Alguns conceitos para entender melhor o texto de Suely
Rolnik
Retirado de ROLNIK, Suely. Cartografia sentimental –
transformações contemporâneas do desejo. Porto Alegre: Sulina/Editora UFRGS,
2011.
Desejo: “consiste no movimento de afetos e de simulação
desses afetos em certas máscaras, movimento gerado no encontro dos corpos (...)
consiste também num movimento contínuo de desencantamento, no qual, ao surgirem
novos afetos, efeito de novos encontros, certas máscaras tornam-se obsoletas;
movimentos de quebra de feitiço; afetos que não existem e máscaras que já
perderam o sentido” (p. 36)
Existem 3 movimentos do desejo.
Primeiro movimento/linha: “o dos afetos, estes não surgiam de
nenhuma espécie de individualidade dos corpos. A própria palavra afetar designa
o efeito da ação de um corpo sobre o outro, em seu encontro. Os afetos,
portanto, não só surgiram entre os corpos – vibráteis, é claro – como,
exatamente por isso, eram fluxos que arrastavam cada um desses corpos para
outros lugares, inéditos: um devir, ou seja, o que as linhas de fuga faziam na
vida das nossas personagens era, exatamente, desindividualizá-las” (p. 57)
Segundo movimento/linha: “o da simulação, era mobilizado
pela perda de sentimento de uma certa figura de mulher, bem como de suas
relações amorosas com o homem. Tratava-se de um movimento de semiotização dos
afetos desterritorializados: um impulso de atualização de uma nova figura de
mulher e suas relações amorosas. As máscaras resultantes desse movimento,
operadores que era dos afetos atuais, constituíam – e constituem -,
literalmente, as máscaras do tempo. Elas são transubjetivas” (p. 58)
Terceiro movimento/linha: é quando formava-se um aglomerado
de máscaras, constituindo novos territórios. E território, no caso, não tinha
nada a ver com nem com terra – circunscrição geográfica – nem com grupo –
circunscrição de pertencimento. Território, ali, designava máscaras, rituais,
balizas de cartografia (...), configurações mais ou menos estáveis que
atravessam terras e grupos os mais variados: são transversais, transculturais”
(p. 58).
“Às vezes pode-se dizer que as linhas são apenas duas (...):
uma linha molecular, inconsciente, invisível, ilimitada, desestabilizadora,
nômade, traçada pelas partículas soltas de afeto (...) e uma linha molar,
consciente, visível, limitada, feita de estabilidade relativa da segmentação
flexível que a simulação vai riscando em sua migração e da segmentação dura dos
territórios em seu sedentarismo” (p. 53).
Micro-política e Macro-política: “não tem nada a ver com o “grande”
(a sociedade, o Estado...o todo) e “pequeno” (o individual, o intraindividual,
o grupal...a parte, a unidade). Não se trata de uma diferença de grau, mas de
natureza. Não se trata de uma diferença de tamanho, escala ou dimensão, mas de
duas espécies radicalmente diferente de lógica. “Macro” é a política do plano
concluído pela terceira linha, do plano dos territórios: mapa. (...) Mapa só
cobre o visível. Aliás, de todo o processo de produção de desejo, só nesse
plano há visibilidade: é o único captável a olho nu. Também só nesse plano é
que individuação forma unidades e a multiplicidade, totalizações. Como havíamos
dito, a segmentação operada por essa linha vai recortando sujeitos, definidos
por oposições binárias do tipo homem/mulher, buguês/proletário, jovem/velho,
branco/negro etc” (p. 59 e 60)
“”Micro” é a política do plano gerado na primeira linha:
cartografia. O princípio da individuação, neste caso, é inteiramente outro: não
há unidades. Há apenas intensidades, com sua longitude e sua latitude; lista de
afetos não subjetivados, determinados pelos agenciamentos que o corpo faz, e,
portanto, inseparáveis de suas relações com o mundo” (p. 60)
Cartografia: “A prática de um cartógrafo diz respeito,
fundamentalmente, às estratégias das formações do desejo no campo social” (p.
65). “O que ele quer é mergulhar na geografia dos afetos e, ao mesmo tempo,
inventar pontes para fazer a sua travessia: pontes de linguagem” (p. 66)
Corpo vibrátil: é a capacidade subcortical de nosso corpo.
Nosso corpo tem duas capacidades. A cortical, “que corresponde a percepção que
nos permite apreender o mundo em suas formas para, em seguida, projetar as
representações de que dispomos, de modo a lhes atribuir sentido”. A
subcortical, “que por conta da repressão nos é mais desconhecida, nos permite
apreender a alteridade em sua condição de campo de forças vivas que nos afetam
e se fazem presentes em nosso corpo sob a forma de sensações. (...) Com ela, o
outro é uma presença que se integra à nossa textura sensível, tornando-se,
assim, parte de nós mesmos” (p. 12)
Um texto disponível na net onde o conceito de corpo vibrátil
está explicado pode ser lido em http://www.pucsp.br/nucleodesubjetividade/Textos/SUELY/Geopolitica.pdf
Esse texto acima é quase o mesmo do prefácio publicado na nova edição
de Cartografia sentimental.
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