quinta-feira, 30 de setembro de 2010

De novo, sobre nossas avaliações

Oi pessoas
algumas pessoas me procuraram para saber, ainda, sobre nossas avaliações. algumas sequer sabiam das memórias! é necessário entender que, quando faltamos às aulas, alguma coisa se perde e deve ser recuperada com os colegas. óbvio, não?
então, eis, novamente, um post sobre nossas avaliações

As avaliações do semestre são as seguintes:

Duas memórias das aulas com análises de questões atuais que podem ser analisadas e compreendidas a partir das discussões realizadas em sala. Esses dois trabalhos devem ser entregues, sem falta, nos dias estipulados no calendário/cronograma que está no blog. Não aceitarei trabalhos fora dos prazos (olha a Lei!!!). Cada uma dessas memórias vale até 4 pontos (8 pontos no total). Os dois pontos restantes serão computados para quem participará ativamente das atividades do componente (presença em sala, debate em sala, ter lido os textos básicos nos dias indicados e atribuições que serão distribuídas durante o semestre para pequenos grupos). Por exemplo: alguns alunos deverão, nos dias de discussão de textos, trazer exemplos e questões para serem analisadas a partir das discussões provocadas pelos textos básicos.

O trabalho final, que explico melhor quando chegar mais perto, vai compor a segunda nota. O trabalho consiste na análise de um mal-estar da atualidade. A apresentação do trabalho também vai contar pontos. Esse trabalho poderá ser feito em dupla ou individualmente. No total, esse trabalho, que deverá ser entregue por escrito na data marcada em nosso cronograma, também valerá até 10 pontos.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Dica de leitura complementar

oi pessoas

no texto de Joel Birman, que discutiremos nessa semana, ele levanta a hipótese de que os toxicômanos estão inscritos dentro da estrutura perversa.

a hipótese é refutada por outros autores. leiam, por exemplo, o artigo da psicanalísta sônia alberti (em autoria com outras), disponível em http://www.fundamentalpsychopathology.org/art/set3/1.pdf

abrs

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Na Folha de S. Paulo de hoje - drogas

São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2010 
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Remédio controlado vira festa na baladaMedicamento "tarja preta", indicado para deficit de atenção, é consumido em casas noturnas como estimulante

Médicos alertam para riscos; Anvisa diz que monitora sites e redes sociais para impedir a venda clandestina 

GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO
Para "aproveitar" a balada, o enfermeiro André (nome fictício), 24, costumava tomar comprimidos de ecstasy. Há três meses, trocou a droga ilícita por Ritalina, medicamento vendido em algumas farmácias apenas com receita, que fica retida.
Apelidada de "Rita" na noite, a droga indicada para tratar deficit de atenção e hiperatividade vem sendo usada como estimulante. Sua base é o metilfenidato, de composição similar à anfetamina, que estimula o sistema nervoso central.
"Você se sente gostoso, bonito. Dá sensação de poder e um arrepio bom, como se você fosse ter um orgasmo", descreve André. Ele diz aspirar o farelo do comprimido para sentir o "barato".
O enfermeiro diz ter conhecido os efeitos entorpecentes da Ritalina com amigos médicos.
Antes de saírem para a balada, eles espremem os comprimidos com uma colher e guardam o pó num saquinho. "Uma cartela com 30 serve para quatro pessoas cheirarem a noite toda."
O aumento da sede, um dos efeitos do remédio, costuma ser saciado com vodca. "Daí tudo melhora: a música fica mais legal e as pessoas ficam mais bonitas", afirma.
Ele admite que, sob o efeito da droga, fica com até dez pessoas numa mesma noite. Quando volta para casa, a agitação é tanta que só consegue dormir se tomar Rivotril, calmante que também só pode ser comercializado com receita médica.
Na casa noturna que ele costuma frequentar, no bairro da Lapa, em São Paulo, é comum ver um aglomerado de jovens descamisados dançando espremidos perto das caixas de som. "Aquilo é a Faixa de Gaza", descreve André: "Só tem droga".
A reportagem da Folha acompanhou uma noite nessa casa noturna. Lá, o estudante de publicidade César, 21, admitiu já ter usado Ritalina na balada: "Sou tímido. Quando tomo [a Ritalina], fico com mais coragem de chegar perto das pessoas", disse.
O rapaz admite que não é difícil consegui-la: "Você acha vendendo na internet".
As histórias de André e de César não são casos isolados.
Segundo Arthur Guerra, coordenador do Grupo Interdisciplinar de Estudos sobre Drogas do Hospital das Clínicas, é comum encontrar jovens tomando medicamentos de forma recreativa.
"Eles querem é sentir uma coisa diferente", diz o psiquiatra. Guerra alerta para os efeitos colaterais da "Rita": taquicardia e até quadros de paranoia, dependendo do ambiente em que estiver e da predisposição da pessoa.

SEM CONTROLE 
Elisaldo Carlini, diretor do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, da Unifesp), lamenta não haver ainda levantamento sobre esse uso do medicamento, mas confirma que os casos são comuns.
Segundo ele, apesar da venda controlada, não é difícil comprar o remédio: "Tem quem importe, quem falsifique receita. O que não falta é criatividade para venderem de forma ilegal", afirma.
Adilson Bezerra, chefe de segurança institucional da Anvisa, informa que tanto a venda irregular quanto clandestina desses medicamentos são reprimidas pela Vigilância. A agência mantém convênio com a Polícia Federal para monitorar sites e comunidades de redes sociais, além de fiscalizar a venda de remédios controlados nas farmácias do país.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

"Nação Rivotril"

Olá gente,

Em uma de nossas aulas, alguém deu a dica da matéria "Nação Rivotril", publicada na revista Superinteressante do mês de julho. A leitura é bastante propícia, já que discutiremos esta semana o texto "Que droga!", de Joel Birman.

Saúde

Nação Rivotril

O Brasil é o maior consumidor de Rivotril do mundo. Saiba como um calmante tarja preta tem sido usado para aplacar os sentimentos ruins de jovens, trabalhadores e donas de casa

por Bruno Versolato

Todo mundo tem um refúgio a que costuma recorrer para aliviar o peso dos problemas. Pode ser um lugar tranquilo, talvez a praia. O pensamento em uma pessoa querida. Uma extravagância, como compras ou aquele prato proibido pelo médico. Ou pode ser o armarinho de remédios de casa.

Na farmácia não se encontra produto descrito como "paz em drágeas" ou "xarope de paz". Mas muita gente acha que é isso o que deveria dizer o rótulo do Rivotril, um ansiolítico (ou, popularmente, um calmante). Rivotril é prescrito por psiquiatras a pacientes em crise de ansiedade - nos casos em que o sofrimento tenha causa bem definida. Mas tem sido usado pelos brasileiros como elixir contra as pressões banais do dia a dia: insônia, prazos, conflitos em relacionamentos. Um arqui-inimigo dos dilemas do mundo moderno.

Tanto que o Brasil é o maior consumidor do mundo em volume de clonazepam, o princípio ativo do remédio. Serão 2,1 toneladas em 2010, o que coloca o Rivotril no topo das paradas farmacêuticas daqui. É o 2º remédio mais vendido no país, à frente de nomes como Hipoglós e Buscopan Composto - em 2004, era o 4º da lista. Só perde agora para o Microvlar, anticoncepcional com consumo atrelado à distribuição pelo governo via Sistema Único de Saúde (SUS).

E olhe que o Rivotril é um remédio tarja preta. Só pode ser comprado na farmácia com a receita do médico em mãos. "A maior parte das vendas desse medicamento acontece via prescrição. Mas muitos conseguem o remédio com receita em nome de outros pacientes ou até pela internet", afirma Elisardo Carlini, diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, da Unifesp. Em alguns casos, até há a prescrição - mas de um médico não especialista, segundo Alexandre Saadeh, professor do Instituto de Psiquiatria da USP. "Ginecologistas costumam prescrever Rivotril para pacientes que sofrem fortes crises de TPM", diz. Até porque poucos brasileiros vão ao psiquiatra, de acordo com a Roche, laboratório responsável pelo Rivotril. "Grande parte dos brasileiros tem dificuldade de acesso a psiquiatras, e isso está relacionado à prescrição do Rivotril por médicos não especialistas", afirma Maurício Lima, diretor-médico da Roche.

Foi assim, por via não ortodoxa, que a popularidade do Rivotril cresceu. Não é difícil ouvir donas de casa recomendando o remédio a uma amiga que tem tido problemas para dormir. "Quem nunca ouviu que uma tia ou uma vizinha toma Rivotril há 20 anos e só dorme com isso?", pergunta o professor de psiquiatria do curso de medicina da PUC de São Paulo, Carlos Hubner. Ou achar relatos do tipo "Rivotril é meu melhor amigo" no Orkut e no Facebook. Nessas histórias, o Rivotril aparece sempre como um freio para sentimentos como medo, rejeição, angústia, tristeza e ansiedade. "Houve Big Brother em que eu estava com muita ansiedade e usava Rivotril para entrar no ar", disse Pedro Bial em entrevista à revista Playboy. O remédio tem sido usado até para cortar o efeito de outras drogas, segundo o psiquiatra André Gustavo Silva Costa, especialista em tratamento de dependentes químicos. "Jovens têm tomado o Rivotril para cortar o efeito de drogas como cocaína. Eles querem dormir bem para conseguir trabalhar no dia seguinte", diz.

O que é que o Rivotril tem?

Mas que mágica é essa? Quando somos pressionados, algumas áreas do cérebro passam a trabalhar mais. Vem a ansiedade. O Rivotril age estimulando justamente os mecanismos que equilibram esse estado de tensão - inibindo o que estava funcionando demais. A pessoa passa a responder menos aos estímulos externos. Fica tranquila. Ainda que o bicho esteja pegando no trabalho, o casamento indo de mal a pior e as contas se acumulando na porta. É essa sensação de paz que atrai tanta gente. Afinal, a ansiedade traz muito incômodo: suor, calafrios, insônia, taquicardia... "Muitas vezes o sofrimento se torna insuportável. O remédio é valioso quando o paciente piora", diz Silva Costa. Para a carioca Bruna Paixão, de 32 anos, funcionou. "Um dia tomei uma bronca do meu chefe e fiquei péssima. Só pensava nisso. Aí resolvi tomar Rivotril para dormir. Tinha uma caixa em casa, dada por um amigo médico. Assisti um pouco de TV, conversei com um amigo no telefone e fui ficando bem", diz.

Justamente por trazer essa calma toda, o Rivotril não é recomendado a qualquer um. Seu consumo por profissionais que têm de se manter ágeis e em estado de alerta - como pilotos de avião e operadores de máquinas, por exemplo - é desaconselhado por médicos. "O Rivotril dá a falsa impressão de que a pessoa produz mais, mas a verdade é que o remédio só deixa mais calmo", diz José Carlos Galduroz, psiquiatra da Unifesp.

Não é só com o Rivotril que isso acontece. Os calmantes da família dele - os chamados benzodiazepínicos - têm o mesmo papel. São remédios como Lexotan, Diazepam e Lorax. Em parte, o Rivotril ficou famoso ao pegar carona na onda dos "benzo". Eles surgiram na década de 1950, e logo viraram os substitutos para os barbitúricos, como o Gardenal. Os barbitúricos têm indicação semelhante à dos benzo. Mas são mais perigosos: a linha entre a dosagem indicada para o tratamento e aquela considerada tóxica é muito tênue. A mais famosa vítima dos excessos de barbitúricos foi Marylin Monroe (embora haja dúvidas sobre o envenenamento acidental da atriz). Quando surgiram os benzodiazepínicos, o mundo achou um combate mais seguro à ansiedade. "Uma overdose de remédios como o Rivotril é praticamente impossível", diz Saadeh, da USP.

É verdade, o Rivotril tem berço, vem de uma família benquista pelos médicos. Isso já garante uma popularidade. Mas ele tem uma vantagem extra em relação aos parentes. Seu tempo de ação é de, em média, 18 horas no organismo, entre o início do relaxamento, o pico do efeito e a saída do corpo. É o que os médicos chamam de meia-vida. "A meia-vida do Rivotril é uma das mais confortáveis para o paciente, porque fica no meio-termo em relação aos outros remédios para a ansiedade e facilita a adaptação", diz Saadeh. Na prática, esse meio-termo significa que o efeito do Rivotril não termina nem cedo demais - o que poderia fazer o paciente acordar de uma noite de sono já ansioso - nem tarde demais - o que não prolonga a sedação por um período maior que o desejado.

No Brasil, o Rivotril tem ainda outra vantagem importante. Repare: somos os maiores consumidores mundiais do remédio, mas estamos apenas na 51ª colocação na lista global de consumo de benzodiazepínicos. Ou seja: o mundo consome muitos benzo, nós consumimos muito Rivotril. Por quê? Por causa do preço. Uma caixa de Rivotril com 30 comprimidos (considerando a versão de 0,5 miligrama) custa em torno de R$ 8. O principal concorrente, o Frontal, da Pfizer, custa cerca de R$ 29.

Tudo isso faz o pessoal se esquecer da tarja preta do remédio. Mas ela está lá por um motivo, é claro. E esse motivo é o risco de dependência.

O risco é o mesmo visto em outros benzodiazepínicos. São dois, aliás. O de dependência química e o de dependência psicológica. Na química, o processo é parecido com o gerado por drogas como álcool e cocaína. O uso prolongado torna o cérebro dependente daquela substância para funcionar corretamente. A outra dependência é a psicológica. A pessoa até para de tomar o remédio, mas mantém uma caixa sempre no bolso como precaução. "Cerca de 80% das pessoas que usam benzodiazepínicos ficam dependentes em 2 ou 3 meses de uso", diz Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas, de São Paulo. "E a maioria tem sídrome de abstinência se o remédio for tirado de uma hora para outra."

Em casos mais graves, a abstinência pode levar o paciente a uma internação. A pessoa pode ver, ouvir e sentir coisas que não existem, apresentar delírios (como ser perseguida por extraterrestres), agitação, depressão, apatia, entre outros sintomas. E para cortar a dependência? "O paciente precisa querer parar. Há drogas que tratam os sintomas da abstinência em no máximo 4 semanas", afirma Carlo Hubner, da PUC. Livrar-se do Rivotril é duro porque é preciso enfrentar todos os fantasmas de que o paciente queria se livrar quando buscou o remédio. Afinal, o remédio só esconde os problemas. Eles continuarão lá, à espera de solução. O verdadeiro adeus é o momento em que se aprende a lidar com a ansiedade. Sozinho. Ou talvez com uma passadinha rápida na praia. Pensando no namorado. Ou com a ajuda daquela lasanha (bem gorda).


Para saber mais

Goodman & Gilman
Laurence Brunton, John Lazo, Keith Parker, Artmed, 2010.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

aviso ou heeeeeeeeeellllooooooooo!!!!!!!

pessoas, tudo bem?

Coloquei hoje na xerox da letras o texto do Joel Birman, que iremos discutir depois de terminar, nessa semana, o texto do Freud. Abri uma nova pasta em Letras a pedido de vários alunos que reclamaram que a xerox da Facom fecha muito cedo.

Ampliei um pouco o volume do texto do Birman, por isso, agora discutiremos da página 219 a 249. Isso na próxima semana (29 e 30 de setembro), ok?

Depois disso, encerramos essa nossa primeira parte e vcs precisarão me entregar a primeira memória das aulas. A propósito, eu pergunto: como as pessoas que nunca anotam nada nas aulas farão as memórias? como as pessoas que não foram ao Stonewall 40 + o que? farão as suas memórias sobre essas aulas?

Parafraseando um dos palestrantes do referido evento: heeeeeeeeeellllooooooooo!!!!!!!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Na Folha de S. Paulo de hoje

São Paulo, quinta-feira, 09 de setembro de 2010 
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CONTARDO CALLIGARIS 

Leia com atenção - ou não

Novas pesquisas valorizam a divagação e o devaneio, ambos hoje considerados indispensáveis para pensar

A SEXTA temporada de "House" está acabando, no Universal Channel, e a sétima é iminente. Quem segue a série sabe que, frequentemente, o achado decisivo do médico House acontece, digamos, por distração.
Durante uma boa metade de cada episódio, House testa todo tipo de hipótese diagnóstica, enquanto o paciente sobrevive a exames e tratamentos inúteis.
Mesmo durante essa primeira fase, House não avança graças a sei lá qual capacidade focada de examinar e interpretar os sintomas do paciente. Ao contrário, ele funciona direito só numa espécie de jogo em que os membros de sua equipe, meio que no chute, levantam hipóteses que ele derruba.
Essa componente lúdica e divagadora de seu funcionamento aparece em outras circunstâncias: o paciente está morrendo e House (para pensar melhor ou para não pensar?) toca guitarra elétrica, ironiza a vida sentimental de um amigo, brinca com uma bola.
Reconhecemos facilmente a hora do diagnóstico final e correto porque 1) faltam 15 minutos ao fim do episódio, 2) repetidamente, esse diagnóstico surge quando House se perde num pensamento que não tem nada a ver com o paciente e sua doença.
Imagine, por exemplo, que o paciente esteja morrendo ou prestes a ser operado por causa de um diagnóstico errado. House entra num bar para assistir a um jogo de futebol. Vergonha: ele deveria estar preocupado com seu paciente, não é? Mas eis que um zagueiro faz um gol contra, e a distração desse momento-futebol permite que House se lembre de que, às vezes, o organismo também faz gol contra: heureca, doença autoimune!
Para os psicanalistas, essa situação é familiar. Freud recomendava que os pacientes fossem escutados com "atenção flutuante". Ele não sugeria que, durante a sessão, os analistas lessem o jornal ou cuidassem de seus e-mails.
Mas acontece que interpretar significa juntar dois pensamentos que, à primeira vista, não parecem ter muito a ver um com o outro. Para que isso aconteça, é preciso manter aberta a porta da divagação, de modo que pensamentos estrangeiros ao contexto não sejam barrados por princípio.
O diagnóstico médico e a escuta psicanalítica são processos que exigem um exercício criativo, se não inventivo. Neles, pode ser bem-vindo, AO MESMO TEMPO, divagar (ou mesmo devanear) e seguir os caminhos focados do pensamento que executa uma tarefa.
Nos anos 60, o metilfenidato (um estimulante) começou a ser usado para tratar o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em crianças em idade escolar. De 60 a 90, o diagnóstico de TDAH aumentou brutalmente: nos EUA, por exemplo, de 12 crianças em cada mil nos anos 70, chegou-se a 34 em cada mil nos anos 90.
Seja qual for a realidade neurológica e psicológica do TDAH e seja qual for a eficácia do seu tratamento com metilfenidato, é difícil não constatar que a epidemia tem também uma explicação cultural.
Sua história começa logo nos anos 60, uma época em que divagar (perder-se no pensamento e pelo mundo) era um valor positivo da contracultura. Desde então, voltamos a prezar o olhar focado do predador. O ápice dessa reação (e do diagnóstico de TDAH) foi a religião do sucesso dos anos 90.
Ora, começam a aparecer pesquisas que revalorizam a divagação e o devaneio. "Descobrimos" o que já sabíamos: há uma desatenção sem a qual não se consegue pensar nada que valha a pena.
Usando apenas o dito "controle executivo" focado, conseguiremos cumprir tarefas adequadamente (mesmo assim, à condição que não haja imprevistos), mas não inventaremos nada. A própria invenção científica (não só a criação artística) pede um uso simultâneo de controle executivo e divagação.
Duas pesquisas, para quem quiser ler (com atenção, claro):www.migre.me/1aZZu e www.migre.me/1b57h.
A segunda documenta (por ressonância magnética funcional) a cooperação possível de pensamento focado e devaneio (que ainda são, por muitos, considerados como atividades exclusivas uma da outra).
À luz dessas pesquisas, seria bom reavaliar nossa hipervalorização da atenção focada e, sobretudo, nossa medicalização sistemática de crianças que, às vezes, com toda razão, gostam de sonhar de olhos abertos.
ccalligari@uol.com.br

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Verger, o Candomblé e a psicanálise

Pessoas

Mais uma dica, em especial por ter sugerido os vídeos sobre candombé abaixo.

Leiam essa entrevista de Verger: http://www.pierreverger.org/fpv/index.php?option=com_content&task=view&id=163&Itemid=549

abrs

Na Folha de S. Paulo de hoje

São Paulo, sexta-feira, 03 de setembro de 2010 
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ANÁLISE

Incrível mesmo seria se a ciência usasse fé como explicaçãoHÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA 

Incrível mesmo seria se Hawking tivesse encontrado um Deus oculto entre supercordas e multiversos. Pelo menos desde Laplace (1749-1827), para quem o Criador era uma "hipótese desnecessária", o trabalho dos físicos consiste justamente em encontrar explicações naturalistas para as coisas.
A intenção de Hawking de trazer Deus para o debate, porém, é revelada desde o título de seu novo livro: "The Grand Design". O exercício é legítimo como provocação e deve ajudar nas vendas, mas acrescenta pouco em termos epistemológicos.
Na verdade, uma teoria que dependesse de uma inteligência infinita para parar em pé é que seria excomungada "latae sententiae" da ciência, pois incorreria no pecado de multiplicar desnecessariamente as entidades explicativas, violando o princípio da navalha de Occam.
Daí não decorre que ciência e religião não possam dialogar e, como muitas vezes ocorre, brigar uma com a outra. Só que é preciso ser mais específico e não se devem esperar nocautes triunfantes.
Não conseguimos demonstrar para além de qualquer dúvida seja a existência ou a inexistência de um ente supremo. Mas podemos levar a sério algumas teses religiosas, convertê-las em hipóteses e testá-las cientificamente. Isso nos permite descartar, por exemplo, a ideia de que a Terra tem menos de 10 mil anos de idade, como querem os criacionistas bíblicos.
De modo análogo, podemos estimar como remotas as chances de um nascimento virginal no século 1º a.C. ou de pessoas mortas, às vezes há milhares de anos, voltarem à vida no futuro.
O alcance desses testes, contudo, é limitado, uma vez que os crentes sempre podem recorrer à noção de que Deus tem, por definição, o poder de suspender quando quiser as leis da natureza.
Assim, desde que evitem juízos verificáveis sobre o presente ou o passado, religiões podem sobreviver sem feridas fatais ao escrutínio da ciência. Cérebros selecionados durante milhares de anos para crer não precisam de muito mais do que isso.

Na Folha de S. Paulo de hoje

São Paulo, sexta-feira, 03 de setembro de 2010 
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Universo não precisou de Deus para surgir, diz físicoBritânico Stephen Hawking, 68, reacende polêmica religiosa em novo livro
Cientista-celebridade aposta em múltiplos cosmos para explicar leis da natureza sem recorrer a divindades

Valentin Flaraud - 9.set.2009/Reuters
Stephen Hawking antes de palestra em Meyrin, na Suíça, em setembro de 2009

SABINE RIGHETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA 

REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR INTERINO DE CIÊNCIA
O físico-celebridade britânico Stephen Hawking aparentemente cansou de bancar o bonzinho com Deus. Em seu mais novo livro, ele afirma que o Criador é dispensável para explicar o Universo.
E isso porque a obra de Hawking, 68, recebeu o nome enganoso de "The Grand Design" ("O Projeto Grandioso"). Mas, junto com o físico e coautor Leonard Mlodinow, o que ele faz no texto é negar a existência de um projeto divino para o Cosmos.
"Uma vez que existe uma lei como a gravidade, o Universo pode e vai criar a si mesmo a partir do nada. A criação espontânea é a razão pela qual existe alguma coisa no lugar de coisa nenhuma, a razão de nós existirmos. Não é preciso invocar Deus para que o Universo tenha um começo", escreveu a dupla.
O trecho do livro, que só chega às lojas na semana que vem, foi publicado no diário "Times", de Londres.

RABINO REBATE
O bafafá em torno das frases fez com que Hawking fosse um dos temas mais comentados no Twitter ontem e levou até a uma réplica mal-humorada do rabino-chefe do Reino Unido, Lorde Jonathan Sacks. "A ciência que se disfarça de religião é tão perniciosa quanto a religião que se disfarça de ciência", disse.
A imprensa britânica chegou a pintar o livro como uma virada de casaca. "Parece que levaram ao pé da letra a afirmação dele sobre Deus na obra "Uma Breve História do Tempo", de 1988", diz o físico Leandro Tessler, da Unicamp. Nesse best-seller, Hawking disse que entender as leis do Universo seria como ler "a mente de Deus".
Mais tarde, porém, deixou claro que se tratava de uma metáfora e afirmou que não era religioso. Quase totalmente paralisado e com fama de gênio, Hawking tem aura de profeta da ciência, mas não há nada de realmente novo no que escreveu.
"A ideia de que o Universo surgiu do nada, de que as teorias físicas permitem isso, não é nova. Resulta da junção entre teoria da relatividade e mecânica quântica", diz Roberto Belisário, doutor em física pela Unicamp.
No livro, Hawking se diz defensor de uma das possíveis junções das duas teorias. Segundo ela, haveria um Multiverso -ou seja, infinitos universos, entre os quais este aqui seria só mais um.
A existência do Multiverso resolve, em tese, a estranha coincidência de que o Universo conhecido parece ter sido "regulado" para que estrelas, planetas e seres vivos pudessem surgir. Se há infinitos universos, um deles, inevitavelmente, teria condições pró-vida. Não há, contudo, indício direto da existência desses outros cosmos.
"No fim das contas, assim como não é possível provar pela ciência que Deus existe, também não é possível provar que não existe -e nem mesmo que ele é desnecessário", afirma Belisário.

Cenas da barbárie atual

03/09/2010 às 10:41
  | ATUALIZADA às 13:03 | COMENTÁRIOS (4)

Polícia confirma mais 4 adolescentes vítimas de estupro em Tanhaçu

Juscelino Souza | Sucursal Vitória da Conquista
A delegada de Tanhaçu, Ana Paula Ribeiro, divulgou, nesta sexta-feira, 3, que mais quatro adolescentes foram vítimas de estupro na "competição sexual" atribuída a 40 homens, de 23 a 35 anos, no município localizado a 471 km de Salvador. Com estes casos - atestados após recebimento de resultados de exames periciais solicitados ao Departamento de Polícia Técnica (DPT) - sobe para oito o número de vítimas adolescentes confirmadas.
Além destes casos, pelo menos outras 34 supostas vítimas, com idade variando entre 12 e 14 anos, teriam sido abusadas sexualmente por um grupo que elegeria como vencedor da “competição” aquele que conseguisse “tirar a virgindade de um maior número de garotas” na pequena cidade de 20 mil habitantes. Depois de ouvir 13 garotas, ao longo de quase um mês de investigação, a delegada solicitou a prisão temporária de três acusados, porém a Justiça só deferiu dois pedidos, dos irmãos André, 23, e Luiz Fernando Moreira Pereira, 24 anos.
O juiz entendeu que não houve crime de estupro de incapaz atribuído ao terceiro acusado. Esse entendimento se deve ao fato de, quando se trata de garotas de 14 a 17 anos, a legislação descaracteriza crime de estupro contra incapaz quando há consentimento da vítima. Até 14 anos de idade, a lei prevê estupro de incapaz havendo consentimento ou não.
À medida em que essas jovens, com idade inferior a 12 anos, são ouvidas em companhia dos pais são imediatamente encaminhadas para exame pericial. "Caso seja constatado abuso, a polícia prossegue investigando, a despeito de a suposta vítima recuar, negando o crime ou alegando estupro consentido”, salientou a delegada.
Desde que tiveram a prisão decretada, os irmãos desapareceram da cidade e só se comunicam com a família por meio de cartas, segundo a mãe, Cristina Souza Moreira, 43. “Nós temos a certeza de que eles não cometeram esses crimes, mas os meninos tiveram que sair da cidade porque foram ameaçados de morte pelos parentes dessas meninas”, justifica.
Além do advogado da família, que tenta revogar o pedido de prisão, deferido há uma semana, a família dos jovens acusados faz a defesa por meio de vídeos e comunidades na internet. Os pais das supostas vítimas dos irmãos só se pronunciaram uma vez, quando reforçaram as denúncias, cobrando punição aos citados no inquérito.
Abusos negados - A polícia afirma que encontra uma série de dificuldades para conseguir provas materiais contra os acusados pelo fato de mães de algumas das vítimas forçarem as filhas a negar os abusos. De acordo com a polícia, mesmo quando os exames periciais detectam o rompimento do hímen, as meninas, orientadas pelos pais, fazem questão de mudar a versão, alegando que iniciaram a vida sexual com os supostos namorados.
Algumas adolescentes, ainda segundo a polícia, estariam sendo obrigadas por alguns suspeitos a persuadir outras vítimas a negar o crime, inocentando-os. Diante disso, de acordo com a delegada Ana Paula Ribeiro, as mães das vítimas podem ser indiciadas criminalmente por falso testemunho e desobediência ao dificultarem o andamento das investigações.
As vítimas são ouvidas pela delegada nas suas residências e são encaminhadas a psicólogos disponibilizados pelo Ministério Público, Secretaria de Saúde e Prefeitura de Tanhaçu.

Dica Carla

Oi, na aula da última quarta, Carla falou desse filme e agora manda links com trailer e um trecho da obra:

http://www.youtube.com/watch?v=TVoD9RfsQHg

trecho: http://www.youtube.com/watch?v=cb8xmA0vs_o&feature=related

Muito interessante.

Bom final de semana e feriado viajando nas linhas de Freud