terça-feira, 5 de março de 2013

mais um trabalho mb

Rafael Rodrigues


Introdução

O presente trabalho busca analisar o impacto das discussões em sala, textos lidos e filmes visualizados sobre a minha subjetividade, a partir do componente Estudo das Subjetividades. O trabalho está dividido em etapas, sendo que cada uma analisa esse impacto a partir de cada aula e sua respectiva leitura. Em alguns momentos trarei, para melhor contextualizar, tanto momentos da minha vida, como o que foi discutido em sala.

Estudo das Subjetividades – 03/12

  O complexo de Édipo criado por Freud realmente surpreende e rompe barreiras e tabus. Pensar a relação com os pais como uma relação onde existe desejo sexual seria inimaginável pra qualquer um. “O complexo de Édipo não é uma história de amor e ódio entre pais e filhos, é uma história de sexo, isto é, uma história de corpos que sentem prazer em se acariciar, se beijar, se morder”. Pra mim, a teoria do Édipo parece se encaixar em algumas coisas. Sempre me perguntei de onde surgia tanta repressão dos desejos sexuais do ser humano. Para Freud, começa na infância, quando reprimimos nosso desejo pelos nossos pais. Claro, que na nossa mente atual, parece impossível pensar nesse tipo de desejo quando crianças, principalmente se tratando de nossos pais. Mas por que não? Talvez essa repressão de quando criança tenha sido tão forte, que tenhamos até dificuldade de pensar nisso hoje. O autor do texto da aula de hoje  diz que o Édipo é um conflito entre a exaltação de desejar e o medo de se consumir nas chamas do desejo. E pensando bem, somos assim até hoje, como adultos. Vivemos constantemente numa gangorra entre reprimir nossos desejos e se entregar a eles, mesmo que de forma escondida e sentindo culpa. A base da nossa sociedade é o refreamento de nossos impulsos. A teoria diz que é no Édipo que desenvolvemos o pudor, a culpa e o senso moral. E é exatamente a sexualidade que mais nos traz esses sentimentos. Temos medo dela, de mostra-la, e o Édipo, pelo menos pra mim, parece uma explicação que fez sentido. Não que eu vá ser grande defensor dela, mas só acho que faz sentido mesmo.
Por exemplo, ele diz que o menino no Édipo rivaliza com o pai. Me pergunto se a minha relação com meu pai, que de certa é de rivalidade, se deve por conta do Édipo. Nunca consegui explicar direito a mim mesmo tal problema, mas nessa teoria, consigo dar sentido a ele. Mesmo assim, realmente não consigo imaginar o menino tendo medo de ser castrado. Mas parando pra pensar no exemplo do futebol (jogadores na barreira), porque será que é o penis a parte que mais protegemos no corpo?
Sempre observei também como os homens sempre são mais próximos da mãe, e as mulheres do pai. Esses dias estava observando a relação de minha namorada com os pais. É interessante ver como com o pai ela abraça e beija muito mais do que o faz com a mãe. Será que é por conta de algum desejo sexual da infância, que nem temos a menor ideia da existência? E o mesmo vale pra mim, que sou mais próximo de minha mãe.
Ainda me pergunto como será que se desenvolvem os problemas de relacionamentos posteriores ao Édipo, como homens que tem dificuldade de relacionamento, por exemplo. Que tipo de relação com esse desejo com os pais gera esses problemas depois. O texto diz que é a partir do Édipo que se forma a identidade sexual do homem. E sobre mim, me pergunto se a minha timidez tem alguma coisa a ver com isso também. Penso que pode ser por alguma dificuldade na relação com minha mãe. Porque, pensando bem, sou mais próximo dela do que de meu pai, mas nem sou tão próximo assim de minha mãe. Na verdade, sou meio distante dos dois. Talvez por isso seja distante das pessoas, em geral. Mas nem sei se isso tem a ver com o Édipo.
Estudos das Subjetividades – 10/12

  Hoje assistimos ao filme Cisne Negro. O propósito era analisar, a partir da história da protagonista do filme, o Complexo de Édipo na menina. Essa protagonista, Nina, tinha claramente dificuldade de viver sua sexualidade, que foi completamente reprimida, graças a sua mãe. A mãe, frustrada com sua própria carreira como bailarina, sonha que a filha viva a vida que ela não conseguiu, como bailarina de grande sucesso. Tem êxito até certo ponto, pois a menina realmente sonha com tal carreira de sucesso, e em parte já a tinha mesmo antes de conseguir o papel da Cisne Rainha. Porém, pra conseguir esse papel, ela vai precisar começar a viver a sexualidade que foi tão reprimida. Talvez a menina não tenha a sexualidade aflorada também pela ausência de um pai, já que para Freud, o pai é símbolo de desejo da menina em sua infância. Além dessa ausência, a mãe impede que esses desejos surjam, para assim, poder ter um maior controle sobre os sonhos da menina. Em todo o filme, a mãe aparece como aquela que impede a menina de sexualizar. Com a ajuda de Lily, e principalmente do diretor do balé, que irá simbolizar o papel do pai, daquele que desperta a sexualidade nela, ela passará a sentir mais o desejo de corpo. Porém, ela não aguenta tal mudança, e enlouquece, passando a ter varias alucinações.
Sem ter contato com essa teoria, é difícil imaginar algum tipo de relação de sexualidade com nossos pais. Pra mim a teoria parece fazer certo sentido quando por exemplo, presto atenção em minha namorada. Realmente vejo que ela tem uma proximidade muito maior com o pai. Eles se tocam, se abraçam e beijam com muito mais frequência do que ela faz com a mãe. Freud diz que a menina rivaliza com a mãe, e realmente, se prestar atenção, acho que ela de alguma forma rivaliza realmente com a mãe, assim como consigo me enxergar rivalizando com meu pai. E ao mesmo tempo, enxergo a todo tempo como as crianças parecem gostar mais do pai de sexo oposto. Minha mãe essa semana me contou de um casal amigo dele que estava brigando, quando a filha de 4 anos interrompeu e disse para a mãe, “Para de brigar com ele, se não eu vou embora com meu pai”. Ela não falou de uma forma como se realmente fosse embora com ele, mas fico pensando porque ela prefere ir com o pai do que a mão. E aí o Édipo parece fazer sentido mesmo.
Me parece que pensar uma sexualidade relacionada aos pais, para muita gente, tira um pouco da beleza que temos em mente do que deveria ser a relação perfeita com nossos pais, por isso muitas pessoas parecem resistir as ideias dessa teoria.
O que mais me fez refletir nessa aula de hoje foi a observação feita pela Raquel no final. Por mais louca que possa parecer, a teoria de Freud parece fazer sentido quando tentamos aplica-la na vida real. Mas outras teorias parecem também fazer sentido quando aplicadas. A grande questão é que tais teorias buscam explicar algo que provavelmente nunca saberemos realmente se é verdadeiro ou não. O que se pode fazer é aplicar uma teoria, que pode funcionar ou não. E mesmo que funcione, não significa que ela dá a explicação final para tal problema.

Estudo das Subjetividades – 17/12

  De inicio, debatemos sobre como poder trazer as ideias do texto para a realidade. Mais especificamente, sobre o caso da matança na escola americana noticiada nessa semana. Nos perguntamos, “o que será que leva um individuo a cometer um ato como esse?”. A resposta é realmente muito difícil. Uma pessoa trouxe uma ideia muito interessante sobre a influencia da cultura do próprio país sobre o individuo. Os EUA sempre tiveram uma cultura armamentista muito forte, e é comum para eles verem soldados matando uma série de pessoas em guerras e serem tidos como heróis. Isso em si já influencia a pessoa a cometer tal ato de violência. Mas ainda assim, é necessário ir muito mais longe para chegar a algo mais conclusivo. No próprio país atos como esse já aconteceram diversas vezes. Em geral, o criminoso acaba tornando-se quase uma celebridade, e tem sua história contada e recontada diversas vezes pela mídia. Por isso, acredito ser esse um ato desesperado de alguem que quer chamar a atenção, e mostrar a todos que está sofrendo muito. O que se tem dito é que o autor do crime era uma pessoa comum, mas que era quieto e isolado. O isolamento em si é uma das formas citadas por Freud para evitar o sofrimento, pois para alguns, relacionar-se com pessoas é de um sofrimento muito grande. Porém, mesmo assim, o sofrimento irá continuar existindo, pois a pessoa irá sentir-se invisível na sociedade. Por isso, acredito eu ter sido esse um ato para chamar atenção ao seu sofrimento, o qual a pessoa não conseguia mais suportar.
Para mim, esse foi o texto de Freud que mais me chamou a atenção até o momento. Consigo observar em mim mesmo todas as formas de escapar do sofrimento citadas por ele, em algum momento da minha vida. Pela minha dificuldade de relacionamento, me vejo muitas vezes buscando isolamento como forma de evitar tal sofrimento. Consigo enxergar também a saciação e o deslocamento dos instintos como forma de obter prazer em diversos momentos de minha vida. Mesmo o sentimento amoroso e o uso de químicas, já utilizei como meio de fugir do sofrimento em outros momentos. Freud diz que a vida é seguida sempre pelo principio de buscar o prazer e evitar o sofrimento, e nesse ponto concordo completamente com ele.
Trazer as ideias de Freud para o nosso momento atual é extremamente interessante. As formas de buscar prazer e evitar sofrimento podem ter mudado um pouco, mas a ideia principal do texto pode ser facilmente visualizada em nossa sociedade. Com a saída da religião como centro da sociedade, mudamos do medo do gozo para a um estimulo ao gozo incessante. Segundo Freud, para alguns a busca do prazer torna-se mais forte do que evitar o prazer, enquanto para outros, o contrário é verdadeiro. E é essa a mudança que vemos na sociedade atual. Enquanto tínhamos antigamente a religião, que nos propunha mais evitar o sofrimento do que buscar o prazer, hoje a busca por esse prazer é mais intensa, e mais aceita socialmente, apesar de ainda haverem varias restrições, que vão diminuindo cada vez mais.

Estudo das Subjetividades – 07/01

  Seria o amor então um caminho para a felicidade? Acho que o amor sexual, entre duas pessoas, traz alguma satisfação, não só pela possibilidade de sexualizar, como traz Freud, mas dá também porque nos faz sentir mais protegidos da solidão. Acho que temos essa tendência a nos unir em pares porque achamos que assim não nos sentiremos sozinhos, e ninguém nos verá como alguém solitário. Por isso mantemos nossas relações mesmo quando não há paixão. Pelo medo de ser e parecer sozinho. Mas, como Freud mesmo coloca, o amor nos traz satisfação, mas também nos deixa expostos ao sofrimento, Já que podemos perder esse parceiro ou nos descobrirmos infelizes nessa relação. E além do mais, ainda temos que encarar uma série de limitações a esse amor feitas pela sociedade. Limitações essas que nós mesmos aceitamos e fazemos parte. Por exemplo, esses dias assisti um seriado de TV onde havia um casal que parecia bastante feliz, até que num momento o homem diz para sua mulher que não quer casar-se com ela (veja bem, ele não diz que não quer ter uma relação longa com ela, mas apenas que não quer consumar a relação numa cerimônia pública chamada casamento). Daí então, ela resolve terminar a relação. Vejo isso como um ótimo exemplo de como as relações amorosas são construídas de forma que parecem já estar estabelecidas antes mesmo do casal unir-se.  E parece existir a cobrança até mesmo do próprio casal, que quer se encaixar nisso. Fugir de tais padrões provavelmente faria o casal não só ser reprimidos de alguma forma, mas eles próprios se sentiriam estranhos.
Bom, mas e a outra concepção de amor que Freud traz a do amor por todos os indivíduos? Mas esse parece ser algo tão difícil para nós. Dada a minha tendência a não acreditar na felicidade na primeira forma citada, acho que acredito mais nessa última.
E quanto a nossa tendência a agressividade? Ao se perguntar como a cultura inibe tal agressividade, Freud chega a conclusões muito interessantes. Pra mim é bem claro que isso acontece através da ameaça de punição, que pode ser desde as punições legais, da justiça ou a ameaça da “perda de amor”, ou seja, o medo de sermos rejeitados pela sociedade ou por parte dela. Um político corrupto, por exemplo, vai ter medo de ser descoberto, mesmo sabendo que provavelmente nem será punido pela justiça, mas por temer a rejeição da sociedade. Temos necessidade não só de vivermos em sociedade, mas de nos sentirmos aceitos por ela. Por isso muitas vezes nos encaixamos em padrões que podem parecer irracionais. Ainda mais interessante é pensar na formação do Super-eu. Seria uma parte de nossa consciência que monitora nossos pensamentos. Ou seja, podemos nos sentir culpados não só por nossas ações, mas também por nossos pensamentos. O próprio conceito cristão do pecado, em geral passa pela culpa pelos nossos pensamentos. Admito que perceber a existência de tal parte da consciência me faz perceber o quanto de culpa sinto por tantos pensamentos. Desde a atração sexual até os sentimentos de raiva. E esse Super-eu pode ir mais além, dependendo do que acreditamos ser o ideal para minha vida. Por exemplo, se acredito que não devo sentir raiva de outras pessoas, porque isso não me faz bem, provavelmente passarei a me sentir culpado toda vez que sentir. Mas o que isso faz é apenas aumentar esse sentimento. Nosso problema é que não sabemos nenhuma outra forma de lidar com esses sentimentos, então apenas os reprimimos. E quanta infelicidade isso nos gera. Talvez seja por isso que criamos nossas mascaras e modos de agir não verdadeiros, para esconder e não deixar que os outros percebam esses pensamentos que consideramos errados. Daí gostarmos também de fingir que somos felizes a todo o tempo.

Estudo das Subjetividades – 07/01

  "’Não deveria ter trabalhado tanto’, diz um dos pacientes. ‘Desejaria ter ficado em contato com meus amigos’, ‘Desejaria ter-me permitido ser mais feliz’.  Há cem anos, ou 50, quem sabe, sem dúvida seriam outros os arrependimentos terminais. ‘Gostaria de ter sido mais útil à minha pátria’, diria alguém. ‘Gostaria de ter deixado um patrimônio maior para meus descendentes’, poderia suspirar o pai de família. ‘Deveria ter sido mais obediente a Deus’, confessaria um terceiro.” Esse é um pedaço que retirei do artigo que Marcelo Coelho, “Arrependimentos terminais”, que para mim resume bem a mudança de pensamento da sociedade do século XXI. “Menos do que morrer com a sensação do nome limpo e do dever cumprido, morre-se com a sensação de um ego insatisfeito.”. Vivemos agora numa sociedade onde o mais importante para se atingir a felicidade é aproveitar os “prazeres da vida”. E todos nós somos influenciados por isso. Me vejo naquele exemplo de Zizek, em que o pai se orgulha por seu filho se ele se relaciona com várias mulheres, ou se decepciona se ele parece não conseguir tal “feito”. Me lembro, por exemplo, de uma época da minha adolescência em que eu passei a gostar muito de ficar em casa nos fim de semana e ficar lendo. Meu pai constantemente viria me dizer, “você tem que sair mais, curtir mais”. E aí, apesar de gostar daquilo que fazia, me sentia, de alguma forma, culpado por não estar “curtindo” mais a vida. Também lembro de um amigo meu, quando contei pra ele que tinha virado vegetariano e que não ia mais beber(bebidas alcoólicas, claro). Ele dizia pra mim, “você é louco, eu jamais faria algo como isso. Se eu to nessa vida é pra aproveitar os prazeres que ela me dá”. Ou seja, realmente somos pressionados a gozarmos o máximo possível desses prazeres. Como Bauman diz, não conseguimos mais pensar em projetos de vida, em sacrificar um prazer aqui para ter algo melhor mais à frente. Isso parece ser ideia de alguém que não aproveita a vida que lhe foi dada.
Talvez isso se dê porque hoje nós abominamos os conceitos antigos da igreja, que diziam que devemos sacrificar nossos prazeres por uma vida melhor após a morte. Hoje percebemos que o que mais importa é ser feliz em vida, e por isso queremos aproveita-la, e ser feliz agora. Ou também pode ser uma forma de fugir daquele modo de vida que Freud trouxe em “o mal-estar na civilização”, onde reprimíamos nossos desejos o tempo todo. Agora vivemos o oposto disso, parece que ainda não encontramos um equilíbrio no nosso modo de viver.
Daí então, nos forçamos a parecer felizes o tempo todo para os outros. O grande exemplo para isso é o Facebook. Queremos o tempo todo postar mensagens bonitas, mostrando para os outros nosso modo de ser feliz, que eles deveriam aprender, ou colocar fotos em lugares legais, onde estamos sorrindo. E mesmo apesar de reconhecer isso, às vezes inconscientemente me vejo caindo nesse padrão. Nesses dias apareceu uma foto minha com alguns amigos onde todos apareciam sorrindo, menos eu, que por algum motivo apareci com uma expressão séria. Minha primeira reação, quase que instintiva, foi querer retirar aquela foto da minha página, mesmo sem nem racionalizar o motivo para aquilo. Parando para pensar, percebi então, que, na verdade, estava me sentindo mal porque não estava parecendo estar feliz para os outros. Bom, resolvi deixa-la, claro. Não quero me importar com o pensamento dos outros tanto assim.
E então penso, seria o nosso consumo excessivo um reflexo ou um produtor de tal pensamento? Porque somos impulsionados o tempo todo, principalmente através das propagandas, a consumir o máximo possível produtos que nos darão prazer ou nos pouparam esforços para algum trabalho. A resposta eu não sei. Provavelmente, ambos. Será que será o próximo passo da sociedade encontrar esse equilíbrio entre o prazer e o sacrifício? Pessoalmente, acredito que sim, mas é apenas um palpite misturado com esperança.




Nenhum comentário:

Postar um comentário