sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Como fazer o projeto de pesquisa

Algumas dicas para a elaboração do projeto de pesquisa e o trabalho final do componente.

1) em primeiro lugar, escolha um tema geral para o trabalho. Mas apenas isso não basta, é preciso recortar o objeto: o que é isso? por exemplo: quero analisar o consumo de drogas, disse um aluno. O que seria um recorte para esse tema? é só fazer perguntas do tipo: vai analisar o consumo de qual tipo de droga? maconha, crack, álcool, anfetaminas? vai analisar o consumo feito por quem? estudantes, moradores de rua, empresários, frequentadores de uma rave?

2) definido o recorte do trabalho, vc precisa criar os objetivos do trabalho: o que pretende descobrir nesse trabalho? o que pretende analisar? o que pretende concluir? quais são as suas hipóteses (ou hipótese) sobre o trabalho? Depois, na conclusão, o trabalho deverá dizer se as hipóteses e objetivos foram ou não comprovados e alcançados.

3) depois de definir o tema, recorte e objetivos, é hora de definir qual a metodologia que vc vai utilizar para tentar alcançar os objetivos. Ou seja, que caminho vc vai trilhar, que estratégias/métodos vai usar para realizar o trabalho proposto? vai entrevistar pessoas (no caso consumidoras de drogas)? como serão essas entrevistas (em profundidade com poucas pessoas, rápidas com várias pessoas, com perguntas previamente definidas ou não)? além das entrevistas, vai ser também pesquisador participante (aquele que não só entrevista mais observa as pessoas - nesse caso - do seu objeto?) vai fazer um pequeno levantamento bibliográfico sobre o que outros pesquisadores já fizeram? (Todos devem fazer isso, pelo menos um pouco, por isso sugeri usar o sistema scielo de revistas acadêmicas na rede. Aqui é fundamental tentar usar o máximo possível dos textos e discussões realizadas durante o semestre em nosso componente).Vai analisar algum produto artístico ou da indústria cultural que trata dessa questão do seu objeto?

Feito isso, é hora de se jogar no trabalho e depois produzir o texto final a ser entregue conforme nosso calendário.

Os trabalhos podem ser feitos em dupla ou individualmente.

Não existe tamanho máximo ou mínimo para o texto final mas, apenas para explicar o seu tema (introdução), objetivos e metodologia, certamente, qualquer um já gasta algumas páginas, certo?

Dúvidas também podem ser solucionadas através de e-mail: leandro.colling@gmail.com

Um abraço e ao trabalho.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Como vc avalia o nosso semestre até aqui?

Oi pessoas

Gostaria que vcs, nos comentários dessa mensagem, avaliassem o nosso semestre até aqui?

Não é necessário se identificar, ok?

abrs

na folha de hoje

depois da aula de ontem, o texto publicado hoje cai como uma luva.
abrs



São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 2011 
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CONTARDO CALLIGARIS

Aproveitar a vida e suas dores


Meu ideal não é a felicidade, mas a variedade e a intensidade das experiências, sejam alegres ou penosas

Com frequência, em conversas e entrevistas, alguém me pergunta o que penso da felicidade -obviamente, na esperança de que eu espinafre esse "ideal dominante" de nossos tempos.
Na verdade, não sei se a felicidade é mesmo um ideal dominante.
Claro, o casal e a família felizes são estereótipos triviais: "Com esta margarina ou com este carro sua vida se abrirá num sorriso de 'folder' ou de comercial". Mas ninguém leva isso a sério, nem os que declaram que tudo o que querem é ser felizes.
Se alguém levasse a busca da felicidade a sério, ele se drogaria, e não com remédios ou substâncias de efeito incerto e insuficiente: só crack ou heroína -tiros certeiros.
O que resta é a felicidade como tentação, como uma vontade de cair fora, compreensível quando a vida nos castiga muito. Fora isso, minha aspiração dominante não é a de ser feliz: quero viver o que der e vier, comédias, tangos e também tragédias -quanto mais plenamente possível, sem covardia.
Meu ideal de vida é a variedade e a intensidade das experiências, sejam elas alegres ou penosas.
Há indivíduos que pedem para ser medicados preventivamente, de maneira a evitar a dor de um luto iminente. É o contrário do que eu valorizo; penso como Roland Barthes: "Luto. Impossibilidade -indignidade- de confiar a uma droga -sob pretexto de depressão- o sofrimento, como se ele fosse uma doença, uma 'possessão' -uma alienação (algo que nos torna estrangeiros)- enquanto ele é um bem essencial, íntimo...".
O trecho está na pág. 159 de "Diário de Luto", que acaba de ser publicado em português (WMF Martins Fontes, excelente tradução de Leyla Perrone-Moisés).
São as fichas nas quais Barthes registrou sua dor entre outubro de 1977 (a morte da mãe) e setembro de 1979 (poucos meses antes de ele mesmo sofrer um atropelamento cujas consequências seriam fatais).
Logo nestes dias, um amigo meu, Paulo V., está perdendo seu pai. Ele me escreve, consternado, que "nada sobrará" do pai: uma cadeira vazia, gavetas de roupas e papéis e que mais? A lembrança se perderá com a vida do filho, que não lhe deu netos e de quem também nada sobrará. A resposta que encontro, para meu amigo, é uma questão: por que uma vida não se bastaria, mesmo que não sobre nada e, a médio prazo, ninguém se lembre?
Barthes se pergunta se ele estaria escrevendo "para combater a dilaceração do esquecimento na medida que ele se anuncia como absoluto. O -em breve- 'nenhum rastro', em parte alguma, em ninguém" (pág. 110). Mas suas anotações não são um monumento fúnebre para a mãe.
Para Barthes, escrever é o jeito de abraçar a experiência, de vivê-la plenamente. Ele se revolta contra as distrações e as explicações consolatórias dos amigos; recusa as teorias que lhe prometeriam um bom decurso de seu luto ("Não dizer luto. É psicanalítico demais. Não estou de luto. Estou triste") e foge, embora a contragosto, das crenças que apaziguariam a dor ("que barbárie não acreditar nas almas -na imortalidade das almas! Que verdade imbecil é o materialismo!").
Enfim, Barthes chega quase a recear que o luto acabe, como se, além da mãe adorada, ele temesse perder também, aos poucos, sua experiência dessa perda.
Meses depois da morte dos meus pais, havia momentos em que eu lamentava que meus afetos e pensamentos voltassem "ao normal", como se minha vida fosse mais pobre sem aquela dor. E havia outros em que, de repente, um detalhe me fisgava, até às lágrimas. Esses momentos eu acolhia com alegria.
Como Barthes anota, a dor do luto pode deixar de ser o afeto dominante, mas ela sempre volta, com a mesma força: "O luto não se desgasta porque não é contínuo" (pág. 92).
Falando em "detalhes" que fisgam, as anotações de Barthes reabriram a ferida de quando ele morreu, mais de 30 anos atrás.
De que sinto mais falta? Do timbre de sua voz e de duas coisas que, de uma certa forma, faziam parte do timbre de sua voz.
Sinto falta de seu gosto pela inconsistência das ideias e dos saberes ("proporcionalmente à consistência desse sistema, sinto-me excluído dele", pág. 73).
E sinto falta de sua coragem para falar a partir da singularidade de sua experiência, sem a menor pretensão de erigi-la numa generalidade que valha para os outros.
Em suma, sinto falta dele, mas não é só que eu sinto falta dele, é que ele, ainda hoje, faz falta.

ccalligari@uol.com.br
@ccaligaris

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Especial

Pessoas, eis alguns trechos de um especial sobre psicanálise publicado no caderno equilíbrio de hoje da Folha de S. Paulo. No domingo passado, o A Tarde também publicou uma entrevista sobre o tema, no caderno Muito.
Boa leitura, Leandro




ENTREVISTA

Das neuroses de ontem ao narcisismo de hoje

Os psicanalistas saíram do seu período de recolhimento e a terapia pela palavra está em pleno desenvolvimento por aqui, na visão do diretor-presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo

Carlos Cecconello/Folhapress
Plinio Montagna na sede da SBP, em São Paulo

DÉBORAH DE PAULA SOUZA*
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O maior desafio da psicanálise hoje são as fobias, a síndrome do pânico e outros "estados narcísicos", como diz Plinio Luiz Kouznetz Montagna, diretor-presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
Neste mês de reflexão -já que a entidade celebra 60 anos de filiação à IPA (International Psychoanalytical Association)-, o psicanalista diz que esse campo está em plena fase de desenvolvimento. Ele conta como um método demorado, profundo e caro sobrevive neste mundo imediatista, em que remédios se colocam como alternativa à conversa terapêutica.

Folha - Como o senhor define a psicanálise hoje?
Plinio Luiz Kouznetz Montagna - 
Ela atua em vertentes interligadas: é tratamento clínico; método de pesquisa sobre o ser humano e teoria do funcionamento da mente que permite generalizações. Ocorre que pensar a clínica permite pensar a cultura e essa conexão com artes e filosofia se mantém. É um campo de saber em desenvolvimento, não está fechada, progride com fluxos e refluxos. Na IPA convivem 12 mil psicanalistas do mundo, de tendências diferentes.

E muitas divergências, não?
Quando Freud era vivo, era ele quem dizia: isto é e isto não é psicanálise. Depois que morreu, ficou mais difícil. Enquanto os grandes mestres do século 20 (Winnicott, Klein, Lacan) estavam vivos, as pessoas seguiam uma linha. Hoje, a tendência é depurar as contribuições de cada autor e articular uma conversa entre eles. Não para integrar, pois as diferenças existem mesmo. Na década de 1980, tantas correntes nos fizeram questionar o que há de comum na psicanálise. Concordamos sobre três pontos: nosso objeto é o inconsciente; a importância da transferência e da contratransferência e a noção de que o passado deve ficar no passado.

Como isso se traduz no consultório?
O que diferencia a psicanálise de outras psicoterapias é o jogo transferencial. Para produzir uma mudança, o que adianta é fazer o problema emergir aqui e agora, na relação com o analista, de modo que seja possível trabalhar com ele. O analista é como uma tela em que o paciente projeta imagens. O complicador é que o analista não é uma tela em branco. Levamos em conta a contratransferência, a relação do profissional com seu paciente: inclui as dificuldades dele, pontos cegos que o impedem de escutar. O trabalho não se restringe a ouvir o relato, o analista escuta inconsciente.

O método nasceu como uma cura pela fala. Essa conversa pode ficar muito racional?
A racionalização não é análise e sim a tentativa de evitá-la. Essa defesa pode surgir tanto do paciente quanto do analista, porque o contato emocional gera turbulência. As resistências fazem parte, porém, o cerne da psicanálise é o encontro, e ele só ocorre quando se vai além das defesas. Por isso temos de saber manejá-las.

E quanto ao passado? Muita gente acha que psicanálise é ficar falando de traumas da infância.
Psicanálise não é "falar sobre". A transferência é uma espécie de atualização do passado com o objetivo de permitir que o presente se instale. A análise permite que o passado fique no passado e a pessoa viva no presente. Essa é a libertação.

Aqui no Brasil, a psicanálise avança ou recua?
Nos anos 50 e 60 houve implantação e expansão, depois teve um momento em que as terapias corporais e o psicodrama estavam em destaque. Por um período, os analistas se recolheram nos consultórios. A clínica continua sendo fundamental, mas hoje vivemos um florescimento para além dela, um momento de grande inserção social.
Na Sociedade, há grupos ocupados com atendimento à comunidade, psicanalistas que dão suporte a uma ONG que trabalha com meninos de rua, sem falar na atuação em hospitais. Os analistas também atuam cada vez mais no setor jurídico, trabalhando como mediadores e peritos em questões de família, divórcio, guarda de filhos. E podem contribuir muito graças à visão global que têm de situações complexas como interdição, brigas, drogadição, violência doméstica etc.

Como a técnica responde às patologias contemporâneas?
Esse é o grande desafio atual: lidar com fobias, pânico, transtorno bipolar, borderline, os chamados estados narcísicos. Todas essas patologias têm em comum o fato de serem estruturas arcaicas [criadas no início da vida, antes da linguagem e do amadurecimento da psique], ou seja: se instalam antes do mecanismo de repressão. Na neurose, a repressão já está instalada, existem os conflitos psíquicos e, nessa etapa, é possível simbolizar o sofrimento. No caso do pânico, por exemplo, não existe nem esse conflito. Imagine o medo tentando entrar na mente. Sem a parede da censura para barrá-lo, ele a invade. E, como na estrutura arcaica não há possibilidade de simbolização, o que costuma ocorrer são dores e outras manifestações corporais. Os psicanalistas hoje se debruçam sobre esses fenômenos. A Sociedade tem equipes de estudos de fibromialgia, dores crônicas, psicossomática. Há membros da Sociedade pesquisando conexões entre dor física e psíquica.

O senhor é psicanalista e psiquiatra, e há um embate entre essas áreas. O que acha da oferta de remédios que prometem alívio rápido?
O avanço da psicofarmacologia permitiu medicações mais eficientes e com menos efeitos colaterais. Por outro lado, é avassaladora a quantidade de dinheiro investido na indústria de remédios, não só no desenvolvimento científico, e sim na propaganda. A promessa de "felicidade química" surgiu na década de 80, com o Prozac. Foi questão de tempo para todos descobrirem que não existe pílula de felicidade.
Aliás, a psicanálise também não traz felicidade. Nem promete. A psiquiatria clássica perdeu o contato com o ser humano, tenta encaixá-lo numa lista de sintomas pré-estabelecidos. O resultado é que muitos psiquiatras diagnosticam a tristeza como depressão. Isso é um desvio, não é o caso de se medicalizar tudo.

É possível medir os resultados de uma análise?
A psicanálise promove transformações significativas. Existe um grupo em Boston que está pesquisando mudanças psíquicas. Esse grupo estudou pessoas que consideravam que suas análises tinham sido bem-sucedidas. Elas destacaram a vivência de uma comunicação profunda com seus analistas e "insights" que alteraram a percepção de si e das situações. Comparo os "insights" da análise ao sistema olfativo: sentir um aroma novo não significa só adicioná-lo ao repertório conhecido, e sim alterar o circuito de tal modo que, a partir daí, o próximo odor será recebido de forma diferente, porque toda a estrutura do arquivo foi modificada.

Por que a profissão não é reconhecida pelo Ministério da Educação?
Na década de 50, foi oferecido à SBPSP a possibilidade de se oficializar a profissão e a formação, mas esse caminho não foi adotado. Na minha opinião, por um erro de cálculo, mas nem todos concordam comigo. Muitos acham que não é o Estado que tem que reconhecer nossa profissão, e sim as próprias instituições psicanalíticas.


OPINIÃO 

Uma gramática dos afetos

Preferimos nos dopar a ter de encarar o exercício lento e inseguro de pensar de outra forma

VLADIMIR SAFATLE
COLUNISTA DA FOLHA

Desde que a psicanálise apareceu anuncia-se seu fim. Esse fim nunca chegou, embora algo como uma "cultura psicanalítica" presente nas sociedades ocidentais tenha tido momentos de declínio.
Uma das maiores peculiaridades da psicanálise está no seu jeito de constituir um novo modo de compreensão de nossos afetos e conflitos.
Uma nova gramática dos afetos nasceu com ela, que moldou, de maneira decisiva, a autopercepção do sujeito contemporâneo. Nossa visão de família, sexualidade, moralidade e corpo são incompreensíveis sem a referência à psicanálise.
Os anúncios insistentes do seu declínio podem ser vistos não só como uma querela a respeito da eficácia de dispositivos clínicos. Trata-se de fornecer às nossas sociedades ocidentais outra gramática dos afetos.
Alguns podem achar estranha a afirmação segundo a qual o destino de uma prática clínica não estaria, necessariamente, associado à reflexão sobre sua eficácia.
A psicanálise nunca foi um conjunto estático de procedimentos e conceitos. Um leitor atento de Freud sabe que ele age a todo momento como alguém testando e abandonando hipóteses.
Além do que, o debate psicanalítico modificou-se graças a Jacques Lacan, Donald Winnicott, Bion, Otto Kernberg, entre tantos outros.
O que não mudou e, por isso, define a perspectiva psicanalítica de maneira decisiva, é a crença de que o sofrimento psíquico não é dissociável da compreensão que o paciente tem de sua doença. O sofrimento coloca em questão a vida do sujeito, seus ideais de autorrealização, seus valores morais, sua ideia de si mesmo.
É uma maneira de lembrar que não é só o corpo que nos faz sofrer. Podemos sofrer por nossas ideias e valores. Podemos até fazer com que o corpo seja veículo da dor causada por ideias e valores.
Nesse sentido, uma das grandes contribuições da psicanálise foi a compreensão de que a constituição de ideias e valores que orientam nossa vida é sempre conflitual e contingente. Tais conflitos voltam em vários momentos, nos obrigando a produzir novos acordos, a pensar de outra forma.
E nada mais aterrador do que se ver na necessidade de pensar de outra forma. Preferimos nos dopar a encarar o exercício lento e inseguro de pensar de outra forma.
Essa é, talvez, a essência da especificidade da psicanálise. Sua gramática dos afetos nos traz uma maneira de nos descrevermos em que noções como conflito, contradição, contingência e insegurança são fundamentais. Sua clínica visa permitir ao sujeito desenvolver habilidades para conjugar tal gramática.
Nenhum psicanalista responsável negaria hoje o uso de medicamentos em situações de quebra subjetiva. A questão é a crença de que o tratamento deva ser reduzido ao setor da farmacologia. Tal redução é feita em nome da implantação de outra gramática dos afetos, no interior da qual nossa vida poderia ser otimizada, calculada a partir de equações que nos garantiriam boa performance no trabalho, na vida sexual, no casamento.
Uma vida em que a linha separando a normalidade da patologia é feita em traços não problemáticos. Tudo rápido, mesmo que precisemos tomar antidepressivos anos a fio. Por isso, por trás de querelas sobre modelos de tratamento psiquiátrico, sempre encontraremos uma questão maior, a saber: que tipo de pessoa queremos ser. 



RESUMO DA ÓPERA

De onde vem, para onde vai

Entenda as principais ideias que movimentaram a psicanálise desde a origem até agora

GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO

AS INFLUÊNCIAS

FINAL DO SÉCULO 19 


JEAN-MARTIN CHARCOT
(1825-1893)
Neurologista francês, aplicava a hipnose para tratar pacientes histéricas no hospital em Paris em que Freud fez estudos de neuropatologia
Como influenciou a psicanálise: Seu método inspirou Freud a investigar a origem mental dos sintomas físicos da histeria

FINAL DO SÉCULO 19 E COMEÇO DO SÉCULO 20

JOSEF BREUER
(1842-1925)
Médico austríaco que colaborou com Freud em seu primeiro livro, "Estudos sobre a Histeria", de 1895
Como influenciou a psicanálise: Ao tratar uma paciente histérica, percebeu que os sintomas diminuíam quando ela falava sobre eles, inspirando Freud a desenvolver o método da associação livre

O TRONCO 

PRIMEIRA METADE DO SÉCULO 20

SIGMUND FREUD
(1856- 1939)
Fundou a psicanálise ao desenvolver uma técnica para sondar conflitos psíquicos
Teoria: O comportamento humano não é regido apenas pela vontade consciente, mas por pulsões e pelas formações do inconsciente, região que armazena memórias, necessidades e desejos reprimidos. A origem do conflito psíquico remonta às fases do desenvolvimento psicossexual da criança (oral, anal, fálica e genital) e ao complexo de Édipo
Técnica: Pela associação livre, o analista propõe ao paciente falar o que lhe vem à mente, seja sobre seus afetos, sonhos ou outros sinais comunicados pelo inconsciente

A PARTIR DOS ANOS 50

JACQUES LACAN
(1901-1981)
Psicanalista francês, fundiu a teoria freudiana com os estudos de linguística e antropologia. Seus métodos, tidos como excêntricos, o levaram a ser expulso da Sociedade Psicanalítica de Paris por imposição da IPA -Associação Psicanalítica Internacional
Teoria: O inconsciente é constituído das próprias regras que estruturam a sociedade, cuja lógica é fornecida pela linguagem. Para entender os conflitos psíquicos, o analista escuta o discurso e observa as relações do paciente com a linguagem
Técnica: A sessão leva em conta o tempo lógico, definido pelo analista, e não o cronológico de 45 ou 50 minutos

OS SEGUIDORES 

PRIMEIRA METADE DO SÉCULO 20

SÁNDOR FERENCZI
(1873-1933)
Psicanalista húngaro e seguidor de Freud, incentivou Melanie Klein a estudar o comportamento de crianças
Contribuição à psicanálise: Atuação do terapeuta deve ser mais ativa e menos distante do paciente para permiti-lo trazer à tona suas emoções

KARL ABRAHAM
(1877-1925)
Psicanalista alemão, foi discípulo de Freud e analista de Melanie Klein
Contribuição à psicanálise: O desenvolvimento de doenças como a esquizofrenia e a psicose maníaco-depressiva tem origem na fixação em alguma das fases do desenvolvimento psicossexual da criança

A PARTIR DOS ANOS 20

MELANIE KLEIN
(1882-1960)
Quem foi: Nascida na Áustria, influenciou a linhagem inglesa da psicanálise e foi uma das pioneiras em estudar crianças, que até então não eram analisadas. Suas teorias se chocaram com as de Anna, filha de Freud, para quem a abordagem de crianças só tinha um viés pedagógico
Teoria: Crianças manifestam desde cedo fantasias e emoções como a destrutividade, voltada, por exemplo, ao seio materno. O complexo de Édipo aparece nos primeiros meses de vida, sugerindo que os conflitos e desejos começam muito antes do imaginado por Freud
Técnica: O analista deve interpretar brincadeiras e desenhos feitos por crianças como manifestações precoces de expressão de emoções

A PARTIR DOS ANOS 50

WILFRED BION
(1897-1979)
Desenvolveu as ideias de Klein e formulou uma teoria sobre o comportamento de grupos em situações de crise
Teoria: A agressividade dirigida ao mundo externo não é mera patologia, como crê Klein, mas uma forma de comunicação do paciente que deve ser levada em conta pelo analista
Técnica: O terapeuta avalia a si mesmo na relação com o paciente e atribui a não evolução do quadro também à sua postura na análise

A PARTIR DOS ANOS 40

DONALD WINNICOTT
(1896-1971)
Pediatra britânico, seguiu uma terceira linha na tradição inglesa quando surgiu a cisão entre Melanie Klein e Anna Freud
Teoria: O ser humano está destinado a amadurecer psicologicamente, mas precisa de um ambiente confiável para isso. A análise não deve ficar restrita ao universo das fantasias infantis, mas incluir a relação da criança com os pais e com o mundo
Técnica: O analista recria o ambiente de segurança para possibilitar o amadurecimento do paciente

OS DISSIDENTES

PRIMEIRA METADE DO SÉCULO 20

WILHELM REICH
(1897-1957)
Psiquiatra nascido na atual Ucrânia, teve contato com as ideias de Freud, mas rompeu com a psicanálise tradicional por defender um engajamento político com o marxismo
Teoria: As neuroses se originam a partir de uma falha em dissipar a energia do corpo através do orgasmo
Técnica: Valoriza psicoterapias corporais para romper com a 'couraça' física e liberar a carga de energia. Inspirou técnicas como a bioenergética, a biodinâmica e a somaterapia

PRIMEIRA METADE DO SÉCULO 20

CARL JUNG
(1875-1961)
Discípulo favorito de Freud, rompeu com o mestre e fundou a psicologia analítica
Teoria: Nem todas as neuroses têm base sexual. Além de um inconsciente individual há também um inconsciente coletivo, compartilhado por todas as pessoas e de onde decorrem sonhos e fantasias
Técnica: O analista leva em conta o aspecto simbólico dos relatos do paciente e a sua relação com os arquétipos -padrões psíquicos universais, expressados pelo inconsciente

Fontes: Daniel Delouya, Adriana Nagalli, Nina Saroldi, Elizabeth Antonelli, Fani Hisgail, José Outeiral, psicanalistas 





BEABÁ DA PSICANÁLISE 

Palavras cruzadas

A invenção de Freud está entranhada na cultura, mas nem por isso sabemos o básico sobre ela 

GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO

As palavras são associadas, interpretadas, esmiuçadas. Na psicanálise, a cura se dá por meio delas. Atenção às palavras: tudo bem usar "recalque", "projeção" e outros termos saídos desse campo e já incorporados. Mas confundir os "psis", o que é comum, não.
Psicanalista é uma coisa, psiquiatra, outra. Psiquiatra é médico: estuda transtornos mentais e os trata prescrevendo remédios. O psicólogo também estuda saúde mental, mas não receita. Ele estuda o "software que roda no cérebro", como diz Francisco Daudt, colunista da Folha. Há muitas linhas de psicologia, muitos jeitos de estudar comportamento. Terapeuta é quem cuida. Psicoterapeuta, então, é quem cuida do funcionamento mental das pessoas usando alguma técnica como psicodrama ou as das terapias cognitivo-comportamentais.
Já o psicanalista estuda o tal 'software' segundo o modelo de Freud, isto é, partindo da premissa que o inconsciente governa muitas das ações humanas.
O psicanalista pode ser um teórico ou um psicoterapeuta que cuida de pessoas usando a ferramenta psicanálise. Parte fundamental dessa ferramenta é o método da associação livre, criado por Freud para sondar o inconsciente. Nele, o paciente é levado a falar sobre seus pensamentos de forma a revelar a origem de seus conflitos.
No centro dos conflitos estaria o complexo de Édipo, conjunto de impulsos amorosos e hostis dirigidos pela criança aos pais. O conceito fazia mais sentido quando a única forma de família tinha figuras de pai e mãe bem definidas. E hoje? Édipo não precisa ser entendido como antes, ao pé da letra, diz Isabel Gomes, professora de psicologia da USP. "Se duas mães fazem as funções materna e paterna, a triangulação se mantém."

NINGUÉM É PURO
Psicanalistas freudianos puros são raros, diz o psicanalista Luiz Tenório Oliveira Lima. "Analistas experientes transitam com a tradição de Freud e a dos sucessores." A primeira grande mudança na psicanálise veio com a austríaca Melanie Klein (1882-1960). Ela mostrou que crianças já podem ser analisadas desde cedo.
"Alguém que atende crianças não pode ignorar as contribuições de Klein", diz Luís Claudio Figueiredo, que estuda a autora. Klein substituiu a associação livre pela interpretação de desenhos, brincadeiras e jogos, nos quais a criança já expressa suas fantasias.
Segundo o psicanalista Daniel Delouya, é uma linha eficaz para tratar psicoses infantis. Nessa terapia, a criança cria uma realidade própria com suas fantasias. "Klein trabalha bem esse mundo interno da criança." Nem tudo é mundo interno para os seguidores de Donald Winnicott (1896-1971). O pediatra inglês pôs o ambiente na equação psicanalítica, defendendo que o desenvolvimento da criança depende de segurança, dada principalmente pela mãe.
Essa linha "acolhe mais" o paciente, diz Elsa Dias, da Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana. Segundo ela, essa corrente serve sobretudo para transtornos alimentares e síndrome do pânico, que teriam raiz em um encontro não muito acolhedor da criança com o mundo.
Nessa visão, a anorexia se relaciona a problemas no aleitamento; o pânico, a um bebê interrompido a toda hora pela mãe intrusiva. Sucessor de Klein, Wilfred Bion (1897-1979) contribuiu para a análise repensando a relação analista-paciente. "O analista não é só a figura sobre a qual o paciente projeta ou transfere: ele se observa nessa relação", diz Adriana Nagalli, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Além de se observar, ele devolve ao paciente as próprias experiências.
Segundo Nagalli, esse vínculo ajuda o paciente a tolerar frustrações. "Ao compreender que seu analista também falha, você suporta melhor suas limitações."
O francês Jacques Lacan (1901-1981) temperou a psicanálise com a linguística. O inconsciente, para ele, só é acessível pelo verbo, já que é a linguagem que organiza e traduz as experiências.

TEMPO TERAPÊUTICO
Lacan reformulou a duração da sessão, propondo o "tempo lógico". Em vez dos clássicos 50 minutos, o analista define o término conforme a situação.
"Na linha freudiana, o analista é uma folha em branco sobre a qual o paciente projeta sua vivência. Quando Lacan introduz o tempo lógico, o analista passa a existir", diz Anna Veronica Mautner.
Segundo Jorge Forbes, do Instituto de Psicanálise Lacaniana, o tempo é fator terapêutico. "Prefiro a arbitrariedade de quem dirige a terapia do que a do relógio", diz.
Lacan mostrou que Édipo não dava conta de explicar novos sintomas do mundo moderno, com menos regras definidas e mais necessidade de tomar decisões, explica Forbes. "O analista põe as cartas na mesa e faz o paciente a se responsabilizar pelas suas decisões."

Veja galeria de imagens e mais conteúdo sobre psicanálise
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MAIORES INIMIGOS

Nem tudo é Édipo

Para críticos, teoria freudiana é limitada ao mundo familiar 

DARIO DE NEGREIROS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A psicanálise é como a Revolução Russa, diziam os pensadores franceses Gilles Deleuze (1925-1995) e Félix Guattari (1930-1992). Começou bem, acabou mal e ninguém sabe explicar por quê.
Juntos, eles escreveram "O Anti-Édipo" (Editora 34, 560 págs., R$59), uma das mais célebres críticas da teoria freudiana. No entanto, quando se encontraram pela primeira vez, Deleuze era um estudioso da psicanálise e Guattari era, ele próprio, um psicanalista.
"Jamais o encontro com Guattari teria sido fecundo se Deleuze não tivesse se sentido encurralado em relação à utilização da psicanálise", conta David Lapoujade, professor da Sorbonne, ex-aluno de Deleuze e ele próprio um crítico da teoria freudiana. Segundo essa visão, a psicanálise não seria capaz de perceber as influências sociais e políticas no comportamento das pessoas, interpretando tudo a partir do velho e limitado esquema triangular do Édipo: as relações entre o filho, o pai e a mãe.
"Por que os psicanalistas querem que o inconsciente signifique toda vez a mesma coisa: Édipo?", questiona Lapoujade. A crítica de Deleuze e Guattari vai além. Eles chegam a caracterizar os psicanalistas como "os novos padres". Enquanto para o cristianismo nasceríamos todos culpados pelo pecado original, para a psicanálise, o complexo de Édipo faria com que fôssemos culpados por desejar o que não podemos ter: o incesto.
"Eles querem impor uma concepção moral do desejo." Para o filósofo e professor da USP Vladimir Safatle, a mensagem da psicanálise é outra: nós não podemos ter tudo o que desejamos. E conhecer os limites do próprio desejo seria mais sabedoria do que moralismo.
"Qualquer pessoa pode encontrar isso em sua vida: há situações em que há várias coisas que você quer muito. E você só sabe que vai ter que perder alguma", diz Safatle. "É mais sábio saber lidar com isso do que criar a fantasia de que o desejo pode tudo." O filósofo discorda, ainda, de que a psicanálise isolaria a pessoa das questões sociais e políticas ao privilegiar suas relações familiares.

PORTA DE ENTRADA
Para ele, é o contrário: Freud vê a família como a porta de entrada na sociedade. Por ser nosso primeiro núcleo de socialização, ela se torna uma referência para relações sociais posteriores.
"A maneira como eu descubro o que é autoridade dentro do núcleo familiar, com a autoridade paterna, por exemplo, vai servir de referência para os meus comportamentos futuros."
Mas Safatle admite que alguns psicanalistas podem errar a mão ao tentar interpretar todos os fenômenos sociais a partir do esquema familiar e do Édipo. Ainda assim, a crítica deleuzeana seria muito radical. "Não é possível reduzir tudo à família, mas também não é possível ignorá-la."


OPINIÃO

"A psicanálise tem a falha de ser imune ao presente"


ESSA TEORIA NÃO É CIÊNCIA: FALTAM METODOLOGIA E RESULTADOS


HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

A psicanálise sobrevive com vigor na Argentina, no Brasil e na França. No resto do mundo, seu estado varia de decadente a agonizante. E, mesmo no primeiro grupo, ela vem sofrendo ataques, como atesta a publicação, em 2005, na França, de "O Livro Negro da Psicanálise", obra coletiva que reúne 40 artigos contra Freud, alguns deles bastante virulentos.
Em 2010, foi a vez do polêmico filósofo Michel Onfray desancar Freud, em 624 páginas do seu livro "O Crepúsculo de um Ídolo". Onfray diz que psicanálise não passa de religião, não tem mais efeito do que placebos e acusa Freud de não medir esforços para obter dinheiro e glória.
"O Livro Negro" e "Crepúsculo" traduzem para o francês humores antipsicanalíticos que emanam do mundo acadêmico americano, onde a visão preponderante é a de que Freud foi um charlatão. De minha parte, acho difícil sustentar que a psicanálise seja uma ciência. Parece-me, entretanto, historicamente falso, além de injusto, negar a Freud um lugar no panteão dos pioneiros.
Afinal, ele popularizou a noção de inconsciente e ressaltou sua importância nos processos mentais humanos. O ocaso de Freud nos EUA teve início nos anos 50, com os primeiros fármacos psicoativos. A constatação de que drogas provocavam alterações no psiquismo abriu uma nova avenida para pesquisas.
Ressonâncias magnéticas funcionais e tomografias por PET completaram o arsenal da neurociência para esquadrinhar o cérebro. Paixões e pensamentos deixam de ser abstrações para se tornar manifestações físicas nos neurônios. Paradoxalmente, o próprio Freud, que jamais renunciou à pretensão de fazer ciência, teria aplaudido o avanço da psicofarmacologia.
No inacabado "Esboço de Psicanálise", de 1938, escreveu: "O futuro provavelmente vai nos ensinar a influenciar diretamente as quantidades (psíquicas) de energia e sua distribuição no aparelho psíquico por meio de matérias químicas especiais. Talvez surjam ainda outras possibilidades ainda desconhecidas de terapia; por enquanto nós ainda não temos nada melhor que a técnica psicanalítica à nossa disposição".
Aparentemente, esse futuro chegou -em que pese a forma ainda grosseira com que atuam os psicofármacos. Como foi formulada, a psicanálise não é ciência. Faltam-lhe metodologia, resultados mensuráveis e conteúdo empírico para reclamar estatuto epistemológico.
Pelo menos para mim é especialmente chocante a ideia de que o principal que havia a ser dito sobre psiquismo humano foi dito por Freud há mais de 70 anos e, de lá para cá, nada de muito relevante surgiu.
Se é verdade que as ciências padecem do defeito de olhar pouco para seu passado, a psicanálise tem a falha de ser imune ao presente. A verdade já foi revelada pelo profeta vienense, não havendo mais nada (ou quase nada) a acrescentar. E essa é uma característica que, creio, dá razão a Onfray quando afirma que a psicanálise se estruturou de forma semelhante às religiões.
Para prová-lo, basta conferir o alto número de defecções, rompimentos e excomunhões entre seus membros. Só que nem a precariedade epistemológica da psicanálise nem as picuinhas levantadas por Onfray, como as supostas infidelidades conjugais de Freud ou suas simpatias pelo fascismo, são suficientes para tirar do vienense o mérito de ter posto o inconsciente na ordem do dia.
Avanços da neurociência mostram que esse conceito é mais importante do que suspeitava o pai da psicanálise. Experimentos nesse campo já colocam em dúvida até a existência do livre-arbítrio. Ter percebido isso num mundo vitoriano é uma façanha.
Só isso basta para colocar Freud no mesmo patamar de outros grandes pensadores que, munidos só da especulação, contribuíram para que a humanidade lançasse um novo olhar sobre si mesma.





LINGUAGEM

NARCISISMO
Este conceito é trabalhado em diferentes contextos dentro da pscicanálise, mas significa, basicamente, amar a si mesmo. O termo narcisismo denomina uma fase da infância em que as crianças buscam o próprio corpo como fonte de prazer, mas também pode identificar o distúrbio que faz a pessoa egoísta se interessar apenas por ela mesma. A expressão foi usada por Freud pela primeira vez para explicar o homossexualismo, isto é, quando um indivíduo busca um parceiro sexual parecido com ele.

INCONSCIENTE
Estrutura psíquica constituída por conteúdos recalcados que não chegam à consciência. Conceito mais fundamental da teoria freudiana, pressupõe que a maior parte da vida psíquica de uma pessoa permaneça em um nível que não obedece à racionalidade. Segundo Freud, é no inconsciente que ficam guardados os desejos reprimidos. Grande parte do comportamento e das decisões de uma pessoa seriam fruto do trabalho do inconsciente.

ASSOCIAÇÃO LIVRE
Método de investigação do inconsciente em que o paciente é estimulado a falar tudo que lhe vier à cabeça, sem se preocupar se faz ou não sentido. O objetivo da técnica é descobrir as cadeias associativas que formam o pensamento mais primitivo de cada pessoa, para entender como ela raciocina antes que as ideias passem pelo filtro da autocensura.

COMPLEXO DE ÉDIPO 
Ponto central da teoria freudiana. É o conjunto de sentimentos afetivos e hostis que a criança tem em relação aos pais. O caso clássico é o do menino que sente atração pela mãe e ódio pelo pai, visto como rival. Esse complexo seria universal e atingiria meninas (para isso, Jung criou o termo "complexo de Electra") e crianças vindas de organizações familiares diferentes.

INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
Para Freud, os sonhos são projeções do inconsciente. No sono, haveria uma indulgência da censura que permitiria o acesso a desejos recalcados na vigília. Ao ouvir o relato de um sonho, o analista poderia interpretá-lo de maneira semelhante à interpretação de uma associação livre. Por isso a psicanálise clássica dá tanta importância aos sonhos: eles seriam a associação livre praticada todos os dias, por todo mundo.

INVEJA DO PÊNIS
A fase da infância em que a menina percebe que os meninos têm pênis e ela, não, é o elemento essencial da sexualidade feminina, para Freud. A partir desse momento, as mulheres experimentariam um complexo de castração e um sentimento de inveja e desejo em torno do pênis. Na idade adulta, essa inveja evoluiria para uma vontade de possuir um pênis dentro de si por meio do sexo ou da gestação de um filho. Quando mal resolvida, a inveja poderia gerar sintomas neuróticos ou complexo de masculinidade.

EGO, ID E SUPEREGO
Para explicar o funcionamento da mente, Freud concebeu uma estrutura com três níveis interligados. O ego é o primeiro andar dessa estrutura e simboliza a parte organizada do sistema, aquela que atua na realidade externa e tenta se adaptar a ela. O id é a fonte das memória reprimidas e dos impulsos instintivos, dominados pelo princípio do prazer e do desejo imediato e inconsequente. O superego, por fim, é uma espécie de juiz e vigilante do comportamento. Funciona como a autoconsciência moral da personalidade.

BISSEXUALISMO 
Na psicanálise, o termo bissexualidade nem sempre se refere a uma pessoa que tem interesse sexual pelos dois gêneros. Para Freud, todo ser humano traz dentro de si características femininas e masculinas, assim como desejo pelos dois sexos. Ao longo da formação, o mais comum é que uma dessas características se sobressaia, enquanto a outra é dominada, gerando um recalque no inconsciente com o qual é preciso lidar.

PULSÕES
É um estado de tensão ou de excitação análogo aos impulsos instintivos que orienta o comportamento em direção à satisfação de um desejo primário que a pessoa nem sempre consegue identificar. Inicialmente, Freud postulou duas pulsões: a sexual e a de autoconservação. Depois, agrupou essas duas na categoria de pulsões sexuais, contrapondo-as à pulsão de morte.


NEURO

SUZANA HERCULANO-HOUZEL suzanahh@gmail.com

Neuropsicanálise existe?


Neuroses não são distúrbios de função sexual: o que Freud pensava não importa para a neurociência


Mark Solms bem que tentou, ao fundar, em 2000, a Sociedade Internacional de Neuropsicanálise, promover um trabalho interdisciplinar entre a psicanálise e a neurociência: ele gostaria de usar a neurociência para "comprovar" as teorias de Freud e usá-las como arcabouço intelectual para a neurociência.
Na prática, a fusão não funciona, e eu diria que por uma razão bem simples: uma nunca precisou da outra. Freud propôs o que era cabível à sua experiência profissional, aos seus valores e aos seus conhecimentos limitados à neurologia da época, no contexto de uma Europa vitoriana pós-Darwin onde era tão problemático quanto importante lembrar que o ser humano tem impulsos como os outros animais.
Então, como hoje, a psicanálise não dependia de respaldo neurocientífico: ela é um sistema fechado de crenças sobre o comportamento humano, de grande utilidade em casos de necessidade de insight e autoconhecimento -e zero utilidade em distúrbios como dependência química, transtornos obsessivos-compulsivos e esquizofrenia.
Sim, há um enorme interesse em comum: compreender a mente humana. Mas foi justamente livre da psicanálise que a neurociência andou tanto. Hoje reconhecemos que o carinho materno na infância é fundamental ao desenvolvimento emocional; que os impulsos, sexuais e outros, são tão importantes para o comportamento que são orquestrados por um sistema dedicado (o de recompensa); e que tudo opera sob o controle de um sistema executivo que autoriza e torna conscientes só alguns dos processos.
Mas doenças mentais não resultam de repressão falha, neuroses não são distúrbios de função sexual originados na infância e sonhos são só acontecimentos recentes ou passados revisitados pelo cérebro. Se Freud pensava assim ou não, pouco importa para a neurociência. E, para os psicanalistas, pouco importa onde ficam o id ou o ego, se é que ficam em algum lugar. Ainda que alguns, mais chegados à neurociência, tenham apreço pela liberdade de pensar para além dos ditames de Freud e gostem de saber no que a sua teoria erra ou acerta.
Mas se não há "psicanálise" se a teoria psicanalítica não for seguida à risca, só o próprio Freud poderia rever seus conceitos à luz da neurociência e, então, propor uma neuropsicanálise. Enquanto isso não acontecer, a tal da "neuropsicanálise" continua não existindo...

SUZANA HERCULANO-HOUZEL é neurocientista, professora da UFRJ, autora do livro "Pílulas de Neurociência para Uma Vida Melhor" (Sextante) e do blog www.suzanaherculanohouzel.com





BEABÁ DA PSICANÁLISE 

Palavras cruzadas

A invenção de Freud está entranhada na cultura, mas nem por isso sabemos o básico sobre ela 

GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO

As palavras são associadas, interpretadas, esmiuçadas. Na psicanálise, a cura se dá por meio delas. Atenção às palavras: tudo bem usar "recalque", "projeção" e outros termos saídos desse campo e já incorporados. Mas confundir os "psis", o que é comum, não.
Psicanalista é uma coisa, psiquiatra, outra. Psiquiatra é médico: estuda transtornos mentais e os trata prescrevendo remédios. O psicólogo também estuda saúde mental, mas não receita. Ele estuda o "software que roda no cérebro", como diz Francisco Daudt, colunista da Folha. Há muitas linhas de psicologia, muitos jeitos de estudar comportamento. Terapeuta é quem cuida. Psicoterapeuta, então, é quem cuida do funcionamento mental das pessoas usando alguma técnica como psicodrama ou as das terapias cognitivo-comportamentais.
Já o psicanalista estuda o tal 'software' segundo o modelo de Freud, isto é, partindo da premissa que o inconsciente governa muitas das ações humanas.
O psicanalista pode ser um teórico ou um psicoterapeuta que cuida de pessoas usando a ferramenta psicanálise. Parte fundamental dessa ferramenta é o método da associação livre, criado por Freud para sondar o inconsciente. Nele, o paciente é levado a falar sobre seus pensamentos de forma a revelar a origem de seus conflitos.
No centro dos conflitos estaria o complexo de Édipo, conjunto de impulsos amorosos e hostis dirigidos pela criança aos pais. O conceito fazia mais sentido quando a única forma de família tinha figuras de pai e mãe bem definidas. E hoje? Édipo não precisa ser entendido como antes, ao pé da letra, diz Isabel Gomes, professora de psicologia da USP. "Se duas mães fazem as funções materna e paterna, a triangulação se mantém."

NINGUÉM É PURO
Psicanalistas freudianos puros são raros, diz o psicanalista Luiz Tenório Oliveira Lima. "Analistas experientes transitam com a tradição de Freud e a dos sucessores." A primeira grande mudança na psicanálise veio com a austríaca Melanie Klein (1882-1960). Ela mostrou que crianças já podem ser analisadas desde cedo.
"Alguém que atende crianças não pode ignorar as contribuições de Klein", diz Luís Claudio Figueiredo, que estuda a autora. Klein substituiu a associação livre pela interpretação de desenhos, brincadeiras e jogos, nos quais a criança já expressa suas fantasias.
Segundo o psicanalista Daniel Delouya, é uma linha eficaz para tratar psicoses infantis. Nessa terapia, a criança cria uma realidade própria com suas fantasias. "Klein trabalha bem esse mundo interno da criança." Nem tudo é mundo interno para os seguidores de Donald Winnicott (1896-1971). O pediatra inglês pôs o ambiente na equação psicanalítica, defendendo que o desenvolvimento da criança depende de segurança, dada principalmente pela mãe.
Essa linha "acolhe mais" o paciente, diz Elsa Dias, da Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana. Segundo ela, essa corrente serve sobretudo para transtornos alimentares e síndrome do pânico, que teriam raiz em um encontro não muito acolhedor da criança com o mundo.
Nessa visão, a anorexia se relaciona a problemas no aleitamento; o pânico, a um bebê interrompido a toda hora pela mãe intrusiva. Sucessor de Klein, Wilfred Bion (1897-1979) contribuiu para a análise repensando a relação analista-paciente. "O analista não é só a figura sobre a qual o paciente projeta ou transfere: ele se observa nessa relação", diz Adriana Nagalli, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Além de se observar, ele devolve ao paciente as próprias experiências.
Segundo Nagalli, esse vínculo ajuda o paciente a tolerar frustrações. "Ao compreender que seu analista também falha, você suporta melhor suas limitações."
O francês Jacques Lacan (1901-1981) temperou a psicanálise com a linguística. O inconsciente, para ele, só é acessível pelo verbo, já que é a linguagem que organiza e traduz as experiências.

TEMPO TERAPÊUTICO
Lacan reformulou a duração da sessão, propondo o "tempo lógico". Em vez dos clássicos 50 minutos, o analista define o término conforme a situação.
"Na linha freudiana, o analista é uma folha em branco sobre a qual o paciente projeta sua vivência. Quando Lacan introduz o tempo lógico, o analista passa a existir", diz Anna Veronica Mautner.
Segundo Jorge Forbes, do Instituto de Psicanálise Lacaniana, o tempo é fator terapêutico. "Prefiro a arbitrariedade de quem dirige a terapia do que a do relógio", diz.
Lacan mostrou que Édipo não dava conta de explicar novos sintomas do mundo moderno, com menos regras definidas e mais necessidade de tomar decisões, explica Forbes. "O analista põe as cartas na mesa e faz o paciente a se responsabilizar pelas suas decisões."

Veja galeria de imagens e mais conteúdo sobre psicanálise
folha.com/112651

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Aviso

oi pessoas

outros textos que serão discutidos em nosso componente já foram enviados para o mail da turma.

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senha: subjetividades

novo cronograma de sexta-feira

SETEMBRO
30 - Discussão do texto O mal-estar melhorou? A pertinência do livro hoje, de Nina Saroldi (127 a 157).

OUTUBRO
07 – Com Cíntia - Discussão dos textos Lei, culpa e confissão (p. 65 a 70) e Desconstrução da filosofia do sujeito (79 a 90), de Joel Birman
14 – Discussão do texto A cultura de si, de Foucault (p. 43 a 74).
21 - Discussão do texto Subjetividade: a (des) construção de um conceito, de Luciana Miranda.
28 - Com Cíntia - Discussão do texto Entrevista sobre O anti-édipo, com Deleuze e Guattari (p. 23 a 36).

NOVEMBRO
4 - Discussão do texto Psicanálise e familiarismo: a sagrada família, de Deleuze e Guatarri (p. 53 a 78).
11 – Orientação dos trabalhos (atividade não será realizada em sala de aula em função do ACTA)
18 – Entrega e apresentação dos trabalhos
25 - Entrega e apresentação dos trabalhos

DEZEMBRO
2 – Entrega das notas e avaliação do semestre

Ainda sobre as religiões - texto de hoje na Folha


São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2011 
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LUIZ FELIPE PONDÉ

Religião sustentável


No Oriente, o budismo é uma religião como qualquer outra, cheia de vícios e abusos

Recebemos, recentemente, a visita do líder religioso budista tibetano Dalai Lama. Os iniciados tiveram surtos místicos?
Nada contra ele. De fato, o líder budista tem uma imagem positiva no Ocidente, ao contrário do papa Bento 16, que é visto como conservador.
O Dalai Lama defende tudo que gente legal defende: o verde, a tolerância com o "outro", um capitalismo do bem, enfim, uma religião sustentável nos termos que ocidentais que migram pra religiões orientais costumam gostar, ou seja, de baixo comprometimento religioso. Além de, nela, não ter nenhum parente chato.
Uma religião sustentável é uma religião na qual ninguém tem de sustentar nada além de uma dieta balanceada, uma bike legal e um pouco de meditação durante a semana. De empresários "do bem" aos falantes da língua tibetana, muita gente correu pra ouvir essa sabedoria "estrangeira".
Religiões são sistemas de sentido. A vida, aparentemente sem muito sentido, precisa de tais sistemas. A profissão pode ser um. A dedicação aos filhos, outro. A história, a natureza, grana também serve. Enfim, muita coisa pode dar sentido a uma existência precária como a nossa, mas nada se compara a uma religião.
Para funcionar, as religiões têm de garantir crenças e constranger comportamentos a partir de liturgias, mitos, exercícios de poder sacerdotais e regras cotidianas munidas de "sentido cósmico".
Você não "acessa" o sentido oferecido sem "pagar", com a própria adesão, o pacote completo. Isso serve para o catolicismo e para o budismo, ao contrário do que pensa nossa vã filosofia "nova era". No Oriente, o budismo é uma religião como qualquer outra, cheia de vícios e abusos.
A crítica à religião no Ocidente passou pela mão de grandes pensadores. Freud disse que religiosos são obsessivos que não sobreviveram bem à falta de amor incondicional da mãe e à miserável castração do pai verdadeiro, daí creem num Deus todo-poderoso que os ama.
Nietzsche identificou o ressentimento como marca dos religiosos que são todos uns covardes. Feuerbach sacou que Jesus é a projeção alienante de nosso próprio potencial.
Marx acrescentou que essa alienação é concreta e que se ganha dinheiro com isso. Enfim: o religioso é um retardado, ressentido, alienado e pobre, porque gasta dinheiro com o que não deve, a saber, os "profissionais de Deus".
O que eu acho hilário é como muito "inteligentinho" acha que o budismo seja uma religião diferente das "nossas".
Ela seria sem "vícios" e "imposições". Pensam, em sua visão infantil das religiões orientais, que dramas sexuais só afetam celibatários de Jesus e não os de Buda, e que o budismo, por exemplo, é "legal", porque não tem a noção de pecado.
O budismo ocidental que cultua o Dalai Lama é o que eu chamo de budismo light. O perfil desse budista light é basicamente o seguinte.
Vem de classe social elevada, fala línguas estrangeiras, é cosmopolita, se acha melhor do que os outros (apesar de mentir que não se acha melhor, claro), tem formação superior, mora na zona oeste ou na zona de sul de São Paulo, come alimentos orgânicos (caríssimos) e é altamente orientado para assuntos de saúde do corpo (um ganancioso com a vida, claro).
E, acima de tudo, acha sua religião de origem (judaísmo ou catolicismo, grosso modo) "medieval", dominada pelo interesse econômico, e sempre muito autoritária.
Na realidade, as causas da migração para o budismo light costumam ser um avô judeu opressivo, uma freira chata e feia na escola e uma revolta básica contra os pais.
Em extremos, a recusa em arrumar o quarto quando adolescente ou um escândalo de pedofilia na Igreja Católica. Além da preguiça de frequentar cultos e de ter obrigações religiosas.
Enfim, essas são a bases reais mais comuns da adesão ao budismo light, claro, associadas à dificuldade de ser simplesmente ateu.
A busca por uma espiritualidade light é como a busca por uma marca de jeans, uma pousadinha numa praia deserta no Nordeste ou um restaurante de comida étnica da moda.
A espiritualidade do budismo light é semelhante a uma Louis Vuitton falsa. Brega.ponde.folha@uol.com.br

sábado, 24 de setembro de 2011

Desculpas

Alunos e alunas de sexta-feira

Giba, que deveria me substituir na última sexta-feira, penso que a aula era no turno noturno. Peço desculpas pelo transtorno. Na próxima aula, ajustaremos nosso cronograma e discutiremos o texto que deveria ter sido discutido na sexta passada, ok?

abrs

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

a vida como ela é...na folha e demais jornais de hoje


São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 2011 
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Homem forja assassinato com ketchup

Segundo polícia, ex-presidiário recebeu R$ 1.000 para cometer crime, mas simulou esfaqueamento para ficar com dinheiro

Farsa foi descoberta quando contratado e suposta vítima foram vistos se beijando em feira, afirma delegado

DE SÃO PAULO

Um suposto roubo levou a polícia a descobrir um caso de assassinato forjado em Pindobaçu (BA). Segundo a Polícia Civil, o homem que havia sido contratado para o crime desistiu do assassinato, cobriu com ketchup o corpo da mulher que seria sua vítima e ficou com os R$ 1.000 pagos pelo serviço.
Segundo a Polícia Civil, Maria Nilza Pereira Simões procurou a delegacia no dia 24 de junho e afirmou que Carlos Roberto Alves de Jesus havia roubado R$ 1.000 dela.
Porém, ao investigar o caso, a polícia descobriu que o homem foi contratado pela própria Maria Nilza para assassinar a suposta amante de seu marido, Erenildes Aguiar Araujo, conhecida como Lupita.
O rapaz, que é ex-presidiário, desistiu do crime ao descobrir que a mulher era sua amiga. Entretanto, para não perder o dinheiro, forjou o assassinato.
O delegado Marconi Almino de Lima afirma que o homem pintou o corpo de Lupita com ketchup e colocou uma faca em sua axila para simular um esfaqueamento. Na sequência, tirou fotografias com seu celular para comprovar o crime.
De acordo com Lima, a farsa foi descoberta "quando o homem e a suposta vítima foram flagrados aos beijos e abraços" em uma feira. Os três envolvidos no caso respondem em liberdade a processos na Justiça.
Maria Nilza é acusada de ser a mandante do crime. Carlos Roberto Alves de Jesus é acusado de extorsão e a mulher que seria assassinada é suspeita de coparticipação.
Ainda segundo o delegado, o caso só foi divulgado agora porque Erenildes decidiu contar sua história ao repórter de uma rádio local. 

Navarro

Oi, para quem não conhece, eis uma entrevista com Navarro, autor do filme que vimos na última sexta e veremos na noite desta quarta-feira: http://www.estadao.com.br/arquivo/arteelazer/2001/not20011004p2623.htm.

abrs

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

uma dica, hoje na folha


São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2011 
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CONTARDO CALLIGARIS 

De 11 a 15 de setembro de 2001


O terrorista é atormentado pela tentação de ser "convertido" pelo Ocidente e, por isso, já nasce derrotado


Em 2001, eu morava em Nova York, mas, na manhã de 11 de setembro, estava em São Paulo, atendendo no consultório. Alguém me telefonou dos Estados Unidos: "Ligue a CNN". Passei o dia diante da televisão. Só levantava para me desculpar com os pacientes por não poder atendê-los naquele dia.
Um amigo chegou depois da queda das torres e perguntou: "Você conhecia alguém que estava lá?". Ele me lembrou que eu respondi: "Todos, conhecia todos".
E era verdade: o engraxate, o garçom, o gestor de fundos da Cantor Fitzgerald, o bombeiro, o policial, o advogado, o segurança, a secretária, de todas as nações, fés e classes -eu era capaz de empatia com os sonhos de cada um deles: o imigrante sem documentos querendo "fazer a América"; o "senior partner" esperando pela aposentadoria; o jovem louco para fazer seu primeiro milhão; o outro que já o tinha feito e se perguntava se, casando, ele se mudaria para Westchester ou para Brooklyn Heights; o homem já maduro que acabava de decidir que, no dia de Ação de Graças, levaria o namorado para a casa dos pais, para explicar, enfim, que era homossexual e estava cansado de mentir.
Eles eram minha turma, eu era um deles, justamente pelas razões que os juntaram nas torres do World Trade Center: os anseios básicos da mente ocidental (o sonho de merecer a admiração ou, mais mesquinhamente, a inveja dos outros, a vontade sempre frustrada de não renunciar a suas paixões, a ambição, também frustrada, de escutar só seu nariz e seu foro íntimo).
Sentia culpa por não ter estado em Nova York, com eles, na hora do ataque. Pensava nas palavras de meu pai, quando, na Itália dos anos 70, ele tinha me acompanhado numa manifestação que talvez fosse alvo dos terroristas de direita. Ele tinha dito: "Não vamos deixar que eles influenciem nossa vida simplesmente porque acham que podem decidir o dia de nossa morte".
Se me lembro direito, embarquei no voo para o qual eu já tinha reserva, o AA 950 de sexta-feira, 14 de setembro, que foi o primeiro a sair de São Paulo depois do ataque. Houve aplausos na chegada, para agradecer à tripulação (a dos voos abatidos e a do nosso); lembro-me de que a tripulação nos aplaudiu de volta.
Em Nova York, desci a pé ao sul da Canal Street. Foi o começo de um velório coletivo que durou meses: noites passadas com desconhecidos, sobre a passarela da Chambers Street, olhando em direção ao marco zero e vendo os caminhões que, noite adentro, esvaziavam os escombros, subindo pela West Street.
Pouco tempo depois do ataque, George Bush encorajou todo o mundo a fazer compras, "para sustentar a economia da cidade" -ridículo, mas era também um jeito de declarar que o atentado não alteraria nossa maneira de viver. A melhor resposta ao terror é não deixar que o medo nos modifique. Por isso protestei contra o uso da tortura e contra a prisão em Guantánamo -não por razões humanitárias, mas para não ser transformado pelo terror.
Na segunda-feira seguinte, fui para Boston, de onde escrevi a coluna de 20 de setembro de 2001 ("De Onde Vêm os Terroristas"), na qual expressava ideias que se tornariam óbvias só bem mais tarde.
"Os terroristas que atacaram o World Trade Center e o Pentágono viveram tempos longos no Ocidente. Frequentaram universidades e escolas de pilotagem. Não eram pastores descidos das montanhas. Os comentaristas estranham: 'Como é possível? Moraram entre nós durante tanto tempo e puderam fazer isso? Ou seja, será que nossa sedução não funcionou?'. Justamente: ela funcionou demais. A ponto de eles terem decidido destruir o objeto de seus desejos. A interpretação política de seus atos será sempre insuficiente: as Torres Gêmeas, para eles, eram símbolos não tanto de poder quanto de tentação.
Sua 'guerra santa' foi isso: mataram os infiéis nos quais receavam (e desejavam) se transformar. E mataram a si mesmos para nunca mais serem seduzidos."
O terrorista é atormentado por uma tremenda tentação de ser "convertido" pelo Ocidente. Por isso o terrorismo nasce derrotado -por ser filho de uma inveja que só existe em quem já se vendeu ao suposto inimigo.
Em suma, os terroristas de hoje nos matam por raiva de quererem ser como a gente: traíram sua cultura e estão em busca de redenção.
Nota: o livro de A. Appadurai, que citei na semana passada, existe em português, "A Vida Social das Coisas" (Eduff).

ccalligari@uol.com.br
@ccalligaris

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

aviso urgente

oi pessoas

aula normal no ihac na noite de hoje. os vigilantes voltaram ao trabalho

até daqui a pouco

abrs