, e sente esse fato com desvantagem e razão para inferioridade” (FREUD, 1924, p. 211/212), quem detém o falo na verdade é o menino, então, ela se sente enganada pela mãe por ter lhe feito acreditar que possuía o falo, tendo o que Nasio chama de ‘dor da humilhação’ - quando a menina “se recente de uma privação”, ao contrário do menino, que “vivia a angústia de ter a perder”. Após esta fase a menina passa pelo “tempo do Édipo”, o qual, enfim, sexualiza o sexo oposto, seu pai. Neste momento a menina, ressentida com a mãe, quer que o pai lhe dê o seu falo; tendo seu desejo negado, parte para a tentativa de ser o falo do pai e, paralelamente, admira o poder de sedução da mãe, sofrendo mais uma recusa por parte do pai, a menina resolve o Édipo com o desejo de ser o pai, segundo Nasio: “Eis por que digo que a dessexualização do pai é, no fundo um luto: a menina chora o pai sexualizado e o faz reviver dessexualizado nela” (NASIO, 2007, p. 57)
Todo este processo se refere à formação de uma neurótica “normal”. Para Laura, provavelmente, o complexo não tomou estes mesmos caminhos. Analisando sob este prisma podemos sugerir que, talvez, o complexo de Édipo de Laura fora interrompido antes que se pudesse fechar o círculo. Laura provavelmente não resolveu o Édipo, ela não conseguiu superar a “dor da humilhação”, se sentindo inferiorizada diante do Falo masculino, criando uma submissão não só ao pênis, mas ao que este Falo representa, e que explica a sua submissão a Carlota, autoritária, como se Carlota também possuísse o Falo o qual ela foi privada. É possível pensar que, após entrar no Édipo e sexualizar o pai e, após as renúncias, provavelmente muito severas deste pai, esta menina, ao invés de seguir com o complexo e finalizar o Édipo, tenha voltado à fase anterior, de dor pela humilhação de ter sido enganada.
Mas eu me pergunto: para onde foi esta dor, esta agressividade? Bem, uma possibilidade seria que esta menina se rebelasse contra a mãe “mentirosa” e se tornasse uma pessoa agressiva. Mas isto não aconteceu com Laura, ao contrário, ela não demonstra nenhum tipo de agressividade e até “também tomava cuidado para não cacetear a empregada que às vezes continha a impaciência e ficava um pouco malcriada, a culpa era mesmo sua porque nem sempre ela se fazia respeitar.”. Desta forma, suponho que a relação de Laura com sua mãe fosse de amor excessivo, esta mãe, provavelmente, não lhe deu espaço para a revolta, pois como mostra Freud em “O mal-estar na civilização”, pensando em “Psicanálise e personalidade total” de Franz Alexander, que retoma os estudos de Aichhorn:
O pai ‘brando e indulgente além da conta’ favorece na criança a formação de um Super-eu demasiado rigoroso, porque, sob a impressão do amor que recebe, esse filho não terá outra alternativa para sua agressividade que não voltá-la para dentro. (FREUD, 1929)
Esta agressividade de Laura, voltada para dentro, pode explicar o seu sentimento de culpa excessivo, visto que o seu Super-eu é, por demais, rigoroso. Por isso Laura tem esta obstinação pela perfeição, pelo detalhe, pela limpeza. Ela se acha inferior, humilhada pela falta do falo, então, procurava esta perfeição, imposta pelo Super-eu, em outros objetos. Como nas gavetas que “chegava a desarrumá-las para poder arrumá-las de novo” e, mais tarde, na beleza perfeita da rosa, que lhe devolverá ao estado de loucura.

LAURA E A CIVILIZAÇÃO
Sabendo da formação interrompida do Édipo de Laura, é possível pensar como se dá o que Freud chama de “Princípio de Prazer” e “Princípio de Realidade” na subjetividade de Laura.
Para Freud o “princípio do prazer” é o que rege a vida humana. O “princípio de realidade” vem para represar algumas pulsões do homem; é o que permite a vida em sociedade.  
Em uma mulher como Laura, com um Super-eu tão severo, o “princípio da realidade” sufoca o “princípio do prazer”, deixando as sua pulsões, todas, represadas. Este Super-eu faz com que Laura mantenha seu transtorno por limpeza:
Beleza, limpeza e ordem ocupam claramente um lugar especial entre as exigências culturais. Ninguém dirá que elas são importantes para a vida como o domínio das forças naturais e outros fatores que ainda veremos, mas ninguém as porá em segundo plano, como coisas acessórias. (FREUD, 1929, p.38)
Partindo desta citação de Freud, podemos pensar em um aspecto que, a meu ver, é um dos mais importantes no que se refere ao processo que permite que Laura chegue à loucura. Trata-se da beleza.
A beleza está, durante todo o conto, num lugar de incômodo para Laura. Laura se sente inferior, por isso não almeja (ou declara não almejar) a beleza: “‘Não tem importância que eu engorde’, pen­sou, o principal nunca fora a beleza.”. Por outro lado a beleza da rosa a incomoda: “Mas, sem saber por quê, estava um pouco constrangida, um pouco perturbada. Oh, nada demais, apenas acontecia que a beleza extrema incomodava.”.
Perturbada com a beleza das rosas que “pareciam artificiais”, Laura entra em profunda confusão. Há, na realidade, uma luta entre o seu Id, que quer as rosas, que quer o prazer de admirá-las e o seu Super-eu, severo, que não lhe permite um pouco de prazer:
Mas a atenção não podia se manter muito tempo como simples atenção, transformava-se logo em suave prazer, e ela não conseguia mais analisar as rosas, era obri­gada a interromper-se com a mesma exclamação de curio­sidade submissa: como são lindas.”
Laura se vê, então, em um embate entre ficar com as rosas e se permitir este prazer ou entregar as rosas a Carlota. No meio deste embate Laura se utiliza de argumentos para ficar com as rosas sem se sentir culpada:
O fato de não durarem muito parecia tirar-lhe a culpa de ficar com elas, numa obscura lógica de mulher que peca. Pois via-se que iam durar pouco (ia ser rápido, sem perigo).E mesmo — argumentou numa última e vitoriosa rejeição de culpa — não fora de modo algum ela quem quisera com­prar, o vendedor insistira muito e ela se tornava sempre tão tímida quando a constrangiam, não fora ela quem quisera comprar, ela não tinha culpa nenhuma.
Porém o seu Super-eu, que tudo vê, não lhe permite ficar com as rosas, visto que, “sabe” que ela não é digna de tanta beleza, ela não possui o Falo e nem conseguiu um filho para substituir o Falo inexistente.  Sobre este sentimento de culpa Freud explica:
O sentimento de culpa, a dureza da Super-eu, é então o mesmo que a severidade da consciência, é a percepção que tem o eu Eu de ser vigiado assim, a apreciação da tensão entre os seus esforços e as exigências do Super-eu, e o medo ante essa instância critica (subjacente à relação inteira), a necessidade de castigo é um expressão instintual do Eu, que por influência do Super-eu sádico tornou-se masoquista, ou seja, emprega uma parte do instinto para destruição interna nele presente para formar uma ligação erótica com o Super-eu.(FREUD, 1929, p.83)
Com o excessivo sentimento de culpa que rodeia Laura, ela não consegue atingir a felicidade. A civilização é, para ela - que não possui o Falo, que não possui um filho, e que se sente inferior, por isso, submissa – muito pesada. Laura, na verdade, almeja ser a rosa, possuir sua beleza. Laura identifica, na rosa, o seu Falo a tanto almejado. No entanto, ela o perde novamente, perde o que nunca possuíra, “não eram mais suas, como uma carta que já se pôs no correio!”.
 Laura não poderia suportar mais esta interdição, “E as rosas faziam-lhe falta. Haviam deixado um lugar claro dentro dela.” Laura, que não resolveu seu Édipo como deveria, se “tornando” o pai, tenta resolver agora, tardiamente e patologicamente, se tornando a rosa, imitando-a. Laura, que não pode ter prazer na civilização, se refugia, se afasta da civilização afinal: “...o afastamento dos demais é a salvaguarda mais disponível contra o sofrimento que pode resultar das relações humana”(FREUD, 1929, p. 21). Ela vai ao extremo, se refugia na loucura, não pertence mais à civilização, o Super-eu não dita mais as regras. Retornara ao estado de “um barco tranquilo que se empluma nas águas”, à “terrível independência”, à “falta de alerta de fadiga”. Laura deixou de ser uma ‘senhora distinta’ e voltou para a “extravagância”. Laura se tornou novamente “luminosa e inalcançável” e agora permanecia “sentada no sofá sem apoiar as costas, de novo alerta e tranqüila como num trem. Que já partira.”.

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

·       LISPECTOR, Clarice. A Imitação da Rosa. In Laços de família. Disponível em: http://claricelispector.blogspot.com.br/2008/07/imitao-da-rosa.html
·       NASIO, J.D. Édipo – o complexo do qual nenhuma criança escapa. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.
·       FREUD, Sigmund. A dissolução do complexo de Édipo (1924). In Jornal de Psicanálise, Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, V. 33, N60/61, PP. 483-9, dezembro de 2000.
·       FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Tradução Paulo César de Souza, - 1° ed. – São Paulo: Penguin Classics Companhia da Letras, 2011.


Mais um trabalho MB


Neste texto, tentarei expor da forma mais objetiva possível, a subjetividade de um personagem caricato das ruas de Salvador, que “causou” muitas confusões em sua breve jornada pelas ruas soteropolitanas. Trata-se do Superoutro, personagem que Edgar Navarro imaginou como um revolucionário lunático que seguia seus instintos e por isso foi condenado pela civilização a qual iremos discutir sobre sua sanidade e subjetividade nas próximas linhas nesta primeira parte do trabalho.  
Capital baiana, final da década de 80, cenário político conturbado e um pleno cenário para a “aparição” de um personagem fictício, mas que é tão real quanto nós. A sua subjetividade exposta em forma de atitudes diante de uma sociedade que para a sua plena existência necessita reprimir o real teor instintivo, chega a ser agressiva em determinados momentos do filme.
Trabalhar a subjetividade de um personagem tão peculiar como o “super-outro”, requer uma tarefa de contextualização histórica a partir de uma visão de sociedade que passa por um momento crítico no que diz respeito a exclusão e desigualdade social. Por vários momentos  o personagem se depara com dificuldades cotidianas comuns a quem viveu naquela época e ao analisarmos a subjetividade deste notório personagem, notamos que há uma linha tênue entre o objetivo e o subjetivo, que se confundem numa série de atitudes que põe em dúvidas a sua lucidez. Lucidez(ou falta dela), que quando comparada numa analise minuciosa as normas cultas da sociedade onde ele está inserido, faz-se refletir sobre não só sua sanidade mental, mas também a sanidade mental da própria sociedade. Como se de repente ele despertasse de um sono profundo, ou se desvinculasse de uma alienação imposta por uma metrópole rodeada por outdoors e modelos de vida a serem seguidos, Superoutro começa sua jornada antes de se descobrir como o super herói revolucionário que há dentro de cada um de nós. Incomodando e tentando de todas as formas chamar atenção, ele é mandando a um manicômio e considerado um esquizofrênico devido aos seus “delírios”. Obviamente ele não se identifica com tal diagnóstico e facilmente escapa do seu exílio e sai pelas ruas de Salvador colocando pra fora todos os seus instintos e vontades em prol de satisfazê-los a qualquer custo. Não seria diferente se cada um de nós resolvesse encarnar um personagem (ou abandonar este personagem civilizado o qual carregamos para viver em sociedade) e nos deixássemos levar pelos instintos mais reprimidos, a custo disso teríamos que nos acostumar a viver em tempos de barbárie e nos restaria passar a viver isolados, bem como nosso personagem em análise. Em seu livro “O Mal-estar na civilização”, Freud caracteriza a civilização como “a soma integral das realizações e regulamentos que distinguem nossas vidas das de nossos antepassados animais, e que servem a dois intuitos, a saber: o de proteger os homens contra a natureza e o de ajustar seus relacionamentos mútuos”. Natureza esta que ele menciona, se trata não só da natureza como a conhecemos, mas  o próprios instintos naturais do homem, que por conta das privações do superego permanecem “adormecidos” no inconsciente. Esses instintos levam  o homem a ser primitivo, e a perceber um enorme incomodo em viver em comunidades e se relacionando com outros homens. Assim, podemos concluir que em comunidade por incrível que pareça, o homem se sente menos poderoso, pois a sua autonomia é estritamente dependente da autonomia de um determinado grupo ou comunidade. No caso de nosso personagem, ele já nasceu numa comunidade e inserido nas suas regras e convivendo mutuamente com pessoas que lhe são de seu agrado, ou não. Em momentos no filme, podemos notar a presença de um agente importante nesse contexto, que talvez sem ele nos tempos atuais fosse impossível a convivência em sociedade. A força representada em forma de pessoas, a polícia, que tem como tarefa manter a “ordem” e a segurança das pessoas, pois sem esta força repressora de um instinto coletivo, nos deixaríamos levar pelos nossos instintos individuais e sem limites nosso instinto de destruição seria letal a todos. Voltando ao contexto em que nosso personagem está inserido, podemos perceber o quão reprimido ele foi desde o começo do filme, e não podemos deixar de notar o quão livre ele foi a ponto de expor sua subjetividade de forma, às vezes, até engraçada em determinados momentos.

O sono de uma sociedade que finge dormir bem.
Em sua frustrada tentativa de tirar a sociedade do seu sono de conforto, o super herói encontra seu primeiro obstáculo diante da imposição da ordem de proteção ao próprio sono, quando ele entra num prédio aos berros e quebra uma vidraça jogando uma grande lata de lixo. Mas que sono seria este que ele queria atrapalhar? Não foi meramente coincidência que ele estava agindo daquela forma na madrugada. O sono qual ele se referia, era um sono da sociedade, que dormia diante dos fatos que aconteciam, dormiam para uma realidade a qual ele enxergava e se incomodava. Durante todo o filme, nosso personagem vai de encontro às “normas” cultas de um convívio em sociedade e sofre suas consequências punitivas. Ele vai de encontro a essas normas em vários momentos do filme, seja dançando livremente no meio da rua, defecando na praia e posteriormente fazendo uso de sua “obra” e presenteando o condutor de um carro que passeava pelas ruas da barra na ocasião. O filme possui uma narrativa que mostra o cotidiano de uma pessoa que na maioria das vezes passa despercebido aos olhos de quem esta situado numa civilização como a nossa, um “doido de rua”, como costumamos falar, mas que vive sua realidade assim como as pessoas ditas “normais” na sociedade, sendo que vivem a margem de tudo isso por não estarem inseridos num padrão de vida imposto pela própria sociedade onde vivem. Talvez  o filme tenha essa mensagem subjetiva quando a primeira fala se reporta ao sono em que a sociedade vive, e a sua luta para permanecer “dormindo bem” nele. Essa luta pode ser a causadora de um mal estar que nos acompanha desde que optamos por viver em comunidades, reprimindo os instintos e sobrevivendo em conjunto com outros humanos. De fato, ele consegue “acordar” em partes uma parcela de pessoas que se atentaram a ele, mas ele se viu diante de uma realidade a qual a civilização está fadada a aceitar, realidades melhor dizendo, quando se trata de influências sociais como religião e política, as quais serão melhores abordadas na segunda parte deste trabalho.
  
O “Supereu coletivo” contra  o “Superoutro individual’.
Coletivamente, existe um “supereu” ou superego, que nos motiva não só a permanecer na conduta certa, mas também a nos ater de vigiar quem foge a essa conduta. Freud diz em seu livro que “A substituição do poder do indivíduo pelo poder de uma comunidade constitui o passo decisivo da civilização”, assim, nosso personagem se via dono de seu próprio poder de ser livre, tomava suas decisões baseado-se nas suas imediatas necessidades, e não se encaixava numa sociedade civilizada. E esse impulso de liberdade para Freud “é dirigido contra formas e exigências específicas da civilização ou contra a civilização em geral”. O sentimento coletivo de vigiar quem está fora desta conduta civilizatória será melhor discutido na segunda parte do trabalho, quando entram os conceitos de Foucault. Mas esta luta do Supereu coletivo conta um superoutro individual não se resume somente ao personagem de Navarro, pode-se percebê-la em cada desentendimento entre membros de uma comunidade, ou mesmo de um indivíduo para com a sociedade. O “superoutro” pode muito bem ser representando como o nosso ID (nosso lado instintivo aos olhos de Freud) e a sociedade como o nosso Superego, e paradoxalmente enxergamos no “outro” coletivo algo que temos de individual em nós mesmos, que internalizamos desde o berço.

Autor do texto: Luis Fernando Fróes de Matos

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Um trabalho com conceito MB


Severino a Joaquim

É com certa soberba que te declaro, meu caro Joaquim, que acabei ler o texto que você me recomendara, e não me arrependi. Muito embora, confesso, tenha havido momentos de enfado. Mas, em linhas gerais, o texto é muito bom e creio poder explicar muito das minhas ações no passado e atuais, assim como de outras pessoas, que fiquei sem entender.

Em época de adolescência, meu pai me obrigava muito a ir à igreja, me contrariando, pois o que eu queria mesmo era brincar com meus companheiros na rua. Impôs-me a felicidade dele em detrimento da minha, que era correr pelas ruas com meus camaradas. Nesse sentido, passei a odiar a igreja (a religião), desviando o ódio que eu tinha do meu pai para deus. Ora, se meu velho, além de considerar deus como seu legítimo pai, ainda dizia que eu também era filho de deus, tratei ambos com hostilidade, embora este com maior frequência do que aquele. Tenho aversão, portanto, a religiões, pois não gosto do meu pai lá sentando em seu trono, imponente como uma águia imperial sobrevoando em um campo de centeio.

Mudando de assunto, ontem, quando eu estava voltando para casa, tive uma discussão com o cobrador do ônibus em que eu viajava. Enfureci-me de uma forma tal, que agi como se algo houvesse tomado controle do meu corpo e mente, numa possessão psicossomática. Ao chegar em casa, escrevendo esta carta, me ocorreu que minha reação no ônibus não foi nada mais que a expulsão de sentimentos que são constantemente reprimido pela sociedade.  Os outros passageiros, contudo, me tacharam de louco, e, à minha revelia, os que não falaram, disseram decerto um monte de coisas a meu respeito. Sem conhecer a causa da minha súbita agressividade, cada um interpretou conforme sua ignorância.

A vida em sociedade é, com efeito, cheia de coisas desagradáveis, e quanto mais você estuda, se conscientiza dos matizes dos males do convívio humano e do próprio humano, mais essas coisas lhe batem a porta, invadindo seus umbrais. Desse modo, quanto mais você estuda, há de reconhecer, mais precisa fugir da realidade, não acha? Desse modo, passei a usar alguns alucinógenos (não fale isso a Lucena, a minha querida e etérea Lucena, que tanto amo). Primeiramente pensava que eu os usava por usar, pelo simples gosto de ficar doidão ou “brisado”. Agora, no entanto, penso ser algo mais além. Pois bem, lendo o texto, inferir que se trata mesmo da fuga da realidade, dum lugar onde haja maior sensibilidade por parte do fugitivo. Quando penso na distância em que me separa (tanto a física como as minhas)de Lucena, dos conflitos em casa e das mais diversas dificuldades, eu me aplico. Todavia, não há meios de ficar fugindo a toda hora. Mais cedo ou mais tarde, a implacável realidade nos jogará um balde de água fria.

A impossibilidade duma sociedade estável, no sentindo do fim da agressividade humana, comunista ou socialista, é pertinente, pois sempre haverá coisas que um homem poderá invejar no outro: um abraço, um olhar, um beijo. Sempre haverá, portanto, ricos e pobres: ricos no afeto, pobres no afeto;  ricos no amor... pobres no amor. E isso será sempre um dos motivos da instabilidade humana, que nem a ajuda humana-abstrata da igreja ou material e moral de qualquer forma de sociedade sanará. Por isso, meu irmão, sempre haverá agressividade em sociedades capitalistas e comunista, esta última, acredito, em um número menor, pois a propriedade privada, um dos grandes motivo das desavenças humana, não existirá. Ademais, o desenvolvimento das forças produtivas foi o que construiu e modificou a existência humana. Logo, se temos um modo de produção mais humano e igualitário, teremos uma sociedade melhor.

Quem, meu amigo Joaquim, nunca pensou em dar cabo da vida? Há alguns anos um amigo meu me falou na vontade dele de se suicidar. Fiquei estarrecido, evidentemente. Não entendia por que aquele sujeito queria abrir mão de viver. Agora, entretanto, eu o entendo. Vivia (e vive) em condições miseráveis, seu pai um bêbedo, seu irmão extraviado pelo mundo do crime (agora morto). A implacabilidade externa e o embate consigo mesmo lhe era, e talvez ainda seja, insuportável. Todavia, ele está bem e optou por continuar vivendo. 

Afinal, Joaquim, aquela vez que te empurrei de propósito pela ladeira abaixo... Que me diz? Sou um demônio? Pedi-lhe desculpas, naturalmente, mas foi um ato de pura maldade. Talvez, quem sabe, não seja um impulso reprimido meu? Quem sabe eu não já queria fazê-lo há muito por você ter saído com a Lucena daquela vez e me deixado a ver navios? E esse sentimento só se revelou ali, no alto daquela ladeira íngreme. Sou malvado por natureza ou a sociedade me degenerou? Diz-me lá! Tenho certeza que, com sua inteligência, dirá que a sociedade tem em parte culpa no caso, mas o homem também tem seu quinhão de maldade, que é domado pelo didaticismo de anjo que nos é ensinado. Vá lá, sou um patife... ou demasiado humano.

Um comportamento interessante, que quando paro para pensar eu logo mergulho em profundas reflexões, é o comportamento em grupo, de massas. Lembra-se daquele carnaval? Quando nós íamos pro carnaval, não sei se lhe acontecia o mesmo, era como se eu, o Severino que todos conhecem, se transfigurasse noutro ser, modelado pela massa. Como se uma alma ancestral, impulsiva e irracional, tomasse lugar em meu corpo. Eu seguia as variações das pessoas que me rodeavam, ficava propício a fazer coisas que jamais faria sozinho. 
Lembra-se como se deu aquela confusão? Não sei o porquê, mas quando dei conta de mim, já estava em cima do sujeito, dando-lhes pontapés. Não o conhecia, não era meu desafeto nem nada. Hipnotizado pelas pessoas que o pisoteavam, chamando-o de uma sorte de palavrões, eu segui a onda. Que acha disso? Talvez, em multidão, seja um momento mais propício para a liberação de nossa agressividade reprimida, com a ajuda dos atos e pensamentos que se juntam num só. Enfim, acho que multidão tem sua aura sobre o indivíduo, de modo que o superego da cada um enfraquece e suje um, o superego coletivo, que os domam e os regem. 

Pior do que o sentimento de culpa de ter batido num sujeito sem ao menos conhecê-lo é ir pro carnaval sem pegar nenhuma pequena, hem? A zombaria é certa. “Pegue! Beije! Coma! Goze!”, ordenam. Quem não obedece, cai numa prostração, sente-se um inútil. Como não se lembrar do companheiro Anderson? Sequer deu um beijinho em ninguém e virou objeto de chacota. Caiu numa tristeza... Mas, quer saber, sabe por que ele não pegou ninguém? Porque anda com roupas insípidas! As garotas gostam roupas extravagantes, relógios, correntes, enfim, o “ter”. Hoje, mais que ter, o sujeito tem que “parecer”.  Mesmo que o sujeito não tenha, ele parecendo que tem já é uma grande vantagem. Por isso, meu camarada, naquela época vestíamos aqueles trajes esdrúxulos, com várias marcas famosas, correntes e sapatos caríssimos. Precisávamos parecer. Nosso ser era jogado para segundo plano. Aquela garota que ficou comigo, por exemplo, acha mesmo que ficou comigo pelo que eu era, pelo que eu tinha ou pelo o que eu parecia ter? A primeira opção é logo descartada, vai concordar; a segunda tangencia, mas acho que ela ficou comigo baseando-se na terceira opção. O parecer hoje, de certa forma, fundiu-se com a realidade de tal modo, que as barreiras que separam um do outro é muito tênue. Estamos na sociedade do espetáculo, onde cada esquina e uma atração à parte.

Acho que já escrevi demais, não é, camarada? Enfim, não se esqueça de dizer que mando um beijo a Lucena. Diga-lhe que, quando penso nela, minha alma dança como uma bailarina. Que estou triste por não poder romper esta distância que nos separa, de você, meu amigo, e dela, minha amada. Outros objetos de tristeza, além da distância, é ela, que me ignora, e eu, que sou o caos em pessoa. Não se admire se algum dia em mim nascer-me um universo, meu caro Joaquim. 

Do seu grande amigo e irmão

 Severino de Maria

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Novo cronograma do componente


Novo cronograma do componente

18 - Discussão do texto DELEUZE, Gilles. Entrevista sobre O anti-édipo. In: Conversações. São Paulo: Editora 34, 1992, p. 23 a 36. Apresentação e discussão de vídeos com Guattari e Deleuze.
25 - Discussão do texto PEIXOTO Jr. Carlos Augusto. Sexualidades em devir. In: Singularidade e subjetivação. Ensaios sobre clínica e cultura. Rio de Janeiro, Editora 7 Letras/PUC Rio, 2008, p. 113 a 133.

MARÇO

4 - Discussão do texto ROLNIK, Suely. A crise na subjetividade. In: Cartografia sentimental – transformações contemporâneas do desejo. Porto Alegre: Sulina/Editora UFRGS, 2011, p. 95 a 110.
11 - Discussão do texto ROLNIK, Suely. Deleuze, esquizoanalista. Disponível em http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/deleuze-esquizoanalista/
18 - ciclo de palestras com convidados externos
25 - ciclo de palestras com convidados externos

ABRIL

1º - entrega dos trabalhos finais
8 – entrega de notas, trabalhos e avaliação do componente

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Anticristo

Pessoas, eis o link do texto que li em sala sobre o filme que assistimos

http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,lars-von-trier-exorciza-demonios-pessoais-com-anticristo,425496,0.htm

domingo, 3 de fevereiro de 2013