segunda-feira, 4 de março de 2013

Alguns conceitos para entender melhor o texto de Suely Rolnik


Alguns conceitos para entender melhor o texto de Suely Rolnik

Retirado de ROLNIK, Suely. Cartografia sentimental – transformações contemporâneas do desejo. Porto Alegre: Sulina/Editora UFRGS, 2011.

Desejo: “consiste no movimento de afetos e de simulação desses afetos em certas máscaras, movimento gerado no encontro dos corpos (...) consiste também num movimento contínuo de desencantamento, no qual, ao surgirem novos afetos, efeito de novos encontros, certas máscaras tornam-se obsoletas; movimentos de quebra de feitiço; afetos que não existem e máscaras que já perderam o sentido” (p. 36)

Existem 3 movimentos do desejo.

Primeiro movimento/linha: “o dos afetos, estes não surgiam de nenhuma espécie de individualidade dos corpos. A própria palavra afetar designa o efeito da ação de um corpo sobre o outro, em seu encontro. Os afetos, portanto, não só surgiram entre os corpos – vibráteis, é claro – como, exatamente por isso, eram fluxos que arrastavam cada um desses corpos para outros lugares, inéditos: um devir, ou seja, o que as linhas de fuga faziam na vida das nossas personagens era, exatamente, desindividualizá-las” (p. 57)

Segundo movimento/linha: “o da simulação, era mobilizado pela perda de sentimento de uma certa figura de mulher, bem como de suas relações amorosas com o homem. Tratava-se de um movimento de semiotização dos afetos desterritorializados: um impulso de atualização de uma nova figura de mulher e suas relações amorosas. As máscaras resultantes desse movimento, operadores que era dos afetos atuais, constituíam – e constituem -, literalmente, as máscaras do tempo. Elas são transubjetivas” (p. 58)

Terceiro movimento/linha: é quando formava-se um aglomerado de máscaras, constituindo novos territórios. E território, no caso, não tinha nada a ver com nem com terra – circunscrição geográfica – nem com grupo – circunscrição de pertencimento. Território, ali, designava máscaras, rituais, balizas de cartografia (...), configurações mais ou menos estáveis que atravessam terras e grupos os mais variados: são transversais, transculturais” (p. 58).

“Às vezes pode-se dizer que as linhas são apenas duas (...): uma linha molecular, inconsciente, invisível, ilimitada, desestabilizadora, nômade, traçada pelas partículas soltas de afeto (...) e uma linha molar, consciente, visível, limitada, feita de estabilidade relativa da segmentação flexível que a simulação vai riscando em sua migração e da segmentação dura dos territórios em seu sedentarismo” (p. 53).

Micro-política e Macro-política: “não tem nada a ver com o “grande” (a sociedade, o Estado...o todo) e “pequeno” (o individual, o intraindividual, o grupal...a parte, a unidade). Não se trata de uma diferença de grau, mas de natureza. Não se trata de uma diferença de tamanho, escala ou dimensão, mas de duas espécies radicalmente diferente de lógica. “Macro” é a política do plano concluído pela terceira linha, do plano dos territórios: mapa. (...) Mapa só cobre o visível. Aliás, de todo o processo de produção de desejo, só nesse plano há visibilidade: é o único captável a olho nu. Também só nesse plano é que individuação forma unidades e a multiplicidade, totalizações. Como havíamos dito, a segmentação operada por essa linha vai recortando sujeitos, definidos por oposições binárias do tipo homem/mulher, buguês/proletário, jovem/velho, branco/negro etc” (p. 59 e 60)

“”Micro” é a política do plano gerado na primeira linha: cartografia. O princípio da individuação, neste caso, é inteiramente outro: não há unidades. Há apenas intensidades, com sua longitude e sua latitude; lista de afetos não subjetivados, determinados pelos agenciamentos que o corpo faz, e, portanto, inseparáveis de suas relações com o mundo” (p. 60)

Cartografia: “A prática de um cartógrafo diz respeito, fundamentalmente, às estratégias das formações do desejo no campo social” (p. 65). “O que ele quer é mergulhar na geografia dos afetos e, ao mesmo tempo, inventar pontes para fazer a sua travessia: pontes de linguagem” (p. 66)

Corpo vibrátil: é a capacidade subcortical de nosso corpo. Nosso corpo tem duas capacidades. A cortical, “que corresponde a percepção que nos permite apreender o mundo em suas formas para, em seguida, projetar as representações de que dispomos, de modo a lhes atribuir sentido”. A subcortical, “que por conta da repressão nos é mais desconhecida, nos permite apreender a alteridade em sua condição de campo de forças vivas que nos afetam e se fazem presentes em nosso corpo sob a forma de sensações. (...) Com ela, o outro é uma presença que se integra à nossa textura sensível, tornando-se, assim, parte de nós mesmos” (p. 12)

Um texto disponível na net onde o conceito de corpo vibrátil está explicado pode ser lido em http://www.pucsp.br/nucleodesubjetividade/Textos/SUELY/Geopolitica.pdf

Esse texto acima é quase o mesmo do prefácio publicado na nova edição de Cartografia sentimental.

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